Gaúcho de Passo Fundo, o técnico da Seleção Brasileira, Luiz Felipe Scolari, foi o escolhido pela Fifa para falar sobre Porto Alegre como cidade-sede da Copa do Mundo de 2014. A entrevista foi publicada nesta sexta-feira no site oficial da entidade (www.fifa.com).
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Felipão promove a cidade, segundo ele “muito acolhedora”, e o Estado. Sugere a quem visitar Porto Alegre para o Mundial um passeio à serra Gaúcha, uma “minieuropa”, de acordo com Felipão. O treinador também enaltece os gaúchos, como pessoas muito tradicionais e carinhosas.
Confira a íntegra da entrevista de Felipão ao site da Fifa:
Fifa – Felipão, quando você pensa em Copa do Mundo, qual é a primeira memória, de infância, que vem à mente?
Luiz Felipe Scolari – A primeira é de quando eu tinha dez anos, em 1958. Até hoje lembro de ouvir a Copa pelas rádios do Rio Grande do Sul: a narração do jogo que a gente ouvia lá de longe…. naqueles rádios de válvula. Eu já gostava de futebol, mas a gente não tinha imagem, então ficava só imaginando como eram Vavá, Zito, Pelé, Garrincha… E ainda ficava imaginando como eram os lances. Então, o narrador dizia: “Chutou e a bola passa rente à trave:. Uns lances que hoje a gente vê pela televisão e a bola passa a um metro e meio. (risos) Naquele tempo, era mais no imaginário.
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Fifa – E sobre a derrota na Copa de 1950: quando criança escutou algum comentário vindo de seus pais?
Scolari – Não, não.. Porque eu nasci em 1948 e, além disso, meu pai… Ele gostava de jogar futebol e até jogou em clubes amadores – e dizem, aliás, que era muito bom jogador. Mas ele não incentivava minha participação no futebol; ele se mantinha um pouco longe. Porque naquela época o futebol ainda era visto de um jeito diferente. Então, eu só fui jogar bola na rua depois dos oito, dez anos. E isso que eu morava num local em Passo Fundo em que na frente da minha casa tinha um campo. Eu vivia ali jogando bola.
Fifa – Como gaúcho, o que você recomendaria a quem vem acompanhar alguma partida da Copa em Porto Alegre – tanto na cidade em si quanto ao redor dela?
Scolari – Bom, no entorno da cidade, quem tiver a oportunidade de conhecer a Serra Gaúcha tem que fazer isso. É uma minieuropa. E isso está em tudo: nos costumes, nas próprias cidades, na população – que, no geral, é de oriundos da Europa. Aquela zona de Gramado, Canela, Caxias, Bento Gonçalves é linda demais e, à sua maneira, se assemelha muito à Europa. E, quanto a Porto Alegre em si, a cidade oferece demais. Eu fico imaginando o que vai ser, para os turistas, passear ali pela zona do Cais do Porto, que deve estar linda, ou na parte antiga do centro da cidade. É uma cidade muito acolhedora. E os costumes são algo muito curioso no Rio Grande do Sul: o modo como se recebem os visitantes. Nós, gaúchos, somos muito tradicionais, mas somos carinhosos. Quem tiver a oportunidade de passear pelo Rio Grande do Sul vai gostar demais.
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Fifa – É curioso você falar sobre essa mescla de culturas: uma campanha promocional do estado do Rio Grande do Sul para a Copa se intitula justamente “Aqui todo mundo se sente em casa”, por causa dessa diversidade…
Scolari – Mas é verdade. Nós temos uma população de descendentes principalmente de italianos e alemães que deixou muitas marcas: o alemão foi pra zona dos rios, o italiano para as montanhas; os alemães com as flores enfeitando as cidades e os italianos com as hortas, no interior. Você encontra cidades onde quase todos falam esses idiomas. É tudo muito típico.
Fifa – E é notório como, no geral, o povo do Rio Grande do Sul tende a ser muito orgulhoso das tradições locais. É assim com você também?
Scolari – É sim, porque os costumes são muito marcados. Eu, por exemplo, nunca fui de puxar pelo bairrismo, de dizer que é o melhor lugar, de ensinar isso dentro de casa. Mas eu vejo com orgulho e satisfação como meus dois filhos, quando falam do Rio Grande do Sul, sempre dizem: “Ah, mas lá é demais”. Nós, gaúchos, temos uma coisa um pouco nossa: quase todo gaúcho sabe o hino do estado e o canta. Isso é diferente dos outros lugares. E têm mesmo muitos costumes regionais que nós valorizamos: aquele ambiente de camaradagem, de se juntar a família para se tomar chimarrão… Isso é muito gaúcho.
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Fifa – Você retornou ao Brasil para treinar o Palmeiras em 2010 após sete anos no exterior, e num período em que o país mudou muito. Você de fato observou essas mudanças?
Scolari – Eu vejo mudança, sim, na situação econômica, que acho que melhorou, sobretudo para uma certa parte da população. Isso se sente e se nota. Eu senti isso no aspecto da cidadania, na ascensão social de algumas classes. É, a meu ver, um trabalho bem feito desses últimos 15 ou 20 anos.
Fifa – E, para você, a Copa do Mundo tem potencial para ajudar esse cenário?
Scolari – Acho que sim. A Copa pode servir para que se façam melhorias no país todo: melhorias que deviam ter sido feitas há muitos anos e que só agora acontecerão, se não completamente, ao menos em parte. A ideia que tenho e que gostaria de ver em prática é desse tipo de melhoria: para trazer ganhos futuros à população; ganhos que a própria população às vezes nem imagina.