Era para ser um gesto carinhoso. Samira, a gata de Isali Inez Müller, subiu no guarda-roupa e não queria mais descer. A auxiliar de cozinha pegou uma escada de alumínio e tentou resgatar o animalzinho de estimação de cima do armário. Na hora de descer, o pé escapou do terceiro degrau e Isali foi ao chão. Os familiares, que lhe faziam uma visita, viraram socorristas até a chegada dos bombeiros. De casa, foi levada ao Hospital Santo Antônio. Resultado? Fraturas na perna e no ombro esquerdos, cicatrizes e quase um ano de afastamento do trabalho.

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Como ocorre nos casos de trauma, o atendimento a Isali no período do acidente doméstico foi rápido. Apenas três dias se passaram entre a queda, no dia 21 de janeiro do ano passado, e a cirurgia, feita no dia 24. No pós-operatório, ficou três meses sem pôr o pé no chão. Hoje, mais de um ano depois, Isali já deveria parecer recuperada da fratura, mas ainda sente dificuldade ao caminhar e lida com um inchaço na região do tornozelo que dificulta afazeres do dia a dia.

Em 27 de setembro de 2016 Isali deu entrada em um pedido de cirurgia para a retirada dos 13 pinos e da placa colocados na perna operada. Desta vez a moradora do bairro Itoupava Norte figura em uma das listas em que os procedimentos nem sempre são alcançados com o mesmo ritmo dos traumas e urgências – a de cirurgias eletivas da ortopedia.

No dia 31 de janeiro deste ano, ela compareceu à policlínica, retirou um comprovante necessário para a perícia médica na Previdência Social e conferiu novamente a quantas andava sua situação: naquela data havia 530 pessoas na frente.

Pelo menos por mais cinco meses Isali permanecerá afastada da rotina na cozinha do restaurante em que trabalhava até janeiro do ano passado – algo que pretende retomar em breve.

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– Eles não dizem ao certo quando a gente vai conseguir a cirurgia, mas estou confiante que seja logo – conta a paciente.

Esta semana ela foi chamada a uma ressonância para avaliar o ombro, também atingido na queda. Como já não sente dores e diz estar recuperada, deve passar a vez a outro paciente.

– Eu queria mesmo era que desse para trocar um atendimento pelo outro – sugere.

Isali Inez Müller, 56 anos

Itoupava Norte

? Quadro: em recuperação após fratura na perna

? Aguarda por: retirada de pinos e placa

? Desde: 27/9/2016

? Posição: 498 (fila de 717 pacientes até quarta-feira)

? Panorama da fila: até meados de fevereiro eram 2.911 solicitações pendentes de operações ortopédicas. Cada procedimento tem uma fila, mas as mais concorridas são de pé e tornozelo (hoje com 717 pacientes), onde está Isali e na qual ocorrem em média oito cirurgias por mês, além de membros superiores (620) e mãos (455). O tempo de espera varia, mas chega a ficar acima de dois anos nas mais disputadas. Para a Secretaria de Promoção da Saúde, o principal fator para o gargalo das cirurgias de ortopedia é o alto número de emergências, muitas provenientes de acidentes de trânsito, que acabam provocando o cancelamento de procedimentos eletivos agendados.

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