Festival de Dança de Joinville: audição para o Bolshoi tem 300 candidatos

Esta fala é da bailarina Larissa Miranda, de 12 anos, e expressa o sentimento de centenas de candidatos que disputam vaga na mais renomada escola de balé do País, a Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, neste 22 de julho de 2019. Ao todo, 272 meninas e 28 meninos, com idades entre 12 e 18 anos, participam da audição para ingresso de novos alunos, que acontece tradicionalmente durante o Festival de Dança de Joinville.

A seletiva busca dar uma oportunidade aos bailarinos que já possuem técnica de ingressarem em turmas que já estão em curso na escola. As audições tiveram início as 8h30 e seguem ao longo do dia em duas etapas, todas eliminatórias. Primeiro, os bailarinos fazem uma aula de balé clássico diante dos professores da escola. São feitos exercícios de barra e centro, no qual é avaliado o nível técnico de acordo com a faixa etária do candidato.

De acordo com Sylvana Albuquerque, coordenadora de produção, eventos e audições da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, são observados quesitos como musicalidade, giros, saltos e elasticidade. Há ainda prova de pontas para as meninas, com o uso das sapatilhas.

Em um segundo momento, os aprovados na aula seguem para uma avaliação fisioterápica. Nessa etapa, são avaliados possíveis desvios posturais, musculatura e articulações, além de habilidades específicas para o balé clássico, como a abertura de quadril e flexibilidade.

Não há um número "x" de vagas e, segundo o Bolshoi Brasil, o resultado da seleção será divulgado nesta terça-feira (23), a partir das 10 horas na Escola Bolshoi, no estande da escola na Feira da Sapatilha, ou no site da instituição. Os candidatos são de diversos estados do País, especialmente Santa Catarina, São Paulo, Minas Gerais e Paraná. Há ainda concorrentes da Argentina, do Chile e do Uruguai.

Segundo Sylvana, para quem é aprovado há a opção de ingressar na escola no dia 5 de agosto, quando são retomadas as aulas neste semestre, ou em fevereiro de 2020 junto com as novas turmas, que contemplam também os aprovados na seleção anual da escola, neste ano programada para os dias 18 a 20 de outubro.

A busca do "sim"

Um dos fatores que leva a alta procura por uma chance na tradicional escola de balé é a qualidade técnica e artística do Bolshoi Brasil, que ensina desde o Ballet Clássico para iniciantes até a Introdução ao Método Vaganova Bolshoi Brasil para Professores. Outro influenciador é o reconhecimento perante o universo da dança.

— Entrar para o Bolshoi é um grande sonho para muitos bailarinos devido ao resultado do nosso trabalho, o índice de empregabilidade que a gente dá – aos nossos formandos – e o resultado nas companhias no Brasil e no exterior. A gente tem 17 contratados na Russia e 156 no Brasil, que estão na área da dança, em companhias renomadas como a Cia de Dança Deborah Colker, Municipal do Rio de Janeiro, Grupo Corpo e São Paulo Cia de Dança — afirma Sylvana.

A instituição também concede 100% de bolsas de estudo para todos os aprovados e benefícios como alimentação, transporte, uniformes, figurinos, assistência social, orientação pedagógica, assistência odontológica, atendimento fisioterápico, nutricional e assistência médica. A contrapartida é o aluno manter bom nível nas cadeiras escolares e na instituição.

— Para muitos essa é uma oportunidade que eles não teriam de poder fazer dança profissional ou condições de estudar em uma escola desse porte. É a chance de ter uma carreira realmente profissional — completa a coordenadora de audições.

O cuidado segue mesmo com quem não é aprovado nos cortes da audição. Uma conversa é feita com os grupos que não passaram na seletiva e a intenção é mostrar que esta é uma etapa e que o "não" pode vir várias vezes em diversas situações, mas que deve ser encarado como uma peça de uma ponte a ser construída para chegar ao tão sonhado "sim".

O desejo de viver da dança

O sonho de ingressar na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil motivou as irmãs Letícia, 16 anos, e Larissa Miranda, 12, a viajarem de Belo Horizonte (MG) para Joinville para participar da seletiva. A primeira a participar das avaliações foi Larissa, que garante que apesar de um pouco nervosa estava segura de que daria o seu melhor. Ela dança desde os seis anos de idade e se inspira em sua professora de dança – que a trouxe para a cidade – para se tornar uma grande bailarina. A audição é vista como um primeiro passo para atingir esse objetivo.

— É muito gratificante estar aqui dançando e eu estou preparada para seguir este sonho. Estou confiante que dará tudo certo — revela minutos depois de passar pela primeira fase da aula eliminatória.

Distante cerca de 1.100 quilômetros de Joinville, a mãe das meninas Cristina Miranda não esconde a ansiedade com a oportunidade que as filhas estão tendo de ter mais contato com o que elas gostam de fazer na vida, dançar. Por telefone à reportagem, a mãe das meninas falou que hoje "o coração está em Joinville".

— Elas tem um dom para a dança e sempre digo para que elas foquem e corram atras do sonho delas. Se isso não acontecer agora, como mãe desejo que continuem batalhando e não desistam, porque eu e o pai delas vamos apoiar este sonho até o fim — orgulha-se Cristina.

Também segue em busca do sonho Ester Soares, que pela quarta vez participa de uma seleção do Bolshoi Brasil. Ela é incentivada e inspirada pelo tio, o bailarino Thiago Soares, que já passou pelo Festival de Dança de Joinville no fim dos anos 1990 e tornou-se o brasileiro mais bem sucedido da atual geração do balé clássico, chegando ao posto de primeiro-bailarino do Royal Ballet, de Londres. Ele anunciou sua saída do Royal Ballet em junho, aos 38 anos, para iniciar carreira como coreógrafo.

— Se for preciso virei de novo, eu amo dançar — conta a menina.

Acompanhada dos pais, Vânia e Hugo, a família permanece unida independente do resultado. "Nossos filhos são tudo para nós e se este é o sonho dela, também é o nosso", cita a mãe. Conforme Hugo, o próprio Thiago ensina lições valiosas para ajudar a menina a se motivar em busca de um futuro na dança.

— O Thiago costuma dizer que a dança é uma disputa para toda a vida, mesmo ele hoje no posto que ocupa, precisa disputar todo dia a vaga dele nos palcos. Por isso ela se sente preparada hoje tanto para a vitória quanto para a derrota. O importante mesmo é não desistir — completa o pai de Ester.

A Escola

Instalada na cidade de Joinville e operante desde 15 de março de 2000, a Escola do Teatro Bolshoi no Brasil é a única extensão do Teatro Bolshoi da Rússia no mundo. Com 19 anos de implantação no Brasil, a primeira Escola do Teatro Bolshoi, educa 240 alunos, vindos de 22 estados brasileiros e 3 países. O complexo escolar tem cerca de seis mil metros quadrados e é formado por salas para aulas de balé, estúdios de música, ateliê, núcleo de saúde, biblioteca, cantina, espaços culturais e dois laboratórios cênicos.

A Escola é uma instituição jurídica, de direito privado e sem fins lucrativos, que conta com apoio da Prefeitura Municipal de Joinville e é mantida pelo Governo do Estado de Santa Catarina e pelos “Amigos do Bolshoi”, empresas e pessoas físicas que apoiam o projeto.

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