Entre os anos 1930 e 1950, Hollywood contou dezenas de histórias de policiais cínicos e durões enfrentando mafiosos poderosos e cruéis que dominam cidades decaídas. Nessa época, o filme noir preenchia a tela do cinema mais com sombras do que com luzes.
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Caça aos Gângsteres (2013) tenta filiar-se a essa tradição, uma das mais memoráveis do cinema – o filme, porém, não vai além do pastiche, aquém do filão que vampiriza e da qualidade do seu elenco.
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O policial que entra em cartaz hoje, na Capital, tem direção de Ruben Fleischer, realizador que debutou em longas com Zumbilândia (2009) – divertida comédia de horror que antecipou a atual invasão de zumbis na cultura pop. Em Caça aos Gângsteres, o diretor retorna ao cinema de gênero, filmando um romance do escritor Paul Lieberman. No entanto, em vez de brincar com as referências como fez em sua estreia, Fleischer preferiu desta vez simplesmente replicar as convenções e os clichês dos policiais da chamada “série negra”.
A trama se passa em 1949, em Los Angeles, cujo submundo é dominado pelo ambicioso gângster Mickey Cohen – personagem verídico, interpretado com assustadora ferocidade por Sean Penn. Ex-boxeador e chefe da máfia judia, Cohen está por trás do tráfico de drogas e da prostituição na cidade, mantendo no bolso boa parte da polícia e dos juízes locais. A influência do violento bandido cresce tanto que o chefe de polícia Parker (Nick Nolte) decide criar uma equipe especial e secreta, com o objetivo de desarticular no muque a rede de negócios ilícitos de Cohen – que está prestes a dominar também todas as apostas ilegais feitas a oeste de Chicago.
Convocado a liderar esse esquadrão de elite, o incorruptível sargento John O’Mara (Josh Brolin) seleciona um time heterogêneo: um veterano com jeitão de caubói (Robert Patrick) e seu jovem parceiro de origem mexicana (Michael Peña), um dedicado policial negro (Anthony Mackie), um especialista em escutas eletrônicas (Giovanni Ribisi) e o boa-pinta Jerry Wooters (Ryan Gosling), colega marrento de O’Mara que flana à vontade entre a marginália.
Ao mesmo tempo em que o grupo de homens da lei pisa nos calos do vilão, quebrando na surdina cassinos, bordéis e boates do rei do crime, Wooters flerta ainda mais com o perigo ao envolver-se com a pequena de Cohen – a bela ruiva Grace Faraday (Emma Stone).
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Em busca por evocar alguma bossa, Caça aos Gângsteres joga na coqueteleira ingredientes de outras receitas mais recentes: a unidade de corajosos policiais que não se mixam diante da contravenção lembra Os Intocáveis (1987), a dobradinha tira brucutu/tira malandro copia a fórmula de Los Angeles – Cidade Proibida (1997), a curvilínea mulher fatal de vestido vermelho remete à diva desenhada de Uma Cilada para Roger Rabbit (1988).
Diferentemente de todos esses títulos, porém, o drinque de Caça aos Gângsteres não desce redondo: os personagens são apenas caricaturas canhestras dos tipos que habitam o universo noir, movimentando-se em um enredo óbvio que tenta compensar a ausência de charme com tiroteios e pancadarias ultraviolentas. Os bons atores até que se esforçam em dar credibilidade a seus papéis rasos – especialmente o trio Penn, Brolin e Gosling -, mas Caça aos Gângsteres preferiu gastar tudo em elenco e economizou no roteiro. O resultado é falso como uma nota de três dólares.