Foi como amarrar um cavalo no obelisco: o Sambódromo do Rio de Janeiro virou acampamento de torcedores argentinos com barracas, motor-homes e carros. É o símbolo da cidade ocupada pela torcida fanática

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Eles chegaram, e continuarão chegando neste sábado, de todas as formas possíveis. De avião, de ônibus, de carro, de carona. Alguns vieram ao Rio ao longo dos últimos dias, outros depois que Romero defendeu o último pênalti contra a Holanda. São milhares – as inconfiáveis estatísticas governamentais vão de 70 mil a 100 mil -, barulhentos, loucos e felizes. A Cidade Maravilhosa está entupida de argentinos.

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O que se vê é o golpe de misericórdia na pátria em chuteiras: a Sapucaí cheia de argentinos. Foi o que reparou o repórter Truong Anh Ngol, da agência de notícias do Vietnã.

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– Esse lugar é o orgulho do Brasil, e seus rivais estão aí acampados e esperando ser campeões mundiais. No Maracanã, que é outro orgulho do Brasil. É muito irônico – analisou, enquanto seu câmera dava closes nas bandeiras, nas churrasqueiras e nas roupas para secar estendidas nos capôs de carro.

A ironia de Ngