João Vítor Percilio, do Grupo Vórtice, de Minas Gerais, foi o escolhido para receber o Prêmio Daniel Camargo, que foi criado neste ano por iniciativa do bailarino que dá nome à premiação. João acaba de completar 16 anos e, até o ano passado, nunca havia participado de um concurso de dança. Ele só começou a estudar dança clássica aos 12 anos, com indicação dos professores da ONG Casa do Menor Nova Canaã. Não que o menino já demonstrasse interesse ou perfil para bailarino clássico.
Continua depois da publicidade
— No começo, ele nem queria fazer balé. Mas os professores acharam que seria bom para desenvolver a disciplina, a rotina e a atenção. Quando fez a primeira apresentação, ele se apaixonou e, hoje, trabalha muito — conta a professora Guiomar Boaventura, que coordena o projeto Pé de Moleque dentro do Grupo Vórtice.
João estreou nas competições com o Youth America Grand Prix em Nova York em 2018, para onde voltou neste ano e conquistou a premiação de melhor artista. No ano passado, também levou o primeiro lugar em variação masculina júnior no Festival de Joinville. Em 2019, subiu ao palco da Mostra Competitiva três vezes e levou dois primeiros lugares: no solo júnior de neoclássico com a coreografia "Insane!" e na variação masculina júnior de balé clássico de repertório "Paquita: Todas as Variações".
— Acho que, no Brasil, a arte cumpre esse papel da transformação, que é ainda mais forte do que a questão estética. Ela salva vidas — afirma Guiomar.
O Prêmio Daniel Camargo foi criado em 2019 depois que o jovem bailarino que dá nome ao título procurou o Instituto Festival de Dança com a proposta. Atuando na Europa, ele sugeriu oferecer um prêmio de cerca de 2 mil euros, o que é equivalente a cerca de R$ 10 mil. Daniel, que atualmente tem 27 anos, também começou a trajetória como bailarino conquistando premiações no Festival de Dança de Joinville e no Youth America Grand Prix de Nova York. Ele foi o bailarino principal no Sttugart Ballet, na Alemanha, e no Dutch Ballet, na Holanda, de onde acaba de se desligar.
Continua depois da publicidade
“Medalha de Ouro” retorna para premiar jovens talentos
Há dez anos, Daniel Camargo era um jovem que ganhava o prêmio de Melhor Bailarino no Festival de Joinville. Poderia ser o encerramento de um ciclo iniciado na infância, mas, depois de traçar uma carreira de sucesso no balé, Daniel voltou a olhar para o Festival de Joinville. Hoje à noite, ele retorna ao palco do Festival para entregar um prêmio que leva seu nome e que tem a promessa de colaborar no incentivo aos meninos que dedicam-se à dança apesar da pouca idade. O prêmio de R$ 10 mil irá para um bailarino escolhido na categoria júnior, disputada por jovens de 13 a 15 anos.

— O Festival foi onde eu fiz algumas das minhas primeiras apresentações e recebi os primeiros prêmios. Foi onde senti o incentivo de que, se continuasse treinando, alguma coisa a mais poderia acontecer — recorda.
Natural de Ourinhos (SP), Daniel começou a fazer aulas de dança justamente porque, no Brasil, o balé não é uma atividade comumente praticada por meninos. Aos nove anos, foi convidado a entrar na escola de dança onde as irmãs estudavam para aumentar o número de meninos no balé. No ano seguinte, com as irmãs contratadas pelo Balé do Teatro Guaíra, a família mudou para Curitiba e ele tornou-se aluno da Escola do Guaíra.
– No começo eu não contava que fazia aula de balé. Mas começaram a sair reportagens e foi impossível esconder. As pessoas ficavam surpresas porque não sabiam que menino podia fazer balé. É uma situação que eu não encontrei na Europa: lá é natural e as pessoas respeitam muito – comenta.
Continua depois da publicidade
Foi representando a Escola do Guaíra que Daniel ganhou os principais prêmios em Joinville e foi ao YAGP, concurso internacional que premia com bolsas de estudos. Daniel conquistou uma aos 13 anos e foi para a escola do Stuttgaart Ballet, para onde foi contratado ao se formar e chegou à posição de primeiro bailarino em 2013. Três anos depois, assumiu essa posição no Ballet Nacional da Holanda, onde dançou até este mês.
— Senti que estava na hora de fazer meus projetos e dançar nos lugares que eu gostaria, com as pessoas que eu acho que ainda podem me incentivar como artista — avalia ele.