O orgulho de Joinville pelos conterrâneos que entram no maior palco do Festival de Dança, o da Mostra Competitiva, para competir com grupos do país inteiro, pode ser entendido pela vibração da plateia quando as luzes do Centreventos Cau Hansen se acendem e revelam os adolescentes do Programa Dançando na Escola – Escola Municipal Governador Pedro Ivo Campos. As palmas confundem-se com as batidas ritmadas no chão e os gritos de ovação à medida que os bailarinos executam os passos de danças populares.

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Essa sensação já existe há 11 anos, desde que a Escola Pedro Ivo Campos começou a participar do Festival de Dança. O que era para ser apenas uma proposta de contraturno com atividades de artes, em um projeto que nasceu nas escolas municipais de Joinville na década passada, ganhou outras proporções nas mãos da coreógrafa Elisiane Wiggers. Várias escolas da cidade criaram grupos de dança dentro do programa e algumas até chegaram a dançar no Festival de Joinville e em outras competições. Mas nenhuma chegou aonde estes alunos do bairro Costa e Silva chegaram.

foto mostra bailarinos dançando a coreografia maracatu
Em 2008, quando conquistou o primeiro lugar pela primeira vez com “Maracatu” (Foto: Cleber Gomes, Arquivo AN)

Elisiane assumiu as aulas de dança na Escola Pedro Ivo Campos em 2005 e, em 2008, já na primeira inscrição, levou o grupo para a Mostra Competitiva do Festival de Joinville com a coreografia "Maracatu". Mesmo estreantes, levaram o primeiro lugar na categoria júnior de danças populares. No ano seguinte, o primeiro lugar veio com um Auto de Natal típico do Alagoas e de Pernambuco e, em 2010, novamente com "Guerreiro".

Desde então, a Pedro Ivo Campos nunca “desceu” do pódio do Festival. Em 12 anos, foram seis premiações em primeiro lugar, quatro em segundo lugar e uma em terceiro lugar. Em 2012, a escola e a coreógrafa foram indicados aos prêmio de revelação do evento.

Em 2019, não foi diferente. A coreografia "Parintins, É Festa de Boi Bumbá" aconteceu na primeira noite da Mostra Competitiva, em meio aos já tradicionais aplausos emocionados dos joinvilenses e da plateia de fora que incorpora a empolgação. Além de levantar o público, neste ano os joinvilenses conquistaram o primeiro lugar na categoria júnior de danças populares brasileiras, tornando-se heptacampeões.

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Como transformar adolescentes em campeões

A Pedro Ivo Campos não tem foco profissional, já que a maioria de seus integrantes são estudantes do Ensino Fundamental — alunos com 16 anos completos ou mais podem participar, até mesmo vindos de outras escolas, desde que não executem a parte principal da coreografia e não ultrapassem a cota de 30% do total do grupo. Eles fazem aulas e ensaiam, principalmente, para a participação no Festival de Dança.

Em 2013, com a coreografia
Em 2013, com a coreografia “Galantes” (Foto: Rodrigo Philipps, Arquivo AN)

Todos os anos, é só terminar o Festival de Dança que Elisiane já está planejando qual será a coreografia da edição seguinte. Ela precisa escolher um aspecto da cultura de uma determinada comunidade no Brasil e pesquisá-la a fundo para desenvolver a coreografia que represente o local de forma verdadeira. Ao mesmo tempo, começa o trabalho de "moldar" bailarinos em adolescentes que, na maioria das vezes, não tem nenhum conhecimento em dança.

— É difícil selecionar os alunos, porque alguns alunos nunca dançaram, outros já estão comigo há dois ou três anos. E os jurados e a plateia do Festival não querem saber se o bailarino tem dez anos de experiência em dança ou só alguns meses. São corpos que não vinham com histórico em dança e eu tenho menos de um ano para prepará-los e colocá-los no palco — afirma.

A coreografia de 2019, que foi vencedora da categoria júnior de danças populares brasileiras
A coreografia de 2019, que foi vencedora da categoria júnior de danças populares brasileiras (Foto: Nilson Bastian, divulgação)

O desafio é aliado à confiança de que os estudantes que integrarão essa companhia irão superar as dificuldades e assumir a responsabilidade de representar não só a própria escola, mas a cidade, na hora em que pisam no palco do Centreventos Cau Hansen. Os primeiros meses são apenas para preparação corporal, para só depois a coreografia começar a ser incorporada. do Alguns desistem no meio do caminho, mas, em 2019, 39 adolescentes chegaram ao Festival de Dança para conquistar o primeiro lugar.

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— Só o fato de pisar naquele palco já é que algo mágico, que todo bailarino almeja . A gente passa por um processo seletivo muito rigoroso, todas as coreografias que estão no palco principal passaram por um crivo muito específico, por jurados especialistas — analisa Elisiane.

Nos últimos dois anos, a categoria na qual a Pedro Ivo Campos concorre foi vencida por coreografias de sapateado irlandês, da escola de sapateado Sheilla's Ballet (SP). Em 2018, após as apresentações, os jurados conversaram com os grupos informando que havia uma possibilidade de, no ano seguinte, as danças populares serem divididas entre nacionais e internacionais, para garantir justiça na avaliação — mudança já aconteceu na edição de 2019.

— Eles mesmos comentaram que não acharam as premiações justas. O regulamento veio mudando também por causa disso. O Festival entendeu que é importante valorizar as danças populares brasileiras — afirma.Confira a programação completa do 37º Festival de Dança de Joinville.

Confira a programação completa do 37º Festival de Dança de Joinville