É um trecho de Animais, conto de Michel Laub publicado na revista Granta:

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“Meu pai me ensinou a dirigir, nadar, usar solda, montar uma caixa de luz que dava para quatro lâmpadas a três metros de distância, e com isso montamos um trem fantasma na garagem de casa. Foi ele que me levou para tomar vacina tríplice. Foi com ele que andei de avião a primeira vez. Foi ele que abriu uma conta no banco para mim, e me ensinou as primeiras palavras de inglês, e trouxe as revistinhas de faroeste que me ajudaram pegar gosto pela leitura e mais tarde virar escritor.”

Ao longo das últimas semanas, Donna provocou seus leitores nas redes sociais a enviar histórias sobre seis dos ensinamentos mais elementares passados de pai para

filho. Apareceram dezenas de relatos. Alguns doces, como o das filhas do senhor que consertava brinquedos em Cruz Alta, outros dramáticos, como o do pai colorado que assistia ao filho flertar com o tricolor, e os inusitados, como o da menina de Novo Hamburgo que aprendeu com o pai a pilotar não só carro, mas avião.

Aos pais e filhos que se reconhem nos ensinamentos listados nesta edição de Dia dos Pais, boa leitura. Aos que ainda não se deram conta de que os elos mais vigorosos estão nas lições mais simples, fica um conselho: sempre há tempo de ensinar e de aprender.

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Fazer a barba

Curtia o subir e descer da cadeira gigante em frente ao espelho. Os pincéis redondos como rabos de coelho, fazendo cócegas na palma da mão. As tesouras e navalhas brilhando de tão proibidas. Mas a principal recordação da barbearia, em Rio Grande, é do inebriante cheiro de loção. Dos oito filhos de Niro Brongar, Bruno, 27 anos, foi o único a se interessar pelo ofício do pai e do avô.

– Ele era curioso, mas não muito agitado. Todos achavam aquele piá virado em cabelo e pernas uma figura – diverte-se Niro, 51 anos, mais de 20 no Salão Plaza, hoje revigorado com o crescimento econômico da região sul do Estado.

Foi por curiosidade que Bruno aprendeu a fazer barba. Mais do que os cortes de cabelo, o guri magricela achava fascinante a forma delicada de segurar a navalha e suave de deslizar o objeto sem machucar. Antes mesmo de poder testar no próprio rosto, o pai ensinou-lhe a técnica de passar a lâmina afiada pela superfície de uma bexiga bem cheia.

– Aprendi a manha do balão, mas logo cansei e comecei a treinar na minha perna mesmo – conta Bruno.

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Os primeiros clientes repassados a Bruno sob atenta supervisão paterna vieram na mesma época que os primeiros pelos no rosto. Niro mirou o buço e as suíças desformes do filho pré-adolescente, mas Bruno não deu ao pai o privilégio da primeira barba. Sozinho no salão, raspou ele mesmo e, com os cortes, aprendeu uma das lições da profissão: não se deve cortar tão rente a uma pele ainda sensível.

A barba que os dois lembram bem foi a primeira de Bruno em Niro. O pai se recuperava de um acidente de trânsito, em 2001, e pediu que o filho lhe fizesse o favor. Na inconformidade com uns pelinhos teimosos, Niro percebeu o nervosismo. Sensação que, nesse caso, não se reflete em tremedeira, mas em inquietação. Tratou de tranquilizá-lo:

– Relaxa Bruno, tu fazes barba melhor do que o pai.

Melhor do que Niro ou não, a lâmina de Bruno hoje passeia em Porto Alegre. Por Facebook, os dois trocam pareceres e macetes. Apaixonado por rituais, Bruno recomenda a todos sujeitarem-se pelo menos uma vez na vida às toalhas quentes de um barbeiro:

– Não há quem não diga “bá, que coisa boa”. É uma experiência de relaxamento, de retorno ao passado, de homem para homem.

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A mão segurando a navalha, afirma Bruno, é igualzinha a do pai. As diferenças começam pelos braços tatuados, sobem pelos alargadores de orelha e caem com a franja estilosa sobre a cabeça raspada. Em volta dele, as paredes coloridas da Thippos Leo Zamper em quase nada lembram o Salão Plaza. O que os dois locais tão diferentes compartilham, além do talento dos Brongar, é o incentivo a uma prática que exala luxo, saudosismo, mentol e prosperidade.

