Anunciadas na sexta-feira, em Chapecó, a oficialização do traçado da Ferrovia do Frango e a previsão de começo das obras para 2015 animaram o Litoral Norte catarinense. Entre as lideranças políticas, empresariais e comerciais da região, a análise é de que a aposta nos trens de carga vai garantir novos rumos à economia do Estado.

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Opine: Você acredita que a Ferrovia do Frango vai diminuir os acidentes e os congestionamentos nas rodovias?

Além de dinamizar o escoamento da produção, com o trabalho integrado entre rodovias, ferrovias e portos, a expectativa é de melhorar as condições das estradas, diminuindo o número de acidentes e os custos de manutenções. Tudo aliado a obras de infraestrutura fundamentais para dar sustentação a um sistema econômico que ande sobre trilhos.

Parte do projeto federal de expandir de 29 mil para 40 mil quilômetros a malha ferroviária no país até 2020, a Ferrovia do Frango deve ficar pronta em 2019, ao custo de R$ 4 bilhões. A ideia é trazer para o Brasil – com grande atraso – um modelo que já funciona na Europa: o transporte multimodal, em que navios, trens e caminhões operam de forma conjunta, sem concorrerem entre si. Esse projeto é visto como fundamental para que o país avance e não perca competitividade.

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– Com a ferrovia teremos aumento de produtividade e queremos que ocorra a convivência pacífica entre trens e caminhões. Até porque a agilidade rodoviária continuará sendo mais interessante em muitos casos e existe ainda a contrapartida das estradas permanecerem conservadas por muito mais tempo sem o tráfego pesado – avalia Marcelo Petrelli, presidente do Sindicato dos Despachantes Aduaneiros de Santa Catarina.

Complexo Portuário

Os terminais portuários de Itajaí e Navegantes também classificam a nova ferrovia como importante para que o mercado se mantenha forte. É consenso que a logística para adequar todos os tipos de transporte é plenamente possível no Estado.

Diretor-superintendente administrativo da Portonave, Osmari de Castilho Ribas destaca que poucas regiões no país têm essa condição encontrada no Litoral Norte, e que ela precisa ser valorizada e explorada.

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– É preciso discutir o modal e utilizar o meio mais indicado para cada situação. Santa Catarina precisa resgatar a cultura ferroviária de forma a superar os gargalos no segmento de transporte de forma sustentável – opina.

Para o superintendente do Complexo Portuário do Itajaí-Açu, Antônio Ayres dos Santos Junior, a obra tende a melhorar toda a cadeia econômica envolvida no transporte de cargas. Custos mais baixos, menos caminhões nas estradas e mais segurança no trânsito são alguns dos benefícios esperados.

– Em todos os países que conhecemos, uma ferrovia competente não elimina o transporte rodoviário e de varejo – comenta.

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Lideranças políticas acompanham discussões

O deputado estadual Volnei Morastoni (PT) esteve presente em todas as negociações envolvendo a Ferrovia do Frango, e considera a integração de toda Santa Catarina por meio dessa obra o ponto mais importante do projeto. Com isso será possível chegar na origem do agronegócio, barateando os custos de transporte e da própria produção.

– No sentido das ferrovias, nunca deveríamos ter caminhado para trás como fizemos na virada dos anos 1950 para os anos 1960. Acho que a Ferrovia do Frango é um grande impulso, que vai nos trazer desenvolvimento e alívio para para as rodovias lotadas – argumenta.

Acompanhando mais de longe a discussão, por meio de debates na Assembleia Legislativa e do contato com outros deputados, Dado Cherem (PSDB) também enxerga na ferrovia uma oportunidade única para o Estado alavancar a economia. E ele vai além, sugerindo que no futuro os trilhos sejam utilizados de mais formas.

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– Gostaria que essa obra não ficasse apenas no transporte de cargas, mas que também pudesse levar pessoas, até pensando no turismo como é feito em outros países. Desse limão podemos fazer uma grande limonada – pondera.

Setor de cargas tem dúvidas sobre viabilidade

A Federação das Empresas de Transporte de Carga e Logística no Estado de Santa Catarina (Fetrancesc), que reúne cerca de 17 mil empresas e quase 200 mil caminhões, diz que o setor está ciente da necessária integração dos modais portuário, rodoviário e ferroviário. Diante desse panorama, a entidade entende que a ligação logística é viável e vai trazer benefícios a todos os segmentos.

– Não há uma obra que comece em São Miguel do Oeste e pare em Itajaí, simplesmente. Existem pontos que serão de carga e descarga rodoviária, então certamente o caminhão é essencial, com ou sem trem – afirma o presidente da Fetrancesc, Pedro Lopes.

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O representante da Federação, porém, admite uma preocupação do setor de cargas: a demora para a construção da ferrovia. Ele não acredita que a obra termine no prazo previsto pelo governo, e opina que é preciso calcular o tamanho do retorno sobre esse investimento. Na avaliação de Lopes, os custos para implementar os trilhos seriam muito maiores do que duplicar as BRs 470 E 280.

– Não se discute o propósito, se discute o negócio. Tem que ver quem vai financiar essa obra de ponta a ponta, porque se for pelo Ministério dos Transportes e pelo Dnit, já temos os exemplos das rodovias. E se for para a iniciativa privada apoiar, só acontece se tiver retorno – argumenta.

Ferrovia valoriza produto com valor agregado

Com o traçado da ferrovia saindo de Dionísio Cerqueira e chegando a Itajaí, o Complexo Portuário pretende trazer para o Litoral toda a produção da agroindústria do Oeste e Meio-Oeste. Os terminais movimentam 10 mil contêineres de produtos congelados por mês – vindos da agroindústria e que poderão chegar ao porto a custos menores de transporte.

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Superintendente do Complexo, Antônio Ayres dos Santos Junior avalia que a Ferrovia do Frango é de extrema relevância para o Estado justamente por trabalhar com produtos que valorizam o trabalho do catarinense.

– Quase todas as ferrovias que estão sendo projetadas são para eliminar as grandes filas de caminhões e navios nos portos, trazer grãos e exportá-los. Só que grãos não têm valor agregado. Nossa ferrovia é diferente, porque vai transportar produtos já com valor agregado, que não precisarão ser industrializados lá fora – explica.

A intenção é implantar um trem com velocidade de 80 quilômetros por hora na Ferrovia do Frango, o que reduziria o custo das cadeias produtivas entre 30% e 50%.

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