Lá o bate-estaca prevalece e as paredes disfarçadas de tijolinho à vista indicam que aquele é um lugar diferente de tudo que há no ambiente externo. O ar-condicionado em temperaturas glaciais é uma afronta aos trajes típicos mais curtos ou camisetas de tecido fino que destacam os peitorais hipertrofiados dos homenzarrões. A fumaça constante no espaço e os pilares posicionados no meio da pista de dança até dão a impressão de se estar no saudoso Camorra, mas não: estamos na Oktoberfest.
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Se alguém alheio à festa fosse parar dentro do Camarote The Basement mit Eisenbahn, no Setor 2 do Parque Vila Germânica, provavelmente teria perguntas a fazer. Várias. Garotões e garotonas vestidos de Fritz e Frida mexendo o pescoço para um lado e para o outro enquanto apreciam um house music ou descendo até o chão em funks cariocas não é algo muito fácil de explicar para alguém que caiu de paraquedas lá. Bandas típicas até tocam, mas pelo próprio apelo é fácil perceber que não é isso que o público quer.
É outro universo. É outra festa. Do topo do salão, as pessoas olham para baixo como quando Mufasa explica para Simba em O Rei Leão o tamanho de seu reino. A diferença é que quem está em cima não almeja estar embaixo. Os motivos são fáceis de entender. A começar pela fartura na mesa do bufê que oferece desde salsichões, hackepeter, risoto de queijo fundido, até o mais simples purê de batata que complementa a história – tudo já embutido em valores que partem de R$ 170. O chope que escorre das dezenas de bicas espalhadas também está à disposição em um open bar de cerveja que dá inveja aos foliões que não estão lá.
Mas o que leva uma pessoa a escolher a paradoxal comodidade dentro da Oktoberfest em vez da muvuca dos demais setores na Vila Germânica? Para Mayane Rodrigues, é um combo. Ao lado da amiga Gabriela Merini, ela diz que o conforto proporcionado pelo local apetece mais do que o lado de fora. Não que pisar no concreto dos pavilhões seja um demérito, é claro, mas entre um e outro a opção é sempre pelo frescor do camarote.
– É um lugar mais reservado, que gera proximidade. Se eu recebo amigos que vêm de fora, por exemplo, posso trazê-los aqui sem me preocupar em me perder deles. Os banheiros são limpos e não se pega fila para nada – conta Mayane, enquanto espera pela principal atração da noite, o baile funk com a Errejota, segundo ela, o clímax.
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Trajado tipicamente e com um chapéu abarrotado de bótons, o blumenauense Henrique Schroeder, de 23 anos, olha de cima o desenrolar da Oktober. Lá, em uma espécie de terraço coberto ele aproveita o som das bandinhas que tocam no palco. Diferente do pub montado degraus abaixo, onde não é possível escutar absolutamente nada que está atrás das paredes, estar encimado no camarote é como ter um lugar restrito para curtir a festa.
– É um espaço exclusivo, que me oferece comida boa, bebida à vontade e que tem um público diferenciado. É um misto de coisas, tipo quando você vai comprar um carro. Não se compra ele só por ser bonito, ou só por ser econômico, ou só por ser potente – brinca.
Nessa festa dentro da festa, o som das batidas e a visão dos seletos corpos remexendo o esqueleto ao som de Malandramente se misturam com a Dança da Marreca alguns metros à frente.
Uma cômica analogia do que é a vida.