Imagine trabalhar 12 anos em uma empresa, sentir o efeito da crise e ser demitido. Realidade que muita gente sentiu na pele, como a professora Christiane Correia, de 38 anos. Ela foi dispensada da escola particular em que trabalhava e junto do marido, o designer gráfico Jailson Ramos, 39, decidiu não ficar parada. Eles encontraram apoio no Instituto de Geração de Oportunidades de Florianópolis (Igeof) e viram na Feira da Maricota, realizada aos sábados no centro da cidade, a oportunidade de crescer e o melhor, de ser feliz.
Continua depois da publicidade
O caso de Christiane não é único entre os stands da feira que, desde maio, rola na frente do Ticen, na Avenida Paulo Fontes. As vendas começam em ponto às 13h e seguem até as 18h. No segundo sábado do mês, a feira começa de manhã, das 9h às 17h.
Leia mais notícias sobre trabalho e emprego no Espaço do Trabalhador
A Feira da Maricota dá aquela forcinha para muita gente sair do buraco da crise. Chris e Jailson, por exemplo, aproveitaram o trabalho de conclusão de curso de faculdade dele, que criou alguns souvenires de Floripa para turistas. A marca ¿Coisas de Flonóplix¿ tem roupinhas e bebês, canecas e copos com frases manezinhas. As vendas com a Feira aumentaram em 50%. Côsa linda, mô quirido!
Continua depois da publicidade
— O Igeof abriu a oportunidade para nós. Fiz um curso de vendas para artesãos onde aprendemos a melhor forma de apresentar o produto ao cliente, como chamar as pessoas. Fiz até um curso de corte e costura — fala hoje uma sorridente ex-professora.
A artesã Elaine Kinetz, de 50, trabalha há oito com costura criativa. Faz coisas fofas como nécessaires em seu Atelier Viva Arte. E apesar de ter na atividade um extra — ela trabalhava com vendas e administração antes — hoje o ramo é sua renda oficial. Elaine também fez o curso para artesãos que o Igeof realiza para capacitar os vendedores da Feira da Maricota. Com as dicas, ela acredita num aumento de 50% nas suas vendas.
— Aprendi a tratar melhor o cliente da cidade e o turista. Dar boas vidas à Floripa, dicas de passeios. Ser simpático traz muito resultado e o curso trouxe isso — observou a artesã.
Continua depois da publicidade
Com a cara de Floripa
Segundo Ana Mercedes, responsável pelo setor de feiras de artesanato do Igeof, foi percebida uma carência em Floripa de produtos tipicamente manezinhos. Aqueles presentinhos para os turistas levarem para casa, não tem? Com essa sugestão aos artesões já cadastrados pelo instituto, muitos passaram a investir em peças com a cara da cidade.
Adriana Demétrio da Rosa, 42, trabalha com biscuit desde 2010, quando expôs na Fenaostra daquele ano. Ela investiu em peças como a Bernunça e o Boi de Mamão. O que mais faz sucesso é a Bernunça engolindo Mané João. As crianças adoram. Tanto que as avós Marivone Furtado, 62, e Marília Oliveira, 63, levaram juntas o netinho Francisco Furtado Nietsche, de dois anos, para feira e ele conseguiu sua lembrança manezinha.
— Eu estou adorando a feira e os produtos daqui. Tenho certeza que vai fazer toda a diferença para a cidade — disse a vó Marília.
Continua depois da publicidade
Com a demanda, a artesã Adriana conta com a apoio da irmã, Léia Demétrio, 45, que antes só fazia biscuit como terapia. Com a Feira da Maricota, ela encara o projeto de forma mais ampla e acredita que é possível colocar Floripa no mapa de feiras nacionais.
— A Feira pode ajudar a revitalizar o Centro de Floripa. Não temos hoje uma feira referência no estado, e tem tudo para se tornar. É isso que queremos — acredita Léia.
Comes e bebes deliciosos
Além dos produtos, a Feira da Maricota tem uma porção de vendedores de comes e bebes. Tem brigadeiro, bolo de potinho, crepes, salgados, biscoitos caseiros, pão e muitas outras coisas gostosas.
Continua depois da publicidade
No meio dos manezinhos tem um vendedor com uma história bastante comovente. O refugiado sírio Yahya Zakaria Alnablsi, de 33 anos, encontrou na Feira sua motivação de vida e agora sua renda. Fugido da guerra, conseguiu ir para a Jordânia e de lá, optou em se mudar para o Brasil para recomeçar a vida. Sua mãe vendeu as jóias para os quatro filhos conseguirem viajar. O Brasil surgiu como a opção mais barata. Enquanto ir para a Europa de navio custava 2 mil dólares, de avião, para cá, custava 800 dólares.
E Floripa? Yahya digitou na internet: a melhor e mais segura cidade. Plim! No resultado das buscas online apareceu a ilha como sugestão e o sírio veio de vez pra cá. Mas o início foi difícil. Ele passou fome e chegou a morar na rua. Teve ajuda de amigos que o abrigaram e encontrou em seguida um emprego em uma lanchonete da UFSC. Daí surgiu a ideia de seu próprio negócio. Com o apoio do Igeof, fez curso de vendas e de manipulação de alimentos. Agora está felizão da vida e com Floripa para sempre no coração.
— Agora estou empregado e com renda. Ganho o suficiente para viver e é isso que importa — observa o sírio.
Continua depois da publicidade
Yahya vende salgados, entre eles o kibe e o tradicional ¿Falafel¿, salgado típico sírio. A Hora provou a iguaria e avisa: o manezinho vai lamber os beiços com essa delícia.
Quer participar?
Hoje, a Feira da Maricota trabalha com 250 expositores de artesanato, artes plásticas e gastronomia. Toda essa turma é cadastrada no Igeof. Segundo a responsável, Ana Mercedes, o objetivo é que todos os participantes façam o curso de capacitação oferecido pelo instituto, para aprimorar as vendas.
O professor responsável pelo curso, Antônio José de Souza, observa que muitos artesãos têm dificuldade para vender.
Continua depois da publicidade
— O artesão é um artista e muitas vezes ele não tem técnica para vendas, para lidar com pessoas, colocar preço em seus produtos. A capacitação vem para esclarecer, dar dicas sobre o negócio — diz o professor.
Para se capacitar, o artesão deve procurar o Igeof na rua Deodoro, 209, no Centro, ou pelo telefone (48) 3251-6164. A oportunidade é gratuita.
Para participar da feira, existe uma avaliação mensal. Atualmente, conta Ana Mercedes, 120 interessados estão na lista para participar da Maricota. O interessado deve mandar um e-mail para feiradamaricota@gmail.com com dados e fotos dos produtos que fabrica como artesão. Os trabalhos são avaliados por uma comissão do Igeof e se aprovados, são encaminhados para expor na feira.
Continua depois da publicidade