Nos últimos dois anos, Fernando Lindote vem repensando o seu fazer artístico. O artista conceitual que causava estranhamento e fascínio com sua meta-arte pisa agora em solo próprio.
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Continua bebendo nas fontes que influenciaram sua formação, mas está cada vez mais disposto a falar com o público, sem escalas. O resultado desta nova forma de traduzir seu pensamento em arte se transforma na instalação Cosmo Relief, na 29ª Bienal de Arte de São Paulo, entre os dias 20 de setembro e 12 de dezembro.
Integrante do seleto grupo de 148 artistas selecionados para participar da mostra que busca esta edição recuperar seu espaço como local de experimentação e de renúncia ao óbvio, Lindote, gaúcho de Livramento e radicado em Florianópolis, diz que estar na Bienal, pela primeira vez, lhe traz dupla satisfação.
– Primeiro por poder trabalhar no espaço físico projetado por Oscar Niemeyer segundo por que acho que agora é momento. Sinto a necessidade de ser cada vez mais direto, mais objetivo, eu sei o que eu quero dizer com o meu trabalho – observa.
Depois de ousar com materiais e técnicas, como as esculturas de espuma vinílica acetinada (EVA) mascada, o artista concretiza a vida com mais simplicidade em seus trabalhos, mas sem perder o requinte.
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Cosmo Relief pode ser a grande representação desta busca pela essência que o artista tanto persegue. Cosmo significa universo em qualquer língua. Relief, em francês significa alívio, em inglês, alívio ou relevo.
Pipa e espiral
A instalação começou a ser elaborada há dois anos. No verão de 2008, em Laguna, Lindote viu uma pipa bem simples, feita de isopor. Um detalhe prendeu a atenção do artista: a pintura na pipa que, com a força do vento, se transformava num espiral. Começava assim um complexo processo mental de concepção do trabalho que ocupa espaço privilegiado no terceiro andar do prédio da Bienal em São Paulo.
A obra de Lindote é formada por esculturas e pinturas. Uma das peças, inspirada na pequena pipa de isopor, vira um gigante de fibra de vidro, com pintura automotiva branca, alcança dois metros de comprimento e ocupa o centro da sala. O espiral aparece em relevo. As três paredes do espaço, com sete metros de comprimento e três de altura serão recobertas por pinceladas etéreas, que despertam sensação de leveza no espectador.
Usando todos os tons do azul e o branco, Lindote promove um diálogo fácil com o público e a mobilidade das imagens impressas na parede dão vida ao trabalho. Entre os véus que se debruçam nos imensos painéis surgem cenas do cotidiano que revelam o olhar suave e adocicado do artista. Cabe ao público descobrir. E se descobrir.
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Schwanke, o pioneiro
Em 1991, Luiz Henrique Schwanke (1951-1992) foi o nome que representou Santa Catarina na 21ª Bienal Internacional de São Paulo. Schwanke não trabalhava apenas uma técnica mas aliava poética e conhecimento. Fascinado pela luz, principalmente o tratamento dado no período barroco, mais especificamente nas obras de Caravaggio (1571-1610), também foi influenciado pela pop art de Andy Warhol (1928-1987). Sua obra revela traços do neo-expressionismo, concretismo, construtivismo e minimalismo.
Sua produção pode ser organizada em três décadas. Nos anos 1970, destaque especial dos desenhos, por meio dos quais fazia releituras de obras renascentistas e barrocas. Na década de 1980, a pintura marcada pelo conceitual e a gestualidade expressiva. Nos anos 1990, predominam as instalações, algumas das quais têm como matéria-prima a energia elétrica.