Em alta em Hollywood, as comédias que exploram o politicamente incorreto renderam nas últimas semanas um novo fenômeno. Ted, que chega agora ao Brasil, já arrecadou mais de US$ 400 milhões, quase 10 vezes o seu custo estimado. E segue acumulando bons resultados pelo mundo, o que inclui críticas inexplicavelmente positivas que, em vez de chamar o espectador à razão, legitimam algo que não passa de lixo enlatado.
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Ted começa como um conto de fadas, com um narrador contando a história de John, um piá de oito anos carente que é atendido em um pedido de Natal bizarro: seu urso de pelúcia ganha vida e se torna seu amigo. Corte para o presente e lá está John aos 35 anos, interpretado por Mark Wahlberg, bebendo e fumando maconha no sofá com o tal ursinho, que agora fala como um legítimo malandro mulherengo.
Logo entra em cena a namorada do protagonista, Lori (Mila Kunis), e o público percebe a metáfora – muito interessante – sobre a qual Ted vai buscar sustentação: a linda e compreensiva garota significaria o estabelecimento de uma relação madura, mas John, figura representativa de uma geração que não cresce, continua imaturo, inexoravelmente ligado à infância.
Ted tem sequências muito bem filmadas pelo diretor Seth MacFarlane (criador das séries Uma Família da Pesada e American Dad!, que aqui faz a voz do urso), a exemplo da briga no hotel, já ao final do longa. Também tem referências divertidas à cultura pop, como nas participações especiais de Norah Jones, Ryan Reynolds e Sam J. Jones (na pele do próprio Flash Gordon que ele interpretou nos anos 1980).
Mas, para o filme engrenar, de fato, você precisa ser tolerante às brincadeiras que diluem sexismo, misoginia, racismo e insultos diversos e gratuitos sob a roupagem do politicamente incorreto. E, além disso, deve estar disposto a rir das piadas de pum e seus genéricos como se elas ainda não tivessem totalmente esgotadas.
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Não se trata de condenar um certo tipo de humor de maneira geral, afinal, com Superbad (2007), Se Beber, Não Case! (2009) e O Pior Trabalho do Mundo (2010), entre vários outros filmes desta mesma onda, já ficou provado que ele pode ser plenamente bem-sucedido. Quando tem algo minimamente considerável a dizer.
Ted é vazio, tem personagens rasos, incompatíveis com sua pretensão, e só é engraçado se o espectador estiver ele próprio no piloto automático, rindo atrasado do que viu em títulos anteriores. Faz sentido: não foi por outro motivo que longas igualmente ruins, como Missão Madrinha de Casamento (2011), angariaram fãs mundo afora.
A onda está repleta de coisas boas, mas também de equívocos categóricos, populares ou não.