Sob a vigília dos deuses e de um gigantesco aparato de segurança, os Jogos Olímpicos de Atenas terminaram neste domingo, dia 29, sem registro de ataques terroristas, temor de boa parte dos países que participavam do evento esportivo mais importante da modernidade. Assim como as divindades do Olimpo, os responsáveis pela proteção de atletas e público vacilaram na última prova disputada na Grécia e deixaram de levar ouro no quesito organização. Um incidente bizarro na reta final da maratona prejudicou o atleta brasileiro Vanderlei Cordeiro de Lima, líder da competição.
Continua depois da publicidade
Um ex-padre irlandês, Cornelius Neil Horan, que também realizou um protesto no Grande Prêmio de Silverstone de Fórmula 1, em 2003, invadiu a pista e saltou sobre o corredor. Os policiais gregos demoraram a impedir o avanço do homem de kilt escocês com a frase “Israel é o cumprimento da profecia, diz a Bíblia” colada nas costas. Em 490 a.C., ninguém se entrepôs no caminho do soldado grego Fidípedes, primeiro maratonista. O mensageiro entrou para história após percorrer cerca de 40 km da planície da cidade de Maratona até Atenas para relatar a vitória grega sobre os persas.
A falha na segurança não chegou a ofuscar a festa do esporte mundial. O cenário dos primeiros Jogos da Era Moderna, em 1896, foi palco em 2004 da glória de estreantes nas Olimpíadas. Apesar de não ter superado o recorde de sete ouros de Mike Spitz, tal como havia alardeado, o nadador norte-americano Michael Phelps ganhou seis medalhas douradas. Talvez o resultado tenha sido tímido para a sua ambição, mas o consagrou mundialmente na galeria dos maiores medalhistas da natação.
A hegemonia dos Estados Unidos ainda não foi quebrada, mas a gigante China mostrou que os Jogos de Pequim serão páreo duro para os norte-americanos. Com 32 medalhas de ouro, três menos do que os rivais, os chineses surpreenderam em modalidades que outrora não tinham nenhum destaque. O país ganhou os primeiros ouros da história em atletismo. A melhoria visível no desempenho faz parte do programa de incentivo ao esporte para deixar a China no topo do ranking em 2008.
A ascensão chinesa não é mérito apenas de seus atletas. Os norte-americanos tropeçaram em modalidades nas quais eram antes invencíveis. O Dream Team no basquete masculino garantiu apenas o bronze e viu o ouro ficar com a Argentina e a prata com a Itália
Continua depois da publicidade
Enquanto os norte-americanos tentam digerir a derrota, os hermanos da América do Sul comemoram as vitórias inesperadas. No tênis, Nicolas Massú e Fernando Gonzalez são os primeiros medalhistas de ouro da história do Chile. Eles venceram no torneio de duplas. Massú ganhou também o torneio individual, e Gonzalez ficou com o bronze, resultados inéditos do país Vizinhos de continente, os argentinos conquistaram o ouro após vitória sobre o Paraguai. A Itália levou somente o bronze, prova de que a Europa foi superada pelos latinos-americanos.
Nem mesmo Sófocles teria imaginado relatar a história da judoca grega Eleni Ioannou, que se atirou da sacada do terceiro andar de um prédio. Assim como ela, o namorado também saltou do mesmo local dois dias depois da amada. A jovem grega morreu duas semanas depois. Protagonistas de outra tragédia grega, os velocistas gregos Costas Kenteris e Ekaterini Thanou simularam um acidente para se ausentar do exame antidoping. Os dois eram as grandes estrelas do país nos Jogos Olímpicos.
Desde a abertura até o encerramento, a organização de Atenas mostrou que as críticas e ameaças do Comitê Olímpico Internacional eram injustificadas. Os gregos correram atrás do relógio e fizeram dos Jogos Olímpicos um evento inesquecível.