Em 2018, o Festival de Dança de Joinville caminhou ainda mais para dentro de um objetivo que pode não brilhar tanto aos olhos do público em geral, mas que faz sentido em uma análise da trajetória do evento e das últimas três décadas da dança brasileira: a de braço para formação de profissionais da dança no País. Sem Noite de Gala e com uma Noite de Abertura que, de certa forma, foi também um espaço para aplaudir aqueles que cresceram dentro do evento, do diretor aos bailarinos, o Festival de Joinville garante o espetáculo com seus próprios talentos enquanto oferece a eles capacitação e experiência de palco.

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Neste ano, o evento ofereceu 3.183 vagas em cursos — que foram do básico de balé clássico à gestão para escolas de dança —; sediou novamente um seminário com foco acadêmico; iniciou o projeto Work in Progress, em que participantes receberam ajuda de custo para passar duas semanas dedicados a um curso intensivo; inaugurou o Centro de Danças, um espaço específico para aulas e ensaios; e ofereceu mais uma vez a Estímulo Mostra de Dança, na qual grupos de destaque na Mostra Competitiva ganham espaço no Teatro Juarez Machado para apresentar um espetáculo completo. Tudo isso, somado à dupla Noite dos Campeões, uma novidade para valorizar o alto número de coreografias com excelência, já que 44 trabalhos foram premiados com primeiro lugar — dez a mais do que no ano passado — tornam o Festival um planeta que pode girar em seu próprio eixo.

Apesar disso, na parte que compete à vida real, o presidente do Instituto Festival de Dança Ely Diniz salienta que não é possível encarar o evento como uma ilha alheia ao resto do país e do mundo. Ainda que tenha conseguido manter o orçamento de anos anteriores, de cerca de R$ 5 milhões, houve patrocinadores desistindo na última hora e a organização precisou buscar mais patrocínios em cotas menores para completar os recursos necessários à realização do evento. O Governo do Estado participou com R$ 1 milhão, via Funcultural.

Além disso, houve uma perda também em número de participantes. Se em 2017 ocorreu um recorde, com 7.800 pessoas inscritas (sem incluir o número de público e visitantes), neste ano a estimativa é de que tenham sido 6.500 participantes.

— Ainda iremos fechar o número e tentar entender o que aconteceu. Mas temos que levar em conta a situação financeira do país, que, se não influenciou na venda dos ingressos, pode ter afetado na vinda de participantes. Afinal, não é barato vir para Joinville, e época do Festival é como alta temporada na cidade — analisa Ely Diniz.

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Em compensação, ele afirma que a 36ª edição foi de superação em qualidade artística, com elogios inéditos dos especialistas que compõem a curadoria e as bancas de jurados a respeito da técnica de luz e de som. Algo que, em 11 anos à frente da presidência do instituto, Ely perseguia com a equipe. A situação financeira também não prejudicou a venda de ingressos, com todas as noites atingindo pelo menos 3,9 mil pessoas.

A primeira reunião para avaliar os resultados do Festival de Dança de 2018 e planejar os primeiros passos para o evento em 2019 ocorre em setembro, entre diretoria do instituto e curadoria artística, agora com o coreógrafo e bailarino Rui Moreira assumindo uma cadeira ao lado de Ana Botafogo e Caio Nunes.

— Rui tem experiências na Europa e no Brasil com pesquisa em dança, e com certeza, irá contribuir para a discussão sobre os novos caminhos para o evento, sempre procurando ter mais envolvimento com a formação em dança — afirma Ely.