O verão de Florianópolis promete ser de trânsito para turistas e moradores da Capital. Após três anos com poucas mudanças estruturais na mobilidade da cidade, a prefeitura ainda não possui planos e ações concretas para aliviar o fluxo de veículos nas principais vias da cidade até este domingo (11), faltando 10 dias para o início do verão. Para especialistas, os congestionamentos serão inevitáveis , mas seria possível melhorar o trânsito com ações de gerenciamento e políticas a favor do transporte público.

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Sete rodovias estaduais cortam 118 quilômetros da Ilha de Santa Catarina e são as principais rotas para chegar às praias. As estradas dentro da área urbana já costumam ser movimentadas ao longo do ano, mas o trânsito se torna muito mais intenso a partir de dezembro. Entre o feriado de Natal e o começo de janeiro, a população de Florianópolis chega a dobrar com a maior concentração de turistas na Capital, segundo a própria prefeitura. Além disso, pesquisas apontam que mais visitantes devem vir a Florianópolis na alta temporada após aumento de buscas nas plataformas digitais.

Apesar da responsabilidade sobre a infraestrutura das SCs ser do Estado, o papel do executivo municipal é garantir a gestão da mobilidade urbana, de acordo com Roberto Bentes Sá, presidente do Movimento Nacional de Educação no Trânsito (Monatran). No entanto, nenhum plano ou projeto para gerir a circulação de veículos de passeio durante a alta temporada foi apresentado para implementação ainda neste ano.

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A principal aposta da prefeitura, até o momento, é o incentivo ao uso do transporte público, principalmente nos fins de semana. Passageiros de ônibus terão gratuidade aos sábados e domingos nos meses de dezembro e janeiro para circular pela Capital. A medida visa diminuir o número de carros nas vias, que geralmente formam longas filas no período mais movimentado do ano.

Apesar da iniciativa positiva, o professor Bernardo Meyer, pesquisador em Mobilidade Urbana na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), avalia que a criação de faixas e pistas exclusivas de ônibus são necessárias para melhorar a eficiência do sistema de transporte coletivo e atrair mais usuários.

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— Com isso conseguiríamos tirar carros de circulação e reduzir os congestionamentos e a poluição urbana. Estamos deixando muito a desejar ao longo dos anos no que tange ao transporte público em nossa cidade, uma vez que ele não tem sido priorizado nas intervenções urbanas — aponta Meyer.

Na região Norte da cidade, a SC-401 é a rota para os principais balneários de Florianópolis, como Canasvieiras, Ingleses e Jurerê. Segundo a Polícia Militar Rodoviária (PMRv), os piores horários para se trafegar na rodovia são das 8h às 12h, no sentido praias, e das 15h às 19h, no sentido centro, durante os meses de verão. A via foi duplicada há mais de uma década e é o cenário dos maiores congestionamentos da Capital durante o verão há anos.

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O professor Arnoldo Debatin Neto, especialista em planejamento urbano e docente na UFSC, avalia que a rodovia que liga o Norte da Ilha à região central já está com sua capacidade operacional no limite. Isso acontece pois a SC-401 é a rota para atrativos turísticos, mas também para bairros residenciais e empreendimentos comerciais ao longo de sua extensão.

— O perfil dessas áreas mudou. Isso aumentou a densidade e a atratividade desses locais que, hoje em dia, além desses movimentos rotineiros, recebem um acréscimo de população de turistas nos meses de verão — explica o professor.

Planejamento para melhoras efetivas

Os problemas em cidades que recebem grandes fluxos de turistas em períodos concentrados e sazonais não são exclusivos de Florianópolis, segundo o professor Meyer. Ele afirma que dificuldades relativas a serviços públicos e disponibilidade de infraestrutura precisam ser enfrentadas com planejamento.

Para Neto, a mobilidade urbana é consequência da organização e investimento do poder público para o espaço urbano e, por isso, seriam necessárias ações de médio e longo prazo para melhorar a qualidade de vida da população e seus turistas.

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— As ações de planejamento precisam levar, em minha análise, dois aspectos principais em consideração: limitação territorial e preservação ambiental. O limite territorial irá fornecer dados que farão parte de um estudo de densidade demográfica, por exemplo. Ao lado disso, estudos de impacto ambiental definirão locais onde determinadas densidades podem ou não ser aplicadas. Pois, ao final, elas determinarão a manutenção da qualidade das praias e de todo o ecossistema que as mantém — pontua o professor de urbanismo.

