Desde o último dia 10, visitantes, estudantes e pesquisadores estão impedidos de ir ao Museu de Arqueologia e Etnologia (MArquE) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Entre colocar em risco a integridade física dos frequentadores e a preservação do acervo ou cessar as atividades, a direção do local avaliou que não teria outra alternativa que não fechar as portas por tempo indefinido. Um encaminhamento para solucionar o impasse é esperado para o dia 17, data em que o reitor Ubaldo Cesar Balthazar irá conferir as condições das instalações.
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– Há pontos com infiltração e goteiras que podem comprometer a marquise e a parte elétrica – diz a diretora Luciana Cardoso.
Quando chove bastante, acrescenta ela, alguns dutos por onde passa a fiação enchem, provocando queda de energia. A entrada indesejada de líquido já obrigou a retirada de lâmpadas para evitar curto-circuitos. Além disso, complementa a diretora, não há rampas de acesso para pessoas com dificuldades de locomoção. Em caso de incêndio, o elevador que hoje serve esse público pararia de funcionar. A única saída de emergência no segundo andar leva para o pátio interno do museu, o que equivale a “fugir para dentro”, conforme descreve Luciana.
A preocupação com a segurança se entende às mais de 40 mil peças guardadas no museu, incluindo uma das maiores coleções de arqueologia indígena da região Sul e as obras de Franklin Cascaes (1908-1993), figura-chave no estudo e preservação da cultura açoriana em Florianópolis. Perto da sala de reserva técnica, onde são guardados os itens que não estão em exposição, por exemplo, uma goteira lembra que, se nada for feito, também o acervo será afetado.
A decisão de interromper o atendimento foi tomada pelos 13 funcionários no dia 5, 36 horas depois de o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, ser destruído pelo fogo. No dia 6, foi divulgada uma carta aberta à comunidade comunicando a resolução. “Vários foram os pedidos de manutenção predial, de acompanhamento institucional para elaboração e gestão de projetos estruturais, bem como tentativas de encaminhar a elaboração de um Plano de Gestão de Riscos, que culminaria em um Plano de Segurança e Emergência”. O agravante é que o prédio que abriga o MArquE foi inaugurado há apenas cinco anos. Segundo Luciana, que assumiu o cargo há dois meses, relatórios de 2015 já apontavam a precariedade da obra:
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– Aí foi se desgastando com o tempo. Não sabemos se é por causa do projeto ou do material utilizado, mas existem construções bem mais antigas aqui na UFSC mesmo que nunca apresentaram esses problemas.
A reabertura, prossegue a diretora, está condicionada à obtenção do alvará do Corpo de Bombeiros e do habite-se da prefeitura, o museu funcionava sem essas permissões obrigatórias. Os dois documentos, porém, não irão resolver uma questão que pode fazer com que em um futuro muito próximo o espaço volte a discutir sua viabilidade: a falta de verbas. Para se ter uma ideia, os caminhos que destinam recursos a um museu universitário são tão tortuosos que a diretora não é capaz de precisar o volume de aportes recebido nos últimos anos nem o quanto seria necessário para se manter.
Após a tragédia do Museu Nacional, o governo federal baixou a medida provisória (MP) 850, determinando a criação da Agência Brasileira de Museus (Abram), sucessora do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). A nova entidade terá um orçamento de R$ 200 milhões, mas, se não mudar a forma como o dinheiro é distribuído, acredita Luciana, as chances de alguma parte disso chegar ao MArquE são incertas.
– Talvez fosse o caso de discutir uma maior autonomia dos museus quanto à gestão orçamentária – sugere.
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Interrupção das atividades
surpreendeu universidade
O fechamento do MArquE pegou o comando da UFSC de surpresa. Pelo menos, é o que garante o chefe de gabinete da reitoria, Áureo Moraes. De acordo com ele, embora a carta aberta à comunidade justifique a interrupção das atividades com a alegação de que “talvez as instâncias de diálogo estejam esgotadas”, a administração da universidade considerou a decisão precipitada e unilateral.
– Fomos comunicados na véspera do feriado, sem tempo hábil de esboçarmos alguma reação. Também não entendemos quando é dito que as pedidos vêm de longa data. Não encontramos, nos últimos três anos, nenhum memorando reivindicando melhorias no museu – afirma.
O modelo de gestão da UFSC prevê que cada unidade administrativa gerencie seus próprios recursos, explica. Nessa configuração, quem responde pelos aportes destinados ao MArquE é o gabinete da reitoria, a área chefiada por ele. A expectativa de Moraes é de chegar o mais rápido possível a um consenso quanto à volta das atividades depois da visita do reitor Ubaldo Cesar Balthazar ao local, marcada para o próximo dia 17, Afinal, ressalta, “estamos todos do mesmo lado” e “autonomia não garantiria as verbas necessárias”.