O filho do jornalista Vladimir Herzog, Ivo Herzog, afirmou nesta terça-feira que o fotógrafo Silvaldo Leung Vieira foi “cúmplice” do regime que levou à morte de seu pai pela ditadura militar, em 1975, segundo informou o jornal Folha de S. Paulo.
Continua depois da publicidade
Vieira fotografou Herzog morto em uma sala do DOI-Codi paulista quando fazia treinamento para trabalhar no Instituto de Criminalística da Polícia Civil de São Paulo.
– Esse fotógrafo foi cúmplice de um momento terrível da história do Brasil, escolheu fazer o que ele fazia e permaneceu calado por muitos e muitos anos – disse Ivo Herzog, após depoimento de Vieira à Comissão da Verdade da Câmara Municipal de São Paulo.
Ivo criticou, segundo a Folha de S. Paulo, o fato de Vieira afirmar que sabia das torturas e assassinatos que eram praticados pelo regime repressor, mas não ter denunciado esses fatos.
– Há dois tipos de pessoas, aquelas que se calaram e aquelas que se voltaram contra a violência que acontecia naquela época. Ele (Vieira) é uma das pessoas que ficou calada. Ele foi conivente, ele foi cúmplice de um Estado violento e de um Estado criminoso – afirmou.
Continua depois da publicidade
Silvaldo Vieira afirma que não se sente cúmplice do regime, mas que se arrepende da opção que fez ao concorrer a uma vaga na polícia técnica. Na época, o fotógrafo tinha 22 anos e estava na segunda semana de um curso de fotografia do Instituto de Criminalística quando foi colocado à disposição do Dops e convocado para fazer a fotografia de Herzog.
Ao chegar ao local, afirma, encontrou a cena pronta, com o jornalista pendurado por um cinto pelo pescoço, mas com os pés tocando o chão, fato que disse ter achado “estranho”. O fotógrafo disse, segundo a Folha de S. Paulo, que não sabia quem era Vladimir Herzog quando foi levado para registrar a cena, e que achava que a missão fazia parte do treinamento.
Segundo Vieira, quando ele se deu conta da violência que era praticada pelo próprio regime, decidiu abandonar a corporação. Mesmo assim, ainda trabalhou no órgão por três anos, tempo que levou até conseguir juntar dinheiro para deixar o país. Em 1979, abandonou o serviço público e se mudou para Los Angeles (EUA), onde mora até hoje.
Vieira veio a São Paulo a convite da Comissão da Verdade da Câmara Municipal de São Paulo, que pretende esclarecer as circunstâncias da morte de Herzog.
Continua depois da publicidade