6 dicas – por Niro Brongar

– Sempre higienize e aqueça o rosto, para abrir os poros

– Prefira gel a espuma de barbear

– Nunca corte muito rente uma pele sensível

– Corte de baixo para cima e, depois, de cima para baixo

– Use loções pós-barba. Ajuda a cicatrizar e tem bom aroma

– Barba é como cabelo: há um corte certo para o seu rosto

Assar churrasco

Começava com um jogo. Passada mais de uma década, Fernanda Schmidt, 20 anos, e Mariana Schmidt, 19 anos, não se recordam mais de toda a resposta correta. Mas, dos dois itens indispensáveis, as irmãs lembram de cor e salteado:

– Coxão mole e costela.

Se acertavam os cortes e as quantidades corretas – e com uma ajudinha do pai, Ermes, elas sempre conseguiam -, o “prêmio” era irem sozinhas até o açougue no bairro Rondônia, em Novo Hamburgo, e comprar a carne para o churrasco de domingo. Atrás do balcão, os funcionários também sabiam o pedido de cor, mas prestavam atenção só para ouvir as duas fofuras repetindo.

O aprendizado do churrasco não veio em um dia específico. Salgar a carne, posicionar corretamente no espeto, enrolar uma garrafa com tiras de jornal para começar o fogo… Tudo isso foi absorvido pelas meninas com a mesma naturalidade com que ajudavam na horta, jogavam futebol, brincavam de lutinha. Essas coisas que esqueceram de avisar que eram “de guri”, e elas, portanto, esqueceram de dar bola. Só perceberam que tinham habilidades raras nos encontros com amigos de colégio e namorados.

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– Ah, eles se impressionam sim. Não é apenas raro entre as mulheres saber fazer churrasco. Hoje em dia é inusitado qualquer jovem dar bola para essa tradição – diz Mariana, orgulhosa.

Fernanda não tem certeza se segura um churras sem supervisão. Longe de casa, a estudante de jornalismo só se arriscou no salchipão. Mariana tem a chancela do pai:

– A mais nova se garante, sim. Faz uma costela tão boa quanto a minha.

Costela é o corte predileto e um símbolo dos churrasco dos Schmidt. Pode ser a pior ou a melhor carne, tudo depende da habilidade do churrasqueiro. A de Mariana fez com que ela apostasse no curso de Gastronomia. O plano, após a formatura, é estudar na Europa e voltar para abrir um restaurante.

– Nós incentivamos, mas é mérito todo dela. Ela faz de qualquer bolinho 1-2-3-4 uma iguaria – diz Ermes.

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Bolo 1-2-3-4, entenda-se, é uma xícara de margarina, duas de açúcar, três de farinha e quatro ovos. Vocabulário de uma família que surfa na cozinha. A mãe, Janine, não se engane, assa tão bem quanto o marido e as filhas. Todo domingo, no entanto, resigna-se à maionese. Ermes, por vezes, pergunta o cardápio desejado pelas filhas, mas é só para inflar o ego.

Como em toda família, nem tudo é felicidade. Os Schmidt já passaram por problemas financeiros, por problemas sérios de saúde, mas são mais motivos para Ermes reunir a família aos sorrisos em frente à churrasqueira:

– Tristeza e preocupação estraga a carne.

6 dicas – por Ermes Schmidt

– Compre sempre do mesmo açougue, com atendimento personalizado

– Você pode usar carvão, mas comece o fogo com lenha

– Use espetos longos, e não ponha mais de 60cm de carne

– Para mais de quatro pessoas, asse em tempos diferentes. Garante carne quente

– Coxão mole e costela são o melhor custo benefício no espeto

– Asse com carinho. Churrasco em clima de briga sempre sai errado

Torcer por um time

Com o tempo, passa. Vira corneta, até. Mas poucas tristezas calam tão fundas no homem, funda como a bola esquecida dentro da rede, quanto a de não compartilhar com o filho o que há de mais irrefutável no coração masculino: o sentimento pelo time.

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Para Octavio Augusto da Fontoura Neto, tudo era angústia. Via Bruno, o filho nascido colorado, mas com quem não morava desde a separação da mulher, seduzido pelo lado azul da força. O guri de 11 anos sofria uma influência tão semelhante a do pai que até o nome era quase igual. Otavio, irmão de Bruno por parte de mãe e 10 anos mais velho, já havia convencido o irmão a frequentar o Olímpico. Era a década de 90, e o Grêmio empolgava.

