Dois dos mais premiados escritores do Brasil andarão lado a lado na Festa Literária de Porto Alegre, a FestiPoa, que se inicia nesta sexta, já com o primeiro encontro entre Cristovão Tezza, o autor homenageado, e Altair Martins, o autor anfitrião.

Continua depois da publicidade

Esta afetiva parceria é uma das inovações da FestiPoa, que chega à sexta edição já consolidada no calendário cultural do Estado.

– Aproveitamos o vínculo pessoal e intelectual entre eles para fazer do Altair uma espécie de escudeiro do Tezza, circulando pelo locais que abrigam a FestiPoa e cumprindo o papel de aproximar o autor homenageado do público – diz Fernando Ramos, idealizador do evento.

Ramos enfatiza que o crescimento da FestiPoa está ligado ao papel pedagógico de formar leitores, divulgar a literatura brasileira contemporânea e provocar o debate e a reflexão nos encontros entre autores e público. Martins, na companhia do escritor Luiz Ruffato, conversa com Tezza nesta sexta, às 19h, no auditório Luís Cosme, no quarto andar da Casa de Cultura Mario Quintana.

Entre os mais de cem autores convidados da FestiPoa 2013, estão, entre outros, Antonio Cicero, Daniel Galera, Cláudia Tajes, Fabrício Carpinejar, Charles Kiefer, João Gilberto Noll, Sergio Sant?Anna e o cartunista argentino Liniers.

Continua depois da publicidade

As atividades ocorrem até 19 de maio em diferentes pontos da Capital. Toda a programação é gratuita e pode ser conferida no site www.festipoaliteraria.com.

Altair pergunta para Cristovão Tezza

Altair Martins – O Filho Eterno foi o livro que oportunizou ao maior número de leitores conhecer a tua escrita (dentre tantos outros textos magníficos, como Aventuras Provisórias). Mas eu escolheria O Fotógrafo para dizer “este é o Cristovão”. Hoje, Cristovão Tezza escolheria qual livro para representá-lo a um leitor que nunca o leu?

Cristovão Tezza – Sempre acho que meu melhor livro é aquele que estou escrevendo, que tenta superar os anteriores; e a verdade é que todo autor acaba por ficar com ciúme do livro de maior sucesso, que parece obscurecer os demais. Cada livro acaba representando um tempo da minha vida. Para quem nunca me leu, talvez Juliano Pavollini (que vai virar filme, com direção do Caio Blat), ou Trapo, seja um bom começo. Alguns livros me parecem injustiçados, como Breve Espaço entre Cor e Sombra, de 1998 – chegou a ganhar o prêmio da Biblioteca Nacional, mas foi um fracasso de vendas. O Fotógrafo também é especial – de certa forma, foi o romance que me preparou para escrever O Filho Eterno. Mas, como disse, o melhor ainda vem pela frente – é O Professor, que deve estar pronto no ano que vem.

Altair – A ideia de “ser escritor” me parece um traço que percorre quase todos os seus livros. Concomitante a isso, lemos a evolução do escritor ao escrevê-los numa busca incessante por autenticidade. Como se reinventar mesmo depois do êxito de um livro como O Filho Eterno, por exemplo?

Continua depois da publicidade

Tezza – Não sei: cada romance, para mim, enfrenta fantasmas que não existiam antes, ainda que os temas sejam semelhantes. O Filho Eterno foi um livro muito diferente no meu conjunto de obra; é o único realmente autobiográfico e tocando um tema muito difícil, com um apelo emocional muito intenso. De certa forma, ele se esgotou nele mesmo, e me deixou livre para ir adiante. E, do ponto de vista técnico, ele me abriu muitos caminhos que transparecem nos livros seguintes.

Altair – Em O Espírito da Prosa, lemos a sua trajetória como professor-escritor (com a qual me identifico). Mesmo hoje, quando as perspectivas para escritor avançam para uma, quem o sabe, profissionalização, a alternativa de lecionar é, digamos, um exercício-combustível para a atividade literária?

Tezza – Dar aulas ainda é uma das melhores soluções para se sobreviver como escritor. Porque ninguém começa vivendo dos livros; com alguma sorte, em algum momento, isso se torna possível. Lembro que, na minha passagem para a vida adulta, eu poderia escolher entre a publicidade, o jornalismo ou o magistério para sobreviver, enquanto escreveria. Escolhi dar aulas e não me arrependi. Ainda acho que, tomando algum cuidado, é o trabalho menos invasivo para produzir literatura.

Altair – O Atlético Paranaense tem alguma chance no Brasileirão?

Tezza – Essa pergunta é difícil. Não sei ainda, mas acho que sim, tem uma boa chance de chegar ao G4. O time principal ainda não foi bem testado e, no papel, não parece muito forte. Mas o sub-23 que está detonando no campeonato estadual revelou três ou quatro jogadores que podem fazer uma bela diferença na equipe titular. O Atlético tem uma ótima estrutura e já está com um plantel respeitável. Fico na torcida. Está mais do que na hora de o Atlético dar a volta por cima e retornar para a ponta do Brasileirão.

Continua depois da publicidade