A criatividade e a capacidade de inovar nunca foram tão debatidas no mundo quanto nos últimos 15 anos. Foi mais ou menos neste período que o pesquisador inglês John Howkins deu nome ao movimento que considera a potência intelectual seu valor principal: a economia criativa, que vira e mexe vem ganhando novas definições e tem servido de base para iniciativas joinvilenses, como o (In)Consciente Coletivo, evento agrupador de diversos setores criativos há dez edições.

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– Fixamos como propósito promover a cultura criativa e colaborativa da região nesses encontros, que vão além de uma oportunidade de estes produtores apresentarem suas criações e as comercializarem. Ele fomenta a conexão entre todas estas pontas e fortalece o surgimento de um cenário novo em nossa região com base no capital humano – conta Bruna Starling, organizadora do (In)Consciente junto com as designers Sarah Pinnow e Ana Carolina Carvalho.

A união tem sido a melhor forma de fortalecer os setores ligados à criatividade e movimentar a economia joinvilense na área. Helga Tytlik, palestrante e consultora no assunto, estima que pelo menos 35 mil pessoas vivam de setores criativos na cidade.

– Para se ter uma ideia, nos últimos dez anos no Brasil, a economia criativa se desenvolveu 69%, contra 36% das indústrias convencionais – informa a palestrante.

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Foi no coletivo que partiu da mente de três mulheres empreendedoras que Daniela Lopes, 28 anos, percebeu a possibilidade de dar vazão à criatividade. A técnica em moda e estilismo hoje tem no (In)Consciente uma importante vitrine para a sua marca de banquetas, a Candura. A joinvilense é conhecida por criar desenhos a partir das histórias e gostos dos clientes e pintá-los nos móveis, construídos com madeira de reaproveitamento. Ela ainda mantém seu emprego formal na área administrativa, mas tem planos de se dedicar apenas à marca a partir do ano que vem. Com Daniela, outras 200 iniciativas autorais participarão da próxima edição do (In)Consciente, nos dias 3 e 4 de dezembro, na Casa da Cultura Fausto Rocha Júnior.

– Com a forte base industrial que temos, conectar as pessoas diminuindo a distância entre produtor e consumidor nos aproxima do ideal de uma cadeia de consumo mais consciente e colaborativa, em que todos saem ganhando – reforça Bruna.

Economia criativa com conceito mais amplo

Recentemente, a economia criativa passou a ser pensada de forma mais ampla, tanto que um novo termo precisou ser criado para dar conta da complexidade do assunto. De acordo com Helga, a economia criativa hoje é um desdobramento da economia de cultura, nomenclatura que abraça a circulação, produção e demanda do conhecimento, da criatividade e da experiência, trazendo, a partir das singularidades culturais, novos caminhos para a inovação, para desenvolvimento ou para novas formas de gestão. Isso significa que a economia criativa pode ser aplicada para além dos setores de moda, design, arquitetura, artes, gastronomia, produção cultural, cinema, mídia e turismo.

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– Um dos desafios do novo ciclo é levar a criatividade para setores em que convencionalmente ela não é aplicada, permitindo, assim, novos olhares para o processo – afirma Helga.

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Ela cita o poder público como um dos setores que, em geral, aproveita mal o potencial criativo de servidores. Já dentro das empresas, é grande o número de iniciativas de valorização do capital humano, como o caso da Avon:

– Em um trabalho de pesquisa e qualidade de vida dos funcionários, surgiu uma questão de uma funcionária de chão de fábrica que gostaria de ler mais, mas achava o preço dos livros muito alto. Em função disto, a Avon fez um acordo com uma editora e lançou best sellers em papel e capas mais simples. Resultado: estourou em vendas, acima, inclusive, da FNAC de São Paulo e, de quebra, levou o livro e leitura a lugares que nenhum programa do governo acessa – exemplifica.

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Uma vitrine, vários talentos

Outra iniciativa com DNA inovador na área de economia criativa é o Hibrido Concept, espaço multicultural inaugurado neste ano em Joinville. O local promove o encontro entre setores criativos, com venda de marcas de moda e design, todas escolhidas a partir de uma curadoria, além de uma galeria de arte. O Hibrido Concept funciona de segunda a sábado, das 10h às 20h; e domingo, das 11h às 17h, na rua dos Bandeirantes, 274.

– Nossa ideia parte de uma carência de espaços permanentes para mostrar nossos talentos e promover a economia compartilhada em Joinville – explica o idealizador, designer e produtor de moda, Jean Smekatz.

A casa também recebe, quinzenalmente, o Projeto Movimento Hibrido, com música autoral e intervenções artísticas, e o Hibrido Lab, em que palestras e workshops são abertos à participação da comunidade. A intenção é misturar todas as iniciativas criativas e tirar destes encontros novas inspirações.

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– Estamos prevendo ainda a criação de ateliês para que a troca ocorra de fato no Hibrido – conta Smekatz.