Quando o avião do papa Francisco iniciava os procedimentos para o pouso no aeroporto do Rio de Janeiro, às 15h de segunda-feira, o aposentado José Carlos Costa, 65 anos, teve um estalo em sua casa, no município de São José dos Campos (SP).
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– Se fui a Aparecida ver os outros dois papas, por que não vou ver este?
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Costa tomou banho, fez um lanche rápido, colocou suas coisas no carro e disse à mulher que estava de saída para ver o Papa no Santuário Nacional, a 80 quilômetros de distância. Ela ainda tentou dissuadi-lo, argumentou que não havia necessidade de viajar com tanta antecedência.
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– Eu disse que, se é para ver o Papa, quero ver de pertinho, dentro da Basílica. Saí e deixei a mulher em casa, braba, chiando, brigando comigo – conta o aposentado.
No momento em que Francisco desfilava de papamóvel pelas ruas do Rio, pouco depois das 17h, Costa chegava à Basílica e descobria que era o primeiro da fila para obter uma das disputadíssimas 13 mil senhas que permitirão acesso à missa que o Papa celebrará na manhã desta quarta-feira.
No final da tarde de terça-feira, quando já somava 24 horas acampado no pórtico do Santuário, o aposentado era olhado com inveja pelos milhares de peregrinos que chegavam a uma Aparecida convulsionada, caótica, histérica e tomada por legiões de policiais e militares em razão dos preparativos para a visita do Papa. A fila para conseguir a senha estendia-se já por centenas de metros. Em meio a chuva e frio, os peregrinos à espera fizeram um cadastramento informal, cotizaram-se para comprar lonas e improvisar barracas, angariaram no comércio ao redor folhas de papelão para servir de cama na calçada.
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– Eu vou ao Rio, mas em Copacabana a missa será para 2 milhões de pessoas. Aqui é 12 mil. É praticamente vip – justificou André Luiz Krupp, 28 anos, que chegou de Volta Redonda (RJ) às 5h de ontem e garantiu um bom lugar na fila.
Enquanto o povo aguardava do lado de fora, no Santuário o ritmo era frenético. Ninguém corria tanto quanto o padre Domingos Sávio, reitor da Basílica. Nas duas últimas semanas, sob seu comando, 1,5 mil funcionários trabalham de forma alucinada para deixar tudo pronto. O que atordoava o padre ontem à tarde era a necessidade de entregar o templo à Polícia Federal até a meia-noite, para uma varredura.
– Para podermos trabalhar, tivemos de fazer uma coisa inédita, que foi cancelar a missa das 18h e antecipar a das 16h paras as 15h.
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A Arquidiocese de Aparecida e a reitoria do Santuário queriam que a missa fosse campal, do lado de fora, mas o Vaticano não aceitou, por razões de segurança. A Polícia Federal limitou o público no templo a 15 mil pessoas – 2 mil convidados sentados e 13 mil romeiros de pé. A capacidade normal é de 35 mil lugares. Uma massa estimada em mais de 200 mil terá de acompanhar a celebração apenas por telões.
– Lamento demais. O que dá vida ao Santuário
é o romeiro. Não desprezo autoridades e convidados, mas o romeiro é que tinha de ser privilegiado – queixou-se o reitor.
A agitação era tanta na cidade que, por volta das 16h, era virtualmente impossível circular livremente pelas ruas. Um caminho de dois quilômetros desenhado por gradis corria da Basílica até o Seminário Bom Jesus. Será por ali que Francisco desfilará de papamóvel depois da missa, para almoçar e repousar. Às 17h de terça-feira, quando a PF começava a chegar para assumir a segurança do local, ZH encontrou o cardeal Raymundo Damasceno Assis, arcebispo de Aparecida, indo da área onde fica a sua residência para o prédio principal, carregado de presentes para o papa, incluindo uma caixa de alfajores e uma placa de cidadão emérito da cidade.
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– Todo mundo telefona e diz que quer dar uma lembrança para o Papa. Explico que pessoalmente é impossível e peço para confiaram em mim, que providencio a entrega.