Inteligente, calmo, inquieto e muito curioso. É assim que o treinador Manoel Dalpasquale, mais conhecido como Maneca, descreve um dos ex-alunos da escolinha de futsal onde ele trabalhava em Jaraguá do Sul, por volta de 1995. Mais tarde, este aluno se transformou em um dos grandes laterais brasileiros de todos os tempos. Agora, o jogador volta a aprender com o ex-treinador para deixar um legado como o técnico Filipe Luís.

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Aos 38 anos, Filipe foi anunciado como técnico do sub-17 do Flamengo, após a aposentadoria como jogador de futebol, no fim do ano passado. Mas o anseio por entender as táticas e como desenvolver treinos já vem desde os 10 anos, quando ele treinava com o Maneca.

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— Eu sempre fui um cara muito curioso. Sempre questionava muito as coisas do Maneca, de todos os treinadores que eu tive. A partir do momento que eu comecei a me imaginar como treinador, quando tinha uns 28 anos, comecei a conversar com ele e fazer muitas perguntas para me desenvolver. Hoje eu consigo identificar coisas que ele me treinava no meu jogo — afirma Filipe Luís.

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Até os 14 anos, o campo não era o foco do jovem canhoto com ótimo passe e visão de jogo. Antes de mostrar os maestros lançamentos e correr pela beira do campo, Filipe estava desenvolvendo o domínio, o pisar na bola e o “ganchinho”, mas, principalmente, aprendendo sobre o esporte.

— Ele sempre foi curioso para saber como as coisas aconteciam na quadra. A formação, a técnica de jogo, elementos táticos, movimentações, as regras de defesa. O Filipe sempre quis entender o por quê era daquele jeito. Isso só foi se desenvolvendo com o passar do tempo — conta Maneca.

Filipe Luís e Maneca durante atividade no Centro Esportivo (Foto: Manoel Dalpasquale, Arquivo Pessoal)

— Eu treinava com eles a movimentação de toque-sai diagonal, toque-sai paralela, e ele era o nosso melhor passador de bola diagonal. Sempre foi muito inteligente para jogar — descreve o treinador.

Inteligência essa que lhe rendeu títulos como a Liga Europa da UEFA, Premier League, Copa Libertadores da América, Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil, Copa América e tantos outros durante a carreira. Porém, nunca deixou de ter contato com o antigo treinador.

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Contato que permanece até hoje, com ensinamentos, dicas e conselhos. Maneca tornou-se mais do que o primeiro treinador de Filipe. Definido por ele mesmo como “o melhor para ensinar e desenvolver crianças”, recebeu o convite de comandar as atividades no Centro Esportivo Filipe Luís, construído para descobrir novos talentos em Jaraguá e região. Mais do que cuidar das atividades esportivas de Filipe em Santa Catarina, Maneca é fundamental para essa transição do jaraguaense de jogador para treinador.

— O Maneca não só contribuiu como continua me dando dicas até hoje. Eu tenho uma gratidão muito grande por ele. Transformou minha vida. Ele fez eu ser um jogador fora de série saindo da mão dele em Jaraguá do Sul. Eu acho que ele é o melhor mesmo — afirma Filipe.

Em 2018, Filipe Luís deu o pontapé inicial em um jogo do Jaraguá Futsal (Foto: Mauricio Moreira)

Por outro lado, Dalpasquale também crê no sucesso do ex-pupilo, e acredita que o anseio por treinar já estava em Filipe desde criança.

— Eu acho que ele vai ser um ótimo técnico. Já tinha um despertar dentro dele nessa curiosidade tática. A cada treinador que ele teve na carreira, foi despertando isso nele, e eu acho que ele forjou um cara quase pronto para ser treinador. Está bem encaminhado para ser um ótimo técnico no futebol profissional — conta Maneca.

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Veja fotos da despedida de Filipe Luís como jogador do Flamengo

Os primeiros passos como técnico

Para se tornar um treinador de futebol, não basta apenas querer. Filipe precisou passar por algumas etapas. Uma delas foi concluir o curso de “Licença B” na Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que permite que ele treine times de base, como inicia agora no Flamengo.

Mas para treinar times profissionais, Filipe está concluindo a Licença A, da CBF, e também a Licença PRO, exigida pela CONMEBOL para as competições da entidade.

Para conseguir concluir, ele terá que fazer o trabalho de conclusão de curso, chamado AOT, que consiste em fazer um trabalho de observação em algum clube e fazer um relatório sobre o que foi observado. O tempo de trabalho é de quatro meses, e o de correção, um mês.

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Filipe Luís recebe o certificado do curso para técnico (Foto: Valentina Rêgo Monteiro, CBF Academy)

Pelo Flamengo, onde inicia a carreira de treinador, foram 176 partidas e 11 títulos conquistados. Para ele, recomeçar no clube do coração é um privilégio.

— O meu primeiro passo é começar na base, para poder me desenvolver, criar toda minha metodologia, ver até onde eu posso chegar na melhoria de um jogador. Depois que eu estiver preparado, aí eu penso em dar o salto, para poder demonstrar que o meu trabalho vai fazer a diferença. Por isso que eu escolhi realmente começar aonde eu devo começar — disse.

Por ora, o ex-jogador só vai comandar os garotos do Ninho até 17 anos. Mas se fosse possível, quem ele escolheria do elenco profissional para o ajudar na equipe?

— Se pudesse escolher, o Gerson. É um jogador muito completo, que ataca, defende, joga em várias posições, um líder. Acredito que seria o jogador que mais poderia fazer a diferença no meu time — afirma Filipe.

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A relação com Jaraguá do Sul e região

Nascido em Jaraguá do Sul, Filipe Luís deixou a cidade ainda na menoridade, para realizar o sonho de ser jogador profissional. Lá, deixou família e amigos, que o fazem visitar quase todos os anos durante as férias. 

— Eu ia sempre todos os anos, mas desde a pandemia eu não consegui mais ir, porque o calendário brasileiro espremeu. Quando eu vou para Jaraguá, gosto muito de ir na casa da minha vó, em Massaranduba, gosto de rever os meus amigos e meus primos — disse.

Junto da família, tem a gratidão pelo clube em que passou boa parte da infância e adolescência treinando com o professor Maneca: o Jaraguá Futsal.

— Sempre que o Jaraguá Futsal joga e passa na TV, eu assisto. No futebol de campo, sempre que eu posso, tento ver o Figueirense — revela.

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Mas é na cidade, localizada no Norte de Santa Catarina, que o ex-jogador mantém um projeto esportivo, voltado para crianças e adolescentes praticarem o esporte e, talvez dali, sair o próximo Filipe Luís.

Durante o dia, o Complexo Esportivo funciona como escolinha de futebol e tem comando do professor Maneca. 

— Eu acredito que ele pode transformar a vida de mais jaraguaenses, mais joinvilenses, mais pessoas de Guaramirim, Blumenau e toda a região. O meu grande objetivo é que saia mais jogadores da região — afirma Filipe Luís.

Construída no bairro São Luís, o investimento somou um milhão de euros na época da inauguração, em novembro de 2019. A área, de sete mil metros quadrados, conta com três campos de grama sintética, uma de futevôlei e uma de beach tennis. Ainda, abriga dois restaurantes, sendo um ao ar livre, e seis quiosques com bar e churrasqueira para o público.

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Filipe acompanha treino dos pequenos na Escolinha (Foto: Reprodução, Redes sociais)

*Sob supervisão de Diane Ziemann

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