Um mundo de sons, cores, luzes e movimentos está prestes a começar. Uma vez por ano, a cidade muda de clima e de ritmo para receber milhares de pessoas nos dias em que sedia o tradicional Festival de Dança de Joinville.
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Cada vez mais, os organizadores deste megaevento esperam contagiar e envolver toda a população. Nesta edição, por exemplo, a equipe conta com o trabalho e as dicas de um deficiente visual e um auditivo _ tornando a experiência de viver a dança muito mais intensa para esse público.
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Em coletiva para a imprensa na manhã de ontem, o presidente do Instituto Festival de Dança, Ely Diniz da Silva Filho, o coordenador-geral do Instituto, Victor Aronis, e a gerente-geral do Complexo Centreventos Cau Hansen, Mara Beatriz Souza, apresentaram os principais pontos do evento que chega a sua 32ª edição nesta semana (entre 23 de julho e 2 de agosto). O grande investimento neste ano é em acessibilidade.
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Ely cita pequenas ações que podem fazer a diferença nesta edição. A bilheteria móvel é um exemplo. O veículo já percorreu alguns bairros de Joinville, facilitando a compra de ingressos pelos joinvilenses, com desconto de 20% nas entradas para as noites competitivas.
Na Casa da Cultura, aos sábados, está sendo realizado um curso de dança para surdos _ assim, além de assistir aos espetáculos, eles podem vivenciar de fato a arte da dança. Na Noite de Gala, um grupo de deficientes visuais vai assistir às montagens por meio de um especialista em audiodescrição.
Ainda haverá as apresentações na Penitenciária Industrial de Joinville, que já ocorreram em outros anos, e um grupo de detentos em regime semiaberto assistirá a uma noite de dança no Centreventos. Essa iniciativa visa a socialização dos apenados, como destaca a gerente do Centreventos Cau Hansen:
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– A cultura é inclusiva, ela salva, dá caminhos para quem não tem – reforça Mara Beatriz.
Segundo ela, o foco do Centreventos neste ano foi a segurança. Para isso, realizaram algumas adequações no espaço, como a instalação de sinalizações luminosas _ o que também favorece a acessibilidade.
Palcos abertos
Blumenau, Pomerode, Jaraguá do Sul e São Francisco do Sul também vão acolher apresentações em seus teatros, com apoio das prefeituras locais. Já fora do Estado, a Noite dos Campeões será levada novamente ao auditório Ibirapuera, em São Paulo, nos dias 14 e 15 de agosto, em parceria com o instituto Itaú Cultural.
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O Programa Curto-circuito, além disso, prevê que especialistas em danças de alguns gêneros _ principalmente os gêneros mais fortes em cada região _ promovam, durante três semanas, em finais de semana, aulas-residência com grupos participantes do Festival.
– Essa formatação ainda será finalizada durante o Festival de Dança, ouvindo os grupos que vão estar aqui, para ver a real necessidade deles, e a partir disso faremos os acertos. Nós já temos o caminho que nós queremos; agora é refinamento que vai acontecer durante o Festival – explica Ely, que concedeu uma entrevista exclusiva ao “AN” (confira ao lado).
A partir de hoje, cerca de 6 mil pessoas começam a desembarcar na cidade da dança. Em números, o Festival de Joinville é o maior do gênero no País e citado como maior do mundo no Guinness Book, em 2005.
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E de quarta-feira até 2 de agosto, serão 230 horas de espetáculos de balé neoclássico e de repertório, jazz, danças urbanas, sapateado, danças populares e dança contemporânea. Todas as 1.068 coreografias que integram a programação passaram pela seleção do conselho artístico, uma peneira que envolveu 2.461 trabalhos inscritos de 20 Estados brasileiros e do Paraguai e Alemanha.
Serviço?
O QUÊ: 32º Festival de Dança de Joinville.
QUANDO: de 23 de julho a 2 de agosto.
ONDE: complexo Centreventos Cau Hansen. Também há apresentações em espaços de Blumenau, Pomerode, Jaraguá do Sul e São Francisco do Sul.
QUANTO: ingressos de R$ 16 a R$ 120 (dependendo da localização dos assentos e atrações). Para a Noite dos Campeões, as vendas já encerraram. Para a abertura e Noite de Gala, há poucos lugares. Vendas na bilheteria do Centreventos, no www.festivaldedanca.com.br e na bilheteria móvel que circula pelos bairros (e garante o desconto de 20% para o Mostra Competitiva).
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Entrevista: Ely Diniz da Silva Filho, presidente do Instituto Festival de Dança
A Notícia – O Festival acaba de fazer mudanças na sua programação, como a criação da Estímulo Mostra de Dança. É uma forma de se alinhar às outras premiações e aos outros festivais de dança internacionais?
Ely Diniz – Alinhar o Festival de Dança com outros eventos internacionais é praticamente impossível. Isso daqui é como jabuticaba: só existe no Brasil. Não há eventos de dança que juntem todos os gêneros, como nós fazemos. Tem o festival de dança de Nova York, que é jazz; o festival de hip hop de Lyon; festival de dança flamenca; todos muito focados. Nós temos essa abrangência, é isso que dá o diferencial do Festival de Joinville. E, mais do que isso: com raras exceções, esses festivais que acontecem no verão do hemisfério Norte são voltados para grupos profissionais. Na premiação que damos para o melhor coreógrafo, indicamos ele para acompanhar a Bienal de Lyon, porque ela traz espetáculos do mundo inteiro voltados para coreógrafos e diretores com companhias profissionais. Quem ganha a medalha de ouro de coreografia vai para Lyon com todas as despesas pagas pelo Festival de Joinville. Nós trabalhamos com estudantes de dança de todos os gêneros de dança, e isso só existe no Brasil.
