É meia-noite de uma sexta-feira, e Ilda Keller ainda não está na cama. Ao contrário, a senhora de 75 anos bate perna sob o estande que fica ao lado do Mercado Público Municipal de Jaraguá do Sul. É dali que ela levará as frutas e legumes que vão garantir a alimentação da família pelas próximas duas semanas. Acompanhada dos filhos Ivo e Elvira, Ilda é mais uma entre os muitos moradores de Jaraguá que vão dormir mais tarde para garantir alimentos frescos. A movimentação é intensa e mostra um outro lado da vida noturna da cidade.
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A feira de verduras e legumes virou tradição. Apesar de ocorrer em outros dias, nos bairros, é a sexta-feira à noite que atrai o maior número de visitantes. A organização começa por volta de 22 horas e os estandes são abertos entre 23 horas e meia-noite. João Marcelo Gelsleichter traz as verduras de sua cidade, Antonio Carlos, na região de Florianópolis, e de produtores pelos quais passa no caminho. Já a família da feirante Marilene Watzko, de Jaraguá, viaja pela região e vai até São Paulo para garantir os alimentos. Os dois feirantes não sabem precisar o número de pessoas que passa por ali, porém a quantidade de alimentos vendidos impressiona. Cada um traz ao menos dois caminhões cheios de frutas e verduras, somando de 600 a 800 caixas por barraca.
Marcelo conta que a feira começou há cerca de 18 anos. O horário peculiar foi, segundo ele, um pedido dos próprios consumidores: muitos aproveitam o horário de saída e entrada das fábricas para fazer as compras. O público parece adaptar-se à compra noturna. Segundo Marcelo, o horário de pico é à meia-noite e meia e, depois, por volta de 3 horas. Quem deixa para comprar pela manhã pode acabar sem muitas opções de produtos.
– Tem dias que há produtos até as 6 horas, porém não dá para garantir – sorri o feirante.
Horário que compensa
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O público da feira é diversificado. Edimir Soares faz as compras a cada 15 dias. Ele sai do bairro Ribeirão Cavalo exclusivamente para ir à feira. Ele diz que vale a pena pela variedade e o bom preço. Já Yone Rocha aproveitou a noite. Ela saiu direto de uma festa e entrou na fila para garantir os produtos da semana. Outros precisam segurar o sono. A compradora Edilene Rodrigues costuma ir para a cama às 20 horas, porém, nas sextas-feiras, ela vai dormir mais tarde para frequentar a feira. Funcionando no estilo sacolão, todos os produtos são vendidos pelo preço único de R$ 1,55 o quilo. Apenas os maços verdes, como rúcula, alface ou couve, são vendidos separadamente. Em cada barraca, são mais de 50 tipos de alimentos.
Giro na economia
– Em relação ao mercado, dá quase 40% de economia, e o produto é bom. Eu aproveito e passo a diferença para o consumidor, consigo deixar meu produto mais em conta – explica Dirceu Manchen, proprietário do Restaurante e Pizzaria Ana Bella.
Ao redor desse comércio também crescem outros. Há um ano e meio, Rodrigo Ueti levou para a feira uma iguaria que é tradicional nos sacolões paulistas. Descendente de japoneses, ele herdou uma receita de pastel que é vendido na madrugada. Apesar do horário tardio, ele garante que compensa. São cerca de 150 pastéis vendidos por noite, nos variados sabores que ele apresenta ao público. Cucas, bolachas, salames e queijos também podem ser encontrados em barraquinhas que estão no local.