– Bem ou mal, aquilo era uma festa. Gente gritando, cantando. Enquanto no Beira-Rio era uma tristeza só. Me ocorria torcer pelo Grêmio, mas era só pensar no pai que passava – recorda Bruno.

O pai tinha lá seus trunfos. Se o irmão, estudante, levava Bruno para um canto atrás das goleiras do Olímpico, Octavio fazia do filho um príncipe do Beira-Rio. Almofada, comida e camisa do ano. Por vezes, a estratégia era fazer troça do próprio time. Em 1995, a diversão era rir das trapalhadas do zagueiro Jonílson e do lateral Marcão.

Gargalharam juntos, certa vez, quando o ala tentou uma arrancada sozinho e, de repente, a bola fugiu dos seus pés ganindo pela lateral.

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– A gente achava alguma coisa para se distrair. Quando o Inter não se ajudava, falávamos sobre aquelas coisas da vida que nunca temos a oportunidade – lembra Octavio.

O elo estabelecido ali só fez fortalecer. Mesmo com o Bruno trabalhando em Florianópolis, as cadeiras perpétuas compradas por Octavio seguem os lugares em que os dois – hoje aos 60 e 28 anos – se sentem sozinhos e à vontade. Seja na melancolia dos anos 90, seja entre 60 mil alegres colorados na década seguinte.

Com uma vitória, em 2008, Bruno melindrou a saudade antecipada, ao comunicar o pai de que passaria os dois anos seguintes na Austrália. Em 2010, com um semestre de antecedência, comprou a passagem de volta para as vésperas da final da Libertadores.

– O Inter vai estar lá e vamos ver o jogo juntos – previu Bruno, com precisão.

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Octavio não sabe dizer se Bruno seria torcedor do Inter não fosse por ele. Mas sabe dizer quando percebeu o que o filho sentia pelo clube. E não foi no furor apaixonante das taças. Foi antes, em 1999, após os 4 a 1 do Juventude que abortaram a Copa do Brasil.

Engarrafados na Avenida Beira-Rio, Octavio se sentia triste pelo Inter e arrasado pelo filho, de olhar vago e sem forças para a revolta. Mas também um orgulho estranho. Na decepção estampada no rosto de Bruno, o pai enxergou um sentimento que não aparece nas vitórias. Aquele amor que, de tão profundo, só se revela quando o coração se parte.

6 dicas – por Octavio Fontoura

– Faça do jogo um programa entre pai e filho

– Mime a criança no estádio. Por um tempo, o jogo pouco importa

– Fale sobre a história do clube, mostre que fases boas e ruins são cíclicas

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– Se o avô torcia para o mesmo clube, exalte a herança familiar

– Mostre o que o clube tem de diferente. Ser mais popular, por exemplo

– Reverta a corneta a seu favor, una-se em defesa do seu time

Consertar

As Barbies preferidas tinham as canelas quebradas. Ela gostava de ver a cola unir os pedacinhos de plástico. Melhor, só as bonecas tão danificadas que precisavam das peças de outras para virar uma nova. Os pequenos milagres operados nos fundos de casa maravilhavam Cibele. A menina veio ao mundo quando Ari Avendano já tinha 60 anos. Grudada ao pai enquanto a mãe, Clair, trabalhava fora como enfermeira, Cibele era o xodó de Ari. E Ari o xodó de Cruz Alta.

Referência no município em serviços gerais – chegou a trabalhar em uma residência da família Verissimo -, Ari ficou famoso, mesmo, quando começou a socorrer as crianças aflitas.

– Imagina, no final da década de 80, o tio que consertava os brinquedos da Estrela. Meu pai já era um artista, virou uma celebridade na cidade – recorda a filha Jaqueline, 20 anos mais velha do que Cibele.

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A família era simples. Os brinquedos de Jaqueline eram feitos pelo próprio Ari, talhados em madeira. Não importava que não tivessem comercial na tevê, vinham com toda uma história inventada por ele. Já Cibele teve o privilégio de brincar com os brinquedos alheios. Embora às vezes torcesse para que as crianças esquecessem de buscá-los (acontecia seguido), curtia mesmo era o desafio de consertar os estragados como ajudante do pai, com a maletinha de ferramentas que aprendeu a ter sempre à mão.