AN – Como será a Estímulo Mostra de Dança?
Ely – Escolhemos quatro grupos, tanto geograficamente quanto em termos de gênero: Cia. de Dança Vera Passos, com jazz, de Fortaleza; Cia. de Dança Matheus Brusa, com contemporâneo, do Rio Grande do Sul; Cia. Brasileira de Danças Clássicas, de São Paulo; e Academia Sheila’s Ballet pra fazer sapateado, do interior de São Paulo. Pagamos um cachê para eles, que é o mesmo cachê dado para as companhias profissionais de dança. Eles terão um tempo de até 45 minutos, que pode ser um espetáculo, dois; eles montam a noite como quiserem. Obrigatoriamente, tiveram que chamar coreógrafo para dar apoio a eles. Se nós tivéssemos outro espaço próximo daqui do Centreventos, faríamos também a Mostra Contemporânea de Dança. Pode ser que ano que vem ela volte, vamos fazer uma avaliação disso.
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AN – Um dos empecilhos para o Festival crescer ainda mais é mesmo a falta de espaços na cidade. Com a inauguração do Teatro CNEC (Elias Moreira), há uma possibilidade de ele ser utilizado também pelo evento?
Ely – É claro que nós vamos conhecer, verificar o que pode ser feito, se tem condições, se há interesse. O grande problema inicial é a distância, porque tudo se concentra aqui. As pessoas que vêm de fora não sabem andar na cidade, elas sabem vir para Joinville e ficar no Centreventos. Quem está em alojamento pega ônibus e o ônibus para no Centreventos. Para nós, não é distante; para quem vem de fora, sim. Mas nada que não possa ser pensado e contornado.
AN – Neste ano, há pelo menos dois grupos estrangeiros na Mostra Competitiva: um da Alemanha e outro do Paraguai. É um sinal de que o Festival de Joinville está mesmo rompendo fronteiras? Espera-se que isto ocorra com ainda mais frequência?
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Ely – Não. Nós já recebemos vários grupos de fora. O grande problema é que eles têm que vir com todos os custos deles. Nós não podemos bancar quem vem de fora e não apoiar quem vem daqui. Seria impossível dar qualquer tipo de apoio para esses mil grupos que vêm pra cá. Que o festival já é conhecido, que recebemos inúmeros contatos sobre o interesse de vir a Joinville, sabemos. Mas neste ano, por exemplo, teve grupo que nem passou. Se não tem qualidade, não vem. Mas não vejo o aumento da participação de grupos estrangeiros por questões financeiras.
AN – A aproximação do Festival de Dança com outras cidades do Estado, neste ano, é o início de uma possível expansão do evento?
Ely – Já falei para equipe: isso é o máximo que a gente pode fazer. Você vai até onde os braços alcançam. Não é sinal de expansão. Não temos equipe, condições administrativas, financeiras. Vamos devagar, até onde a gente possa ter controle. Blumenau, inclusive, já está no limite pra mim. Você tem que ter uma equipe cuidando só disso.
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AN – A expectativa de público vem sendo mantida há alguns anos. Achas que Joinville comportaria um crescimento de público?
Ely – Não temos nenhuma noite com menos de 3 mil pessoas. Estamos dando um fortalecimento para o joinvilense na bilheteria móvel. São dois pontos: levar a bilheteria para os bairros, porque muita gente não tem condições de vir aqui, não consegue acessar a internet. Já foi para o Vila Nova, Pirabeiraba, Iririú. E quem comprar nessa bilheteria tem 20% de desconto nas noites competitivas. A gente imagina que quase 100% de quem comprar na bilheteria móvel seja joinvilense, então estamos dando esse incentivo.
AN – Todo ano, perto do lançamento do Festival, o Centreventos se encontra em iminência de interdição. Como isso reflete na organização do evento?
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Ely – Em nada. Vira e meche nos perguntam: “Tem plano b?” Não. Não existe plano b para um evento deste porte. Levar isso aqui para onde, para Expoville? Não. Ou faz ou não faz. O plano b é não fazer o evento. Desde que terminou o último festival, começaram a mexer no que faltava. E digo mais: passar um ano sem fazer e achar que no ano que vem vai continuar do mesmo jeito, esquece.
AN – Este é o seu último ano na presidência do Instituto. Cumpriu tudo o que gostaria? Qual é o seu maior legado para o evento?
Ely – Desde o início, Joinville teve pessoas comprometidas com o evento. Felizmente, acho que prosseguimos esse trabalho feito pelas pessoas que nos antecederam. O festival sempre teve isso de buscar uma relação com a cidade e tentar sair desse caixote de tempo e espaço. Fico extremamente tranquilo, porque acho que foram oito anos com equipe ótima, conselho consultivo comprometido, equipe qualificada, que pega junto.
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AN – Como imaginas o festival daqui a dez anos?
Ely – Não sei se maior, mas ainda melhor do que este. Cada vez mais puxando a dança, não sendo puxado. Cada vez mais sendo um incentivador para que possamos contribuir para a melhoria e a amplitude da dança brasileira.