O Brasil tem ao menos 1,1 milhão de procedimentos hospitalares represados por causa da Covid-19, segundo estudo realizado pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). O levantamento leva em conta atendimentos clínicos, cirurgias e exames em hospitais.
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Cirurgias do aparelho digestivo, da parede abdominal e de seus órgãos anexos, do sistema urinário, cardiovascular, vias aéreas, face, cabeça e pescoço lideram a lista.
O estudo foi realizado considerando a média de atendimentos, cirurgias e exames realizados entre 2014 e 2019 e os observados entre 2020 a maio de 2022, período em que há dados disponíveis e consolidados no SUS (Sistema Único de Saúde).
A fila do SUS tem sido um dos temas trabalhados pelo grupo de trabalho da saúde no governo de transição, que deve sugerir propostas no relatório final para tentar zerá-la.
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Diego Xavier, pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde da Fiocruz e um dos responsáveis pelo levantamento, ressalta que as informações podem ser bem maiores que as divulgados porque o estudo considerou dados hospitalares – não foram incluídos serviços ambulatoriais, por exemplo.
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Xavier diz que os tratamentos “represados” somados à continuidade do tratamento de síndromes pós-Covid trazem desafios adicionais ao SUS.
— A consequência dessa fila é ter doenças não tratadas em tempo hábil, podendo levar a complicações do quadro de saúde — destacou.
Um exemplo, segundo ele, é a queda dos atendimentos por glaucoma e catarata que seriam cirurgias eletivas e que, realizadas no momento oportuno, evitariam o agravamento da situação.
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— A doença quando não cuidada pode trazer a longo prazo impactos maiores e indiretos como a cegueira — diz.
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O estudo revela ainda que as regiões do país apresentam represamentos diferentes. No Nordeste e no Norte há um déficit, por exemplo, de consultas e de atendimentos, o que não ocorreu no restante do país. Em todas elas, os números de procedimentos cirúrgicos não se recuperaram.
Xavier explica que a diferença pode ocorrer por diversos motivos, como perfil demográfico e epidemiológico da população, estrutura do serviço e disponibilidade de especialidades.
O diagnóstico indica ainda que o represamento dos atendimentos no SUS deve ter influenciado nos óbitos da Covid-19. O quadro de desassistência em saúde não se limitou a agravos ligados diretamente à doença.
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— O indicador de excesso de mortalidade que dá uma dimensão mais real dos óbitos diretos e indiretos pela doença destaca que nos períodos em que ocorreu o maior volume de óbitos pela doença também foi o período com o maior volume de óbitos por outras causas — afirma Xavier.
*Reportagem de Raquel Lopes
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