Uma das trajetórias mais curiosas da Bossa Nova é a do compositor Marcos Valle. No início da carreira, foi do seu estilo de origem à ginga da soul music e às músicas de temática mais forte, destinada aos festivais. Este último período foi registrado em uma ótima caixa lançada ano passado pela EMI. Mas agora, o selo Discobertas traz uma outra face de Valle, em que seu foco foi o funk puxado para o pop.
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A caixa Marcos Valle Anos 80 traz os três álbuns do artista que foram lançados na década de 1980. Se está longe do início, tornou-se sua face mais conhecida pelo público jovem, por conta de Estrelar. A música – um irresistível funk – tem coautoria de Leon Ware e foi divulgada com um clipe que se tornou célebre, com direito a première no programa Fantástico: mostrava Marcos bronzeado, dirigindo um conversível pela ensolarada orla do Rio de Janeiro, enquanto gente bronzeada e em forma praticava atividade física no calçadão ou na areia. À época (1983) havia uma febre de culto ao corpo e à dança inspirada no que acontecia no hemisfério norte.
O músico aproveitou a onda, não só na ginga da música como na letra. “Tem que correr, tem que suar, tem que malhar”, cantava. A faixa é do disco Marcos Valle, lançado originalmente pela Som Livre com produção de Lincoln Olivetti e de Paulo Sérgio Valle, irmão do cantor. Traz interpretações para Tapa no Real, Samba de Verão, Viola Enluarada e como bônus, Bicicleta, single lançado em 1984 no qual Marcos tentou recriar o sucesso de Estrelar, sem o mesmo resultado.
O trabalho antecessor, Vontade de Rever Você (1980), é o melhor dos três. Foi com ele que o músico marcou a volta ao Brasil, depois de viver cinco anos em Los Angeles. Trouxe na mala o groove do funk norte-americano, que misturou com eficiência aos ritmos locais. A Paraíba é Aqui é um dos destaques desse disco, que merece revisão.
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O terceiro disco da caixa, intitulado Tempo de Gente, surge pela primeira vez em CD. De 1986, foi então lançada pela gravadora carioca Arca Som. Tem uma parceria com Erasmo Carlos (Sem Você Não Dá), com João Donato (Pior Que É) e navega por águas um tanto mais pasteurizadas, sem a mesma eficiência dos discos antecedentes.