Uma das histórias que marcaram minha infância falava de uma menina que passava seus dias na beira da praia recolhendo as estrelas do mar que as ondas deixavam sobre a areia. Reunia-as em um pequeno balde para depois devolvê-las ao oceano. Curioso, um adulto que a observava perguntou por que fazia aquilo. Ela explicou que tinha a missão de salvar as estrelinhas.

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Perplexo com a dimensão da tarefa a que a menina se propunha, o homem, com delicadeza, procurou explicar o tamanho da costa, mostrando que a proporção de estrelas que a menina poderia recolher na areia seria irrelevante. A menina escutou com atenção, e quando ele concluiu seu raciocínio, disse:

– Eu sei que não vou salvar a maioria das estrelas que existem no mundo. Mas para estas, que devolvi ao mar, eu fiz a diferença.

Revisitei esta história por muitos anos, até que, aos 15, tive a oportunidade de protagonizar uma versão, quando descobria as possibilidades das palavras e arriscava meus primeiros textos. Minha avó paterna, coruja com os feitos dos netos, como é típico das avós, achou que um dos versos que escrevi poderia ser publicado e o encaminhou para a revista Família Cristã. O texto saiu junto com o endereço dela, como era praxe nas colaborações.

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Para meu espanto, nos meses que se seguiram recebi mais de 30 cartas de presidiários. Nada pediam. Apenas sentiram-se à vontade para compartilhar com a autora suas histórias de vida, seus descaminhos e arrependimentos pelos atos que os colocaram em privação de liberdade. Foi um choque de realidade para a adolescente que havia se encantado com a fé da pequena coletora de estrelas do mar. Fazer a diferença, então, era realmente possível?

Passei a ficar mais atenta e a corresponder às possibilidades que se apresentam todos os dias: dizer uma palavra de conforto ou encorajamento, oferecer um ouvido disposto a escutar, fazer um gesto de atenção em benefício de alguém. Descobri, com satisfação, o quanto a vida torna-se melhor quando muitas das pessoas que nos cercam também estão envolvidas nestes pequenos, mas significativos, atos de sensibilidade para com o bem-estar dos outros.

Nos últimos anos, um exemplo que me tocou foi protagonizado por um empresário que precisou colocar uma parcela significativa de seus funcionários em férias coletivas devido à crise.

– No dia em que eles retornarem ao trabalho – ele me disse, com os olhos marejados – faço questão que recebam o jornal de nossa empresa com as novidades. Vivemos tempos difíceis, eles já tiveram o desconforto das férias em cima da hora, mas não estamos parados, quero que eles tenham a segurança de acreditar no trabalho que desenvolvem e se sintam bem para construirmos um futuro melhor.

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Fazer a diferença para alguém nas atitudes, nas palavras, nas intenções é algo que está ao nosso alcance, apesar das inconstâncias políticas e econômicas e pode tornar 2017 um ano mais agradável para se viver.