O corpo não para mesmo quando ele está sentado. Para conversar, Felipe Rosa Cardoso, 19 anos, se mexe como se estivesse no palco. As mãos vão ao lado do rosto, os ombros simulam movimentos e os pés não param quietos. Não é à toa que o garoto de Joinville, que começou a dançar há pouco mais de quatro anos, esteja entre uma das revelações deste festival com o primeiro lugar na categoria solo masculino avançado de danças urbanas e indicação de melhor bailarino.
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Agora, falando com esse rapaz de sorriso tranquilo, nem dá para imaginar os percalços que ele passou para chegar até aqui. Mas isso também não é fácil descobrir, porque na boca de Felipe é tudo muito natural e nada é dito como se fosse uma provação ou sofrimento. É que ele perdeu o pai quando tinha três anos, e a mãe, quando completou nove.
– Eu era muito pequeno e quase não me lembro do meu pai. Já da minha mãe eu senti muito, mas minha família tentou suprir essa falta – diz ele.
Aliás, a família é uma das coisas mais citadas pelo rapaz. Ele mora com a irmã e é com ela que decide tudo o que vai fazer.
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– Não posso pensar em qualquer coisa sem dividir com ela. Somos muito ligados e ela me apoia muito. É até uma questão de respeito, sabe? Não consigo tomar uma decisão sem dividir com ela.
O interesse pela dança de rua apareceu depois que conheceu o trabalho de um grupo de Joinville. Aos 15 anos, ele já tinha passado por aulas de capoeira e cavaquinho. Para a família – ele tem outros dois irmãos mais velhos, sobrinhas, tios, tias, primos e primas todos muito presentes e incentivadores de sua carreira – a dança de rua seria mais um dos amores do adolescente Felipe, que costumava perder o interesse pelas atividades depois de um tempo.
– Eles não colocavam fé. Era como se eu estivesse apenas empolgado. Depois que perceberam o quanto gosto disso, passaram a ser meus maiores apoiadores.
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Foi então que Felipe conheceu o Maniacs Crew-Germano Timm e começou sua carreira na dança. Subir pela primeira vez no palco do Centreventos e ao lado de grandes nomes de Joinville, São Paulo e Ceará não foi tarefa fácil. Felipe admite que a perna tremeu.
– É todo mundo amigo, mas quando vi Kahal, Eliseo e Elisandro se preparando, fiquei com medo. Os caras estão aí há mais tempo e são pessoas que admiro e nas quais me inspirei.
A saída do palco foi um misto de alegria e incerteza. Sem esperanças de ouvir seu nome entre os colocados, Felipe estava tranquilo e foi como um golpe que ele escutou o próprio nome e recebeu os abraços e gritos da família, amigos e conhecidos. O choro veio fácil e cheio de significado.
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– Esse ano está sendo punk para mim. É o reconhecimento mesmo e isso que eu nem esperava. Estou feliz porque acho que muitas portas vão se abrir – confia Felipe, que dá aulas em um projeto social e anseia por um trabalho que possa conciliar com o segundo ano da faculdade de Educação Física.
No meio da conversa, esse garoto que se criou e mora no Profipo, cita o estilo dos homens que passam pelo Central Park, em Nova York, e o figurino do filme Forrest Gump sem fazer esforço. Pensando na carreira, Felipe faz a faculdade para trabalhar com dança. E a possibilidade de alçar novos voos em cidades maiores?
– Por enquanto vou ficar por aqui e trabalhar com o grupo. Tenho minha família, minha faculdade, tudo está aqui.
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Sobre o estado civil, o rapaz manda dizer que está solteiro, mas que a fama repentina o tem colocado nos radares das meninas.
– Ah, já rola um olhar, uma coisa diferente, né? – diz, achando graça e feliz da vida com essa vida nova que começou com a dança e promete ainda muitas emoções pela frente.