A sexta-feira foi muito importante para os muçulmanos que vivem em Joinville e região, não só porque ela é o dia sagrado para os fiéis, de descanso e adoração, mas porque foi a data da inauguração do primeiro Centro Islâmico de Joinville. O local é apenas mais uma sala no Centro da cidade, mas representa, com seus tapetes cobrindo o chão, um porto seguro para os moradores que seguem o islamismo e viviam a religião de forma solitária.

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Um deles era o empresário Arif Aboobakar. Depois de mudar para Joinville, onde abriu uma empresa de equipamentos industriais, ele chegou a deixar a cidade e viver em Florianópolis para poder estar em meio à comunidade muçulmana, já que há uma mesquita na Capital.

– Fui por causa da religião e porque queria dar um norte para minhas crianças também. Então, me deslocava para trabalhar em Joinville – recorda ele.

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O lado profissional fez com que ele precisasse retornar para Joinville, mas a intenção era voltar a viver em breve em Florianópolis. A decisão mudou após Arif conhecer outros muçulmanos na cidade e sentir-se incentivado a coordenar as primeiras reuniões. Ele abriu a própria casa para as orações em grupo, mas, depois de três encontros, percebeu que era hora de ter um local exclusivo.

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Até agora, oito famílias já estão em contato, mas a comunidade muçulmana na região é bem maior, apesar de não haver um balanço de quantos fiéis atuantes moram em Joinville. Segundo Arif, há árabes, egípcios, palestinos, sírios e senegaleses na cidade, mas apenas com a abertura do Centro Islâmico de Joinville será possível identificar a quantidade de muçulmanos.

– Em cidades com mesquita, as pessoas não são tão distantes porque às sextas-feiras elas se deslocam para se encontrar. Talvez em dois ou três meses, a gente saiba o número que tem em Joinville – afirma Arif.

Devido ao espaço, por enquanto haverá apenas uma sala de orações. A intenção é que, com o tempo e com mais fiéis aparecendo, a estrutura de uma mesquita seja necessária, da mesma forma que em outras cidades catarinenses, como Florianópolis, Criciúma e Lages.

A princípio, a sala de orações do Centro Islâmico de Joinville abrirá nas sextas-feiras, dia para as orações em grupo, e em datas especiais. Por enquanto, não haverá um xeque, que é o líder espiritual, e, por isso, o local não poderá ficar aberto todos os dias. Nas sextas-feiras, há também um sermão, que no Brasil pode ser feito em árabe e traduzido em português. O endereço é rua Timbó, 169, sala 2, no Centro.

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Sem medo de enfrentar o preconceito

Em Joinville, a esposa de Arif – que se converteu há sete anos – é uma das raras moradoras a circular pelas ruas com o véu cobrindo os cabelos e com roupas compridas, mesmo nos dias de calor. A vestimenta é a única característica que diferencia a família muçulmana das outras em público, já que rituais como as cinco orações por dia e o jejum durante o mês do Ramadã podem ficar na privacidade no dia a dia.

Em outros aspectos, apesar do estranhamento que a palavra pode causar no mundo ocidental, a prática da religião não tem nada a ver com a ideologia islamista.

– Minha esposa já chegou em lugares e ouviu as pessoas dizendo “lá vem a mulher-bomba”. O que é uma pena, porque demonstra a ignorância das pessoas – conta Arif.

Ele lembra que há registros de ataques terroristas provocados por diferentes países e culturas, e que é necessário separar o que é religião e o que é política. E que, segundo o Alcorão, não há incitação à violência, mas orientação de nunca atacar.

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– Islã quer dizer aslama, e aslama significa paz e submissão. Então, se você acredita em um Deus único, eu te abraço de coração – afirma.