– Ele me fazia de ajudante. Era como brincar de médico, fazer os carrinhos de controle remoto voltarem à vida – lembra Cibele.

Enquanto a caçula se recorda da oficina, Jaqueline lembra também dos consertos na casa. Ela e o pai jamais depararam com um cano, uma fiação ou qualquer perrengue doméstico que não pudessem resolver em dupla. Graças ao pai, as irmãs – hoje, com 44 e 24 anos, respectivamente – são mais prendadas do que os parceiros.

– Outro dia, entrei em casa e estava tudo escuro. Encontrei meu namorado de lanterna, lutando com o chuveiro. Tive de dizer: “Ó, uma dica. Tem uma chave de luz só para o chuveiro. Não precisa nem desligar a luz do banheiro, o que dirá da casa inteira” – diverte-se Cibele.

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Era 1995, e o mundo mudou rápido. Após o Plano Real, as crianças livres da hipnose do videogame se distraíam com brinquedos chineses, quase descartáveis. A oficina do tio Ari deixou de ser procurada, e ele encontrou um emprego para complementar a renda. Prestativo como sempre, tinha 67 anos quando subiu no telhado da livraria para fazer um conserto e caiu.

Talvez em razão da morte do pai, Cibele jamais conheceu outra pessoa que tenha memórias tão vívidas dos primeiros sete anos de vida. Lembra com detalhes de Ari projetando O Rei Leão no cinema de Cruz Alta, e dela espiando o filme por um quadrado, em cima do banquinho. Memórias que guarda com o mesmo carinho com que ela e Jaqueline conservam suas caixas de ferramentas.

6 dicas – de Ari Avendano (por Jaqueline)

– Monte uma caixa de ferramentas, é útil e divertido

– Convoque um ajudante, simplifica qualquer tarefa

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– Preste atenção, as coisas mais simples exigem cuidado

– Não faça tarefa alguma de corpo molhado

– Só suba em escadas com alguém segurando

– Tenha sempre um plano B se o conserto der errado

Praticar esporte

“Camila… Camila…”

Quando a caçula acordava, sacudida pelo braço, a irmã, Lara, ainda se espreguiçava. Dali, o pai ia até o quarto dos guris. Com a mesma empolgação carinhosa, Thiago e Marcos, os dois mais velhos, eram tirados do quente das cobertas. O ritual se repetia cedinho a cada fim de semana. Nos primeiros minutos, os quatro irmãos ainda estavam um pouco emburrados e sonolentos, mas sabiam que com uns goles de chimarrão passava. Se não passasse, a animação do pai dava conta de contagiar os filhos.

Uma hora depois, Bruno José, a mulher, Helenita, e os quatro bacuris da família Ely já tomavam o calçadão de Ipanema, na zona sul da Capital. E da maneira errática e animada com que os Ely tomam os ambientes desde então. Uns correndo como o pai, outros de bicicleta, a cuia passando de mão em mão. Isso tudo e uma bola. De vôlei, de futebol, depende do esporte que um deles deu para praticar nos últimos meses.

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– Acho que o segredo pra tirar eles da preguiça foi esse. Incentivar que fizessem qualquer esporte que aparecesse! As gurias fizeram vôlei, ginástica artística. Os guris, judô, futebol. O Marcos surfava, o Thiago dançava… Importante era estarem fazendo uma atividade física – declara Bruno José, 65 anos, frenético, emendando uma informação na outra.

Dos quatro irmãos, nenhum tornou-se um esportista profissional. Alguns tiveram seus momentos. Marcos era um dos destaques do time de futsal infantil da AABB que ousava peitar os guris da Procergs, entre os quais brilhava um dentucinho de sobrenome Assis Moreira. Camila foi quem chegou mais perto de viver do esporte. Formada em Fisioterapia, ela cursa Educação Física.

– A gente pode não ter virado jogadores profissionais de nada, mas o esporte ensina muito. Eu, por exemplo, tenho uma tremenda facilidade em trabalhar em equipe – revela a caçula.