No entanto, ele avalia que seria possível pensar em medidas a curto prazo para amenizar congestionamentos e oferecer melhores condições para motoristas nas estradas urbanas da Capital.

Possíveis soluções a curto prazo

Quando questionados sobre possíveis soluções a curto prazo para amenizar filas que se formam nas rodovias de Florianópolis, os especialistas enfatizaram o gerenciamento do trânsito.

— No cenário atual não há como evitar as filas, mas gerenciá-las onde for possível. Pode melhorar o fluxo de veículos na estrutura e dimensionamento atuais das vias, sobretudo da SC-401 — garante o professor Neto.

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O urbanista também cita que uma possibilidade é implementar a técnica de faixas reversíveis na principal rodovia do Norte da Capital. Ou seja, uma ou mais pistas poderiam ter o sentido de circulação invertido para o lado de maior demanda do trânsito e em horários de maior movimento. Além disso, seria possível oferecer linhas de transporte coletivo para outros pontos de interesse turístico, como para compras e atividades culturais, em horários diurnos e noturnos.

O professor Meyer enfatiza que o transporte público efetivo e de qualidade seria ideal. Mas, para isso, seria necessário criar pistas exclusivas de ônibus pela cidade.

Já para o presidente do Monatran, é preciso que haja mais fiscalizações dos órgãos de trânsito para coibir infrações que podem causar acidentes e piorar o cenário de congestionamentos.

Poucas melhorias nas estradas da Ilha de Santa Catarina

De acordo com o tenente-coronel Marcus Vinícius dos Santos, chefe do Estado-Maior do Comando de Polícia Militar Rodoviária (PMRv), apenas duas obras de infraestrutura foram feitas em Florianópolis nos últimos três anos, ambas no Sul da Ilha, e puderam ajudar na distribuição do fluxo de veículos.

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O elevado do Rio Tavares foi aberto para o tráfego de veículos em março de 2019. O objetivo da nova estrutura era diluir um dos maiores gargalos do trânsito da SC-405, por onde passam diariamente cerca de 55 mil veículos.

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Além dele, o novo acesso ao aeroporto, e também ao Sul da Ilha, foi inaugurado em setembro de 2019. No entanto, a via continuou em obras e recebeu melhorias, como iluminação permanente, ao longo dos meses seguintes.

Segundo o tenente-coronel da PMRv, as últimas obras nas rodovias da região Norte foram a duplicação da SC-403, nos Ingleses, e o elevado de Canasvieiras na SC-401. Porém, as duas estruturas foram entregues em 2015, há sete anos.

Fora da ilha, rodovias federais também terão fluxo maior

Além dos congestionamentos pelas regiões da Ilha de Santa Catarina, a parte continental de Florianópolis e região metropolitana também devem ter aumento do fluxo de veículos com a alta temporada. De acordo com Adriano Fiamoncini, chefe de comunicações da Polícia Rodoviária Federal (PRF), a BR-101 é a principal rota para os visitantes.

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— Vêm muitos turistas do Rio Grande do Sul e da Argentina que utilizam a BR-101 em São José, Biguaçu e Palhoça para chegar ao destino principal que é Florianópolis — afirmou Fiamoncini.

No entanto, obras concluídas no último ano devem auxiliar o trânsito, em comparação com a temporada passada. Segundo a PRF, a terceira faixa da BR-101, no sentido Norte, já desafogou bastante o trânsito diário de Palhoça e São José, mas também irá ajudar no fluxo do verão. A nova pista se estende do Km 15 até o Km 200. A terceira faixa no sentido Sul já existia em 2021.

O que diz a prefeitura de Florianópolis

O secretário de Mobilidade e Planejamento Urbano da Capital, Michel Mittmann, afirmou à reportagem que a prefeitura está elaborando propostas para melhorar o trânsito durante a alta temporada há semanas, mas que ainda não há uma decisão.

Os projetos precisam ser avaliados em reuniões com o prefeito Topázio Neto e a equipe do governo do Estado. Segundo o secretário, os encontros para avaliar as questões de mobilidade no verão ficaram comprometidos durante a situação de emergência por conta das chuvas em Santa Catarina.

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