Em dezembro, quando o Corinthians entregar as chaves do Itaquerão para a Fifa, mais de 300 famílias de favelas próximas ao estádio estarão de mudança. Para o desespero delas, o deslocamento será forçado – e o destino, desconhecido. Moradores terão de abandonar suas casas para que prefeitura e Estado conduzam obras viárias na região.

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O principal impacto decorre do projeto de expansão do Parque Linear do Rio Verde. Esboçado em 2004, ele foi incluído no pacote do chamado Polo Institucional de Itaquera, que visa trazer desenvolvimento a uma região de poucos recursos. Conforme consta na apresentação do plano, seis favelas sofreriam “remoção total”: Favela da Paz, Manuel Ribas, Miguel Inácio Curi I, Francisco Munhoz Filho, Lavios e Senabria. Outras três teriam “remoção parcial”: Maria Luiza Americano, Freguesia de Poiares e Jardim Marabá.

Morador da Favela da Paz há 17 anos, o pedreiro André Silva diz que a sensação dos habitantes da comunidade é de incerteza. Não bastasse a condição precária de moradia, com saneamento básico irregular, ninguém da região sabe onde estará ano que vem:

– Estamos sempre aguardando um retorno, uma informação da prefeitura. Nunca vem nada. Parece que estão empurrando com a barriga.

A queixa dos moradores da Favela da Paz é de que diversas reuniões com autoridades foram feitas nos últimos meses e, até o momento, nada foi decidido. O terreno pertence à prefeitura e é administrado pela Cohab. Segundo André, a proposta das autoridades é que os moradores abandonem suas casas para ocupar um terreno a alguns quilômetros dali, na Avenida Líder.

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Outra proposta que chegou aos moradores é uma espécie de “bolsa-aluguel”. Ao saírem de suas casas, receberiam uma quantia de R$ 300 a R$ 400 para manter uma nova habitação. A medida foi rejeitada por todos os moradores. De acordo com eles, o dinheiro não seria suficiente para morar na região. Por isso propuseram um plano alternativo de moradia – com 41 páginas. No documento, citam uma série de locais inabitados na região que estão pronto para morar e desocupado há anos. Ainda não tiveram resposta das autoridades.

Entidades como o Comitê Popular da Copa, formado em 2011 para tratar dos problemas do megaevento, reclamam de uma suposta falta de transparência.

– Pedimos informações e sempre dizem que isso é com outra secretaria, que passa para outro. É uma burocracia sem fim – diz a estudante Talita Gonsales, uma das representantes do comitê.

A Defensoria Pública já se posicionou a favor dos moradores. De acordo com o órgão, a prefeitura deve dar auxílio aos moradores, que habitam o local há mais de 20 anos. Uma remoção violaria os direitos básicos deles. A administração alega está correndo para resolver a situação e que nenhum direito será violado.

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