Não se sabe ainda o que motiva ou qual a chave que liga a conexão que muitos de nós possuem com o mar, especialmente a praia. Porém, ninguém nega que esse ambiente mexe – e para melhor – com qualquer um que tenha um pouco de sensibilidade. Uma pesquisa divulgada em 2012 pela Universidade de Exeter, no Reino Unido, que comparou dados do censo inglês, revelou o que já sabíamos ou pelo menos intuíamos: quanto mais próximo do mar as pessoas vivem, melhor é a avaliação que fazem da própria vida. Não significa que vivam melhor ou de maneira mais saudável, mas que gostam mais da própria vida pelo simples fato de o mar estar próximo do dia a dia de cada um. Talvez por isso seja tão raro ouvir um carioca falar que não mora na melhor cidade do mundo, mesmo que recheada de violência ou corrupção. Quando o fazem, é fruto de algum trauma e não raro trocam o Rio de Janeiro por outra cidade litorânea, como Florianópolis, por exemplo. Eu mesma conheço vários dessa espécie.
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Mas não estamos aqui para falar dos loucos por praia e sim deste mar que nos rodeia e nos agrada. Assim, apesar de o estudo mostrar a relação de satisfação daqueles que moram próximos aos oceanos, até agora ninguém explicou por que isso acontece, apesar de muitas hipóteses. Quero dizer, neurologicamente há suspeitas, no entanto ainda sem comprovações científicas. O estudo avisa que há poucas evidências para comprovar ou apontar quais são os aspectos fisiológicos afetados quando estamos perto do mar e apenas sugere que essa convivência causa um efeito positivo na saúde. E quem desacredita?
Clarice Lispector aprendeu na infância que o mar era matéria curativa e um banho em jejum, nas primeiras horas do dia, não só curava como revigorava a mais medíocre vida. Desde então, o mar virou fonte de inspiração dessa grande escritora e de outros tantos, como bem sabemos. Albert Einstein foi outra personalidade a defender a praia como local ideal para a reflexão. A própria sabedoria popular defende as qualidades das águas salgadas, iodadas. Antes de Cristo, Hipócrates já indicava a água marinha para a cura de muitos males humanos. Médicos europeus, há séculos, recomendavam o mar para acabar com doenças várias. Enfim se o mar realmente cura o corpo a ciência não diz, mas o fato é que mudamos quando estamos em contato com ele.
Quem não gosta de caminhar na areia, mergulhar na água salgada antes de iniciar a rotina do seu dia? E quem não aprecia a paisagem do horizonte a caminho do trabalho, da escola? Quem não dá tudo por um banho de mar no fim do dia, ou melhor, no meio dele, só para sair do ambiente profissional ou da pressão que move a vida atualmente? Aquele que não liga para o mar, posso afirmar, bom sujeito não é. Mesmo que não goste de tomar banho porque não tolera água fria, ainda assim, esse ser não duvida da sua beleza, da capacidade de equilíbrio que produz a visão do horizonte ou do barulho das ondas que induz ao relaxamento. A praia, além de tudo, é lugar democrático – ou pelo menos deveria ser – onde os corpos à mostra convivem juntos e independentemente das formas, tamanhos ou condições sociais de seus donos. Ali, todos podem ganhar os carinhos, os afagos das ondas e também da brisa marinha. E porque estamos cercados desta água milagrosa por todos os lados, deixo aqui minha homenagem à Ilha de Santa Catarina, que nesta semana fica mais velha, ainda que muito bem na foto.
Parabéns, minha Ilha querida, que mantenhas sempre teus olhos no mar e preserves esta bela paisagem que possuis sem deixares que te obstruam com placas comerciais, outdoors de mensagens vazias e prédios erguidos entre teus habitantes e o horizonte. Que as edificações fiquem sempre atrás dos caminhos que nos levam ou rodeiam tuas praias. Feliz idade nova e que ela te traga sabedoria em dobro para preservares o que ainda tens de mais belo.
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