É pouca a diferença de idade entre os quatro irmãos – Thiago tem 33 anos, Marcos, 31, Lara, 27, e Camila, 24 – e os quatro se tornaram adeptos do esporte do século 21, aquele que requer somente um par de tênis e força de vontade: a corrida. O pai, por sua vez, estava em grande forma. Fez o melhor tempo da sua categoria na rústica promovida pela PUCRS, em que ensina Administração. Foi aí que Lara teve a ideia.

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No dia 3 de junho, um dia depois do aniversário do pai, os cinco Ely correram pela primeira vez juntos, em uma equipe de revezamento da Maratona Internacional de Porto Alegre. O filho mais velho, Thiago, fez questão de correr 10 km, os seus e outros cinco ao lado do pai. Bruno José foi o segundo a correr pela equipe, embora, todos saibam, tenha sido sempre ele a puxar a fila.

6 dicas – por Bruno José Ely

– Dê o exemplo, é a melhor forma de incentivar o esporte

– Deixe as crianças experimentarem diferentes modalidades

– Incentive outras atividades de liderança, como representante de classe e comissões de formatura

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– Torne o esporte um hábito familiar

– Reduza a carga se precisar, mas não pare. Voltar ao esporte é mais difícil

– Aproveite corridas para relaxar, não é hora de pensar em problemas

Pilotar

Ao abrir os olhos e ver o laranja dos raios de sol na janela, Angela Feijó jogava as cobertas para longe e levantava da cama furibunda. Saía da quarto indignada, choramingando por novamente não ter conseguido acordar a tempo de convencer o pai.

Ele fazia de propósito. A filha era tão obstinada que era preciso sair pé ante pé, às 4h30min, para não ter de contrariá-la mais uma vez. Não, claro que não podia levar a menina de sete, oito anos, no voo até Uruguaiana, onde trabalhava na aviação agrícola.

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Como é o nome do pai?

– Alceu. Alfa, lima, charlie, eco…

A aviação nunca saiu da vida de Angela, hoje com 33 anos. Na pista já fechada do Aeroclube de Novo Hamburgo, ao entardecer, não se conformou somente em assistir às lições de direção do pai para irmã mais velha, Cláudia. Aprendeu a dirigir em circunstâncias surreais para os tempos de hoje: assim que alcançou os pedais, manejou pela primeira vez a Parati quadrada. Supervisionada pela mãe, do hangar, e pelo pai, no banco do caroneiro, contava com a segurança de 700 metros de largura e 1,2 mil metros de comprimento de concreto.

– Olha, é difícil de dizer o que eu não aprendi com o meu pai no aeroclube. Eu aprendi a caminhar de mãos dadas com ele na pista. Lá eu nunca fui a Angela, fui sempre a filha do Feijó – conta.

Angela trabalha como comissária de bordo e já concluiu o curso preparatório para piloto. Espera estar voando como copiloto em dois anos, no máximo.

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– Não é só corujice, juro. Ela tem uma sensibilidade diferenciada para voar. A gente percebe na suavidade do pouso – relata Alceu.

Em atividade, aos 58 anos, o pai teve inúmeros voos para avaliar o talento da filha. Trata-se de um programa em família diferente, pois Alceu e Angela obedecem à máxima entre pilotos de que “quem voa não passeia”. A barulheira dos motores e a atenção para as condições de voo limitam um pouco a conversa, mas não diminuem a sensação de liberdade de sobrevoar o resto do mundo. Sensação que Angela se recorda bem da primeira vez em que, para que se aquietasse, o pai a colocou, aos 11 anos, no assento da esquerda.

– Hoje tu vais parar de incomodar e aprender alguma coisa.

– Eu pensei: “Meus Deus, está comigo” – diz Angela, repetindo o jargão entre piloto e copiloto.

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Apertando botões e sentindo a aceleração da aeronave rumo à decolagem, Angela não sabe dizer se o frio na barriga era de emoção ou somente a sensação física da mudança de altura. Distraída com a missão, não soube discernir a emoção da figura serena ao seu lado. As mãos segurando o manche. O Ray Ban segurando as lágrimas.

6 dicas – por Alceu Feijó

– Sobriedade sempre

– Prática leva à perfeição, se dirigir, dirija com frequência

– Respeite a legislação, ela existe por um motivo

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– Celular é mortal, na terra ou no ar, não atenda

– Dê manutenção ao seu veículo

– A aviação ensina o trânsito: menos risco, menos acidentes