“Fazer resumo e repetir exercícios”, indica “concurseiro” aprovado na UFSC

O Brasil vive um dos melhores momentos para “concurseiros”, aquelas pessoas que dedicam boa parte da rotina no preparo para enfrentar as provas seletivas dos mais variados setores e órgãos do poder público. Há vários concursos em andamento. São mais concursos abertos no primeiro semestre deste ano do que o total aberto nos anos de 2021 e 2023.

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Na reportagem a seguir você vai conhecer a história de pessoas deste universo. Todas ligadas pelo mesmo objetivo: os concursos públicos. Entre eles está Bernardo de França da Silva, 30 anos. Desde outubro do ano passado, ele é assistente em administração na biblioteca do Colégio Aplicação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em Florianópolis. A decisão dele em fazer concurso público passou pela forma de como pensa o mercado do trabalho:

– Nunca me enxerguei nas exigências da iniciativa privada sobre dar conta de várias demandas, perseguir resultados e bater metas. Penso que o trabalho não seja isso, é um meio de viver no qual a pessoa não precisa sair extenuada, comprometer a própria saúde, adoecer. Refleti sobre essas condições, mas também considerei a questão da estabilidade que se consegue após o estágio probatório – conta.

Formado em Letras pela UFSC, Bernardo é instrumentista, toca tamborim e também faz aulas de canto. O risco da demissão de uma hora para outra, fantasma que ronda os trabalhadores, foi algo que Bernardo não quis por perto. Para o concurso feito na UFSC, Bernardo estudou por conta própria. Mas reconhece que contou com a ajuda dos amigos, que compartilhavam textos, PDFs e conteúdos diferenciados na preparação. Ele também fez assinatura de um site com questões, provas e videoaulas. Além de pegar dicas com conhecidos que já tinham encarado concursos.

– Lembro de uma pessoa que me sugeriu algo importante: cronometrar o tempo de estudo de determinado assunto. Isso me mostrava onde eu precisava me dedicar mais.

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Vida de “concurseiro” que gosta tocar seu tamborim não é fácil. Bernardo conta que precisou equilibrar a participação em rodas de samba e das saídas com a namorada. Na reta final, precisou ficar mais em casa e dizer não aos amigos. Mas acha que cada pessoa deve buscar o seu próprio equilíbrio. Ele usa o termo “renúncia” para falar dos tempos de “concurseiro”:

– Muita gente esquece de tudo ao redor e foca só no estudar. Acho importante atentar para a saúde mental e não errar a mão, em se possibilitar também ter um descanso.

Bernardo tentou algumas vezes e ainda enquanto estudante. A primeira vez foi em 2013. Em 2020, já formado, conseguiu dedicar-se mais, foi aprovado em 2022, e chamado no mesmo ano. Ele se diz satisfeito com o trabalho que faz, especialmente pelo aprendizado que tem junto com o público, no caso, as crianças que estudam no Colégio Aplicação.

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Bernardo aconselha o concurso público para pessoas que assim como ele não se identificam com um conceito de trabalho que às vezes faz adoecer. E dá dicas sobre como se preparar para provas:

– Acho que fazer resumo, repetir exercícios e questões é um bom caminho.

No mais, é manter a calma. Para quem fez o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) sobre a obra do cantor e compositor Paulinho da Viola, Bernardo até poderia sugerir os versos da música “Timoneiro”:

“Não sou eu quem me navega/ Quem me navega é o mar/Não sou eu quem me navega/Quem me navega é o mar/É ele quem me carrega/ Como nem fosse levar…”

“Não perdi a esperança”, diz “concurseira” em fase de estudos

A assistente social Angelita da Luz de Toledo, 45 anos, sempre atuou no campo popular. Formada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), desde o começo esteve ligada a movimentos sociais e não pensava em um emprego fixo, especialmente, dentro do serviço público. Em 2022, percebeu que poderia ser uma saída para demandas que a vida apresenta ao longo do tempo:

– Meus sonhos sempre foram mais coletivos do que individuais, mas estou apostando nessa possibilidade. Já consegui classificação em três concursos, mas ainda não fui chamada. Sigo estudando e de olho em novas oportunidades.

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Angelita comprou um curso on-line específico para a área de atuação e pretensão profissional e faz seus estudos em casa, mas seguindo orientação e direcionamento. Como trabalha fora, consegue dedicar três horas do dia para ver e rever os conteúdos. Para ela, manter a disciplina e a constâncias nos estudos podem fazer a diferença na conquista dos objetivos:

– Acredito que a preparação seja o melhor caminho. Anteriormente tentei alguns concursos sem uma preparação mais orgânica e o resultado não foi o desejado. Acredito que manter a disciplina e a constância nos estudos podem ser o fator diferencial. Para isso, é preciso estar consciente e fazer escolhas ainda que com uma agenda mais flexível.

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Angelita diz que despertou tardiamente para a possibilidade de fazer concurso, mas que considera a possibilidade como uma alternativa interessante para as pessoas exercerem as atividades profissionais com algumas garantias nem sempre vislumbradas no terceiro setor.

Sobre concursos que abrem vagas em outras cidades ou mesmo estados, a assistente social acredita que não deva ser um empecilho:

– Busco passar no concurso desejado. Se for em outra cidade, não vejo problemas. Às vezes, passar em concurso menos cobiçado pode ser uma estratégia para que tenha a segurança de alçar voos maiores em outros de grande projeção.

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Quanto à espera de que muitos aprovados passam até serem chamados, ela apela para a necessidade de paciência:

– Vivo esta experiência e não perdi a esperança. Enquanto isso, sigo empenhada em não perder o foco e manter a expectativa que em algum momento as coisas vão acontecer. A estabilidade é um grande passo para se poder reavaliar as perspectivas profissionais.

Veja dicas de como estudar para concursos públicos:

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