Estudar parece fácil. É só pegar os livros, os cadernos e se concentrar. Mas não é bem assim em todo lugar e Beatriz Alves sabe que, para garantir o sucesso na vida acadêmica, a equação é muito mais complexa. A menina, moradora do bairro Paranaguamirim, na zona Sul de Joinville, sempre foi boa em matemática, com o número dez preenchendo os espaços de todos os bimestres dos boletins durante o ensino fundamental. Era fácil e só um pouco mais de esforço a fazia terminar o ano com mérito em todas as matérias. Mas, se não estivesse disposta desde cedo a enfrentar alguns desafios, talvez terminasse o ano de 2016 como alguns amigos da vizinhança: sem entender muito bem como funcionam os vestibulares e a importância de fazer faculdade.

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Beatriz, no entanto, passará o Natal com um misto de alívio e ansiedade. Aos 16 anos, ela passou nos três vestibulares que tentou e se prepara para iniciar a faculdade de química na Universidade Estadual de Santa Catarina (Udesc) no ano que vem. A perspectiva também enche de orgulho e de lágrimas os olhos da mãe, Leila. Ela é cozinheira e o marido, Mauricio, é pedreiro. Foi com muito esforço que conquistaram uma boa casa para criar os cinco filhos. E a tenacidade do casal refletiu-se na filha do meio. Beatriz tinha apenas 11 anos quando conseguiu uma bolsa para cursar aulas em uma escola particular, por meio do Projeto Resgate.

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– Alguns alunos tiveram que fazer uma prova, mas, por causa das boas notas, eu só precisei fazer uma redação enviada pelo colégio – recorda Beatriz.

O ingresso no sétimo ano parecia um sonho até a escola informar que havia problemas no histórico escolar e a matrícula não seria aceita. Beatriz havia mudado de uma escola municipal para uma estadual no fim do primeiro ciclo do ensino fundamental, na mesma época em que ocorria a implantação do nono ano nas escolas, e um equívoco fez com que ela pulasse o quinto e fosse direto para o sexto ano. Para que não perdesse a bolsa de estudos, a mãe buscou ajuda em todos os lugares, até que a Secretaria de Bem Estar Social sinalizou o auxílio de um advogado. Sem passe de ônibus, Leila andou os sete quilômetros entre o Bucarein e o escritório de advocacia, no Costa e Silva e conseguiu uma ação para que a filha fosse mantida na escola.

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– O diretor disse que ela poderia sofrer por não acompanhar os outros alunos, que eram maiores, mas eu falei que, da mesma forma, ela poderia se superar – conta a mãe.

Beatriz se superou.

Passou direto em todos os anos e só encontrou dificuldades na socialização com os colegas que não eram bolsistas. Mas a jovem aguentou a pressão dos anos mais difíceis da adolescência sem dar bola para o preconceito. Quando chegou a hora do vestibular, correu atrás da documentação sozinha, conseguindo isenção nas taxas de inscrição para as quatro provas – três vestibulares e o Enem. Diante de tudo isso, não sentiu o peso do pessimismo em 2016: ela acordava às 5 horas para pegar o ônibus e passar o dia no colégio, confiando no poder dos estudos para realizar seus sonhos.

– Realmente, os estudos abrem portas para o futuro. Minha filha precisou de bolsa, mas os filhos dela não irão mais precisar, porque a educação move tudo – reflete a mãe.