Até o próximo final de semana, as atenções de especialistas e apreciadores da cerveja artesanal estarão voltadas para Blumenau, no Vale do Itajaí. No Festival Brasileiro da Cerveja, o público tem acesso aos lançamentos do mercado, e através do concurso que elege os melhores rótulos, marcas despontam para o cenário nacional e internacional. Tudo isso em meio à oportunidade de novos negócios e de fomento ao setor, que cresce cerca de 30% ao ano no Brasil.

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A programação inicia com o Concurso Brasileiro de Cervejas, que na oitava edição, teve recorde de cervejarias inscritas, um aumento de 25% em relação ao ano passado. Serão 634 marcas de 22 estados, com 3.284 amostras avaliadas. De 7 a 9 de março, juízes de 13 países vão analisar o que tem de melhor no mercado brasileiro. Ao serem premiados, rótulos e cervejarias acabam ganhando uma vitrine importante explica Fernanda Bressiani, coordenadora técnica do concurso.

– É um divisor de águas. Algumas cervejarias já disseram isso abertamente. Virou uma chave ao ganhar como melhor cervejaria, ou ao conquistar medalhas em alguns rótulos. O concurso é o quarto maior do mundo, maior da América Latina – destaca.

Para essa edição, o concurso decidiu ouvir ainda mais as cervejarias e criou um conselho consultivo. Regulamento, escolha de jurados, alterações em súmulas e regras, tudo passou pelo grupo com representantes de diversas regiões do país, para pluralizar ainda mais a competição.

– O importante para o mercado é ter uma união, crescimento com todo mundo junto. Muitas participando, movimenta o mercado em todos os lugares. Mesmo quem não vence, tem um ganho com o feedback dos especialistas. Muitas cervejarias novas se inscrevem por causa disso também – analisa a coordenadora.

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A cada rodada, as cervejas são analisadas e os jurados emitem um parecer técnico sobre as características de cada uma. Essa análise retorna para o cervejeiro, que a partir daí pode buscar melhorias nos pontos apontados. No dia 10 de março, a premiação celebra os melhores rótulos e cervejarias, que costumam ficar entre as mais procuradas pelo público durante o festival.

Estilo, coloração, espuma, aroma, corpo: tudo é analisado tecnicamente para a eleição das melhores. Para esse ano, a India Pale Ale (IPA) continua sendo a categoria mais disputada, com 235 concorrentes. Em seguida vem a Catharina Sour, primeiro estilo brasileiro reconhecido, que vai apresentar 157 amostras. No total, os juízes vão avaliar 146 estilos de cerveja.

A realização técnica do concurso fica a cargo da Escola Superior de Cerveja e Malte, e essa é a primeira vez que Fernanda está à frente da coordenação geral. Além dela, outras dezenas de mulheres estão entre as juradas e cervejeiras.

– A escolha pelos jurados foi por competência técnica, e há muitas mulheres com esse perfil. A participação da mulher no mercado cervejeiro tem crescido muito, ela tem sido cada vez mais respeitada. Tem cervejarias totalmente tocadas por mulheres, e esse movimento é interessante – comenta Fernanda.

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Ação social

Para participar do concurso, a cervejaria deve enviar oito garrafas de cada amostra. Elas ficam todas na mesma câmara fria, para poder competir em iguais condições. Ao final do certame, as cervejas fechadas que sobraram serão doadas para instituições sociais.

Com uma seleção às cegas, serão embalagens com seis garrafas cada, ao valor de R$ 30. O dinheiro fica com as entidades, e foi uma maneira encontrada pela organização para dar um encaminhamento diferente às amostras.

– A ideia é que essa sobra do concurso seja revertida de alguma forma positiva – conclui a coordenadora.

Expectativa de mais de 30 mil visitantes

No dia seguinte à premiação do concurso, o Festival Brasileiro da Cerveja abre as portas com as recém-premiadas, que aguardam um público curioso. Cervejarias também aproveitam os quatro dias de programação para lançar novos rótulos, tudo para que os visitantes possam “mergulhar” no universo da cerveja artesanal.

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– Uma das novidades para esse ano é o passaporte, para que o visitante possa ir todos os dias com um preço diferenciado. Com a infinidade de rótulos disponíveis, é possível fazer roteiros e aproveitar o festival sem exageros – explica o Develon da Rocha, presidente da Associação Blumenauense de Turismo, Eventos e Cultura (Ablutec), que organiza o evento.

Os passaportes para entrar no Parque da Vila Germânica estão esgotados, mas ainda é possível comprar ingressos individuais para cada dia (veja serviço). De quarta-feira a sábado, serão 100 expositores com mais de 1,5 mil rótulos, além de área para gastronomia e entretenimento.

– Os expositores propõem uma experiência sensorial, novas cervejas, mais de 100 lançamentos. Aliado a isso, uma programação de palestras para todos os públicos, desde a pessoa leiga que quer aprender, conhecer o que está bebendo, até quem já tem conhecimento – explica Rocha.

