O ensino aplicado na prática. Nesta segunda-feira, 7, o maior colégio público de Florianópolis, a Escola Básica Municipal Herondina Medeiros Zeferino, nos Ingleses, recebeu a 3ª Feira Municipal de Matemática e Ciências. Ao longo de todo o dia, os alunos do ensino infantil e fundamental puderam experimentar e mostrar aos cerca de 2 mil visitantes como o ensino dos conceitos matemáticos e científicos podem ser utilizados no dia a dia.

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Ao todo, participaram 36 escolas municipais e foram apresentados 31 trabalhos de matemática, sendo que os cinco melhores foram selecionados para a Feira Estadual de Matemática que acontece em Criciúma, no dia 11 de setembro, e 25 trabalhos de ciências, com a seleção dos 10 melhores para a 16ª Semana de Pesquisa e Extensão da UFSC, que acontece em outubro.

— A feira é um momento riquíssimo, com uma dinâmica diferenciada e uma criação de conhecimento bastante vasta. Aqui, a gente vê a aplicação do conhecimento no cotidiano, na realidade do aluno — comentou o coordenador da feira e professor de matemática, Lindomar Duarte de Souza.

Um dos trabalhos de ciências que mais chamou a atenção de quem passou pela feira foi o realizado por alunos da própria escola Herondina Medeiros Zeferino. Rafaela, de 13 anos, e Pedro, de 12 anos, criaram um sistema computadorizado que movimenta mecanicamente uma maquete, também feita por eles. A réplica de uma cidade tem uma ponte cuja cancela se abre ao toque de um botão no computador ou postes de luz que são acesos com o mesmo mecanismo.

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— Pensamos em fazer alguma coisa usando tudo o que a gente aprendeu nas aulas de Engenharia e Tecnologia (extracurricular). Até que foi bem simples fazer tudo isso, ligamos o computador à maquete usando arduinos (plataforma eletrônica de baixo custo) e adaptamos um aplicativo às funções que queríamos — contou, modestamente, Rafaela.

O secretário municipal de Educação, Maurício Fernandes Pereira, ficou impressionado com a qualidade dos trabalhos apresentados e disse que o maior valor da feira é responder à clássica pergunta dos alunos: “onde é que eu vou usar isso?”.

— Aqui, as crianças conseguem sair da sala de aula para o “mundo real”, colocar na prática o que aprendem. A gente vê a alegria e a motivação deles apresentando os trabalhos — afirmou.

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História local em foco

Mas não foi apenas uma feira de matemática e ciências. Ao menos para a turma do 1º ano da Escola Herondina Medeiros Zeferino. Em um processo interdisciplinar desenvolvido pela professora Jeanice Back Andrade, os alunos puderam aprender — e passar adiante — um pouco da história local, especialmente do Norte da Ilha, com o trabalho intitulado “Ilha da Magia — Do Homem do Sambaqui à Etnomatemática”.

— A gente percebe que tem muito aluno de fora, e até mesmo os que são nativos não conhecem a cultura local. Partindo disso, aproveitei as inscrições rupestres que o homem do Sambaqui deixou, além da história dos índios e dos açorianos, para fazer a alfabetização e o início do ensino da matemática — contou a professora.

Este trabalho de resgate da cultura local, usando a matemática como pano de fundo, por meio de jogos, trilhas e visitas a locais históricos, animou os alunos Enzo e Júlia, responsáveis pela apresentação na feira. Empolgado com a desenvoltura do filho, Luiz Bittencourt Soares, de 33 anos, não escondia o sorriso na hora de buscar Enzo para o almoço.

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— Ele gostou bastante, deu para ver a vontade dele de buscar conhecimento e querer saber cada vez mais. Isso aguçou toda a família, a gente começou a estudar junto com ele para ajudar no processo e também passamos a conhecer muita coisa nova — comentou Luiz.

Espaço de inclusão

No piso da escola destinado aos trabalhos de ciências, também houve espaço para a inclusão. Em uma das turmas da 6ª série do ensino fundamental da Escola Herondina Medeiros Zeferino estuda o pequeno Vinycius, que completa 12 anos no dia 17 de agosto. Cego desde o nascimento, Vinycius e os colegas trabalharam em um projeto que permitisse a participação de todos igualmente.

— A educação tem que ser universal. Não temos projetos só para surdos ou só para cegos. São projetos para todos, independentemente das limitações. Neste jogo, trabalhamos o conceito de sinestesia, que é o uso de diferentes informações para chegar a um resultado, como a percepção tátil, auditiva e visual — conta a professora Larissa Zanette.

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No projeto “Pisos Táteis”, seis placas com diferentes texturas estão dispostas no chão: papel dobrado, papel em tiras, papel encaracolado, semente de garapuvu, folhas secas e espuma. A proposta é que o visitante caminhe descalço com os olhos vendados, e tente descobrir qual o tipo de piso em cada placa.

— É bem legal, porque dá pra perceber a diferença de cada um. Só fiquei em dúvida no papel em tiras, confundi um pouco com as folhas secas por causa do barulho — disse Vinycius, antes de convidar Larissa para caminhar nas placas. — Brinca um pouco, “profe”.

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