Para esse ano, a expectativa é um aumento de cerca de 5% em relação ao movimento registrado em 2019, que reuniu cerca de 30 mil pessoas durante o festival. Na Feira Brasileira da Cerveja, que ocorre de 11 a 13 de março, a ideia é reunir cervejeiros e compradores de todo país, fomentando ainda mais o setor.

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– Os números mostram que negócios em feiras em festivais têm aumentado. No ano passado, cresceu 19%, vimos essa tendência e estamos trazendo para cá. O estande não é mais uma espaço somente para divulgação da marca, mas também para fazer negócios – complementa o presidente da Ablutec.

Serviço

Festival Brasileiro da Cerveja

Data: 11 a 14 de março

Horários: 11 a 13 de março, das 19h à 1h, e 14 de março das 15h à 1h

Local: Parque Vila Germânica

Ingressos: Dias 11 e 12: R$ 12

Dia 13: R$ 30

Dia 14: R$ 36

Feira Brasileira da Cerveja

Data: 11 a 13 de março

Horários: das 14h às 21h

Local: Parque Vila Germânica

Ingresso: R$ 20: ingresso único para todos os dias

Cerveja também é geração de emprego e renda

Por trás de toda a cadeia de produção da cerveja artesanal, a geração de empregos chama a atenção. A fatia é pequena, 2,5% do mercado pertence à produção artesanal, mas o impacto social é significativo principalmente nas pequenas cervejarias. Em 2019, o mercado de cerveja no geral teve saldo positivo de 156 postos de trabalho em Santa Catarina. Desses, 144 foram nos negócios menores, com até 99 funcionários.

Carlo Lapolli, presidente da Associação Brasileira de Cerveja Artesanal (Abracerva), explica que a maior parte das cervejarias que geraram novos postos tem até quatro funcionários. Com negócios espalhados por diversas regiões, a geração de emprego acaba diluída. No Brasil, o mercado cervejeiro no total gerou saldo de 1.330 empregos no ano passado, sendo 826 nos pequenos negócios.

– As grandes marcas ainda têm 97,5% do mercado, o que significa que as cervejarias artesanais ainda tem espaço para crescer. O perfil do consumidor tem mudado, há crescimento dos projetos menores, mais próximos do público, e isso impacta positivamente na valorização do produto final – analisa Lapolli.

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Não há números exatos sobre a fatia que Santa Catarina ocupa no cenário nacional da cerveja artesanal, mas o presidente da Abracerva destaca como o comportamento do consumidor é importante nesse cenário. No Estado, uma das vantagens é que o público tem criado o hábito de consumir esse produto, que consegue ter um preço competitivo por conta de diversos fatores, entre eles a alíquota diferenciada do ICMS.

Carlos Guilherme Esteves Kruger tem hoje meio hectare de lúpulo no interior de Meleiro, no Sul de SC
Carlos Guilherme Esteves Kruger tem hoje meio hectare de lúpulo no interior de Meleiro, no Sul de SC (Foto: Guilherme Hahn, Especial )

SC também avança na produção de lúpulo

A fatia ocupada por Santa Catarina no cenário brasileiro da cerveja artesanal é expressiva, assim como as iniciativas que tem surgido em torno da bebida. A produção de lúpulo, uma das principais matérias-primas da cerveja, começa a ganhar força, e o Estado também se destaca nesse segmento: 54 dos 119 participantes da Associação Brasileira de Produtores de Lúpulo (Aprolúpulo) estão em SC, e os resultados têm melhorado a cada ano.

A maior parte dos produtores se concentra na Serra catarinense, atualmente são 30, que aproveitam as características climáticas e a altitude para investir no lúpulo. São cerca de 10 hectares no Estado, e a Aprolúpulo estima que possa chegar a 50 hectares em todo território nacional. Por enquanto, quase 100% do lúpulo utilizado no Brasil é importado, mas a ideia é mudar esse cenário nos próximos anos.

Para o presidente da associação, Alexander Creuz, a fase de experiência já passou. No ano passado, a criação da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Cerveja, junto ao Ministério da Agricultura, foi mais um passo importante. A Aprolúpulo é um membro permanente e com direito a voto, e será uma voz dentro do ministério em favor das demandas do setor.

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Outros noves estados também fazem parte da associação. No Sul de Santa Catarina, Carlos Guilherme Esteves Kruger tem hoje meio hectare de lúpulo no interior de Meleiro. A ideia é investir na estrutura já para o próximo ano, e em breve chegar aos dois hectares plantados.

Hoje são cerca de 2,5 mil plantas, algumas com um ou dois anos, que ainda não atingiram o ápice da produção. No ano passado, ele entregou 10 quilos de lúpulo para uma cervejaria de Forquilhinha. O resultado foi satisfatório, e para essa safra, a expectativa é entregar o dobro, 20 quilos.

– O frescor de um lúpulo produzido aqui, e entregue na mesma safra, não tem comparação. A ideia é incentivar essa produção para que o agricultor que hoje tem outros cultivos possa apostar também no lúpulo – analisa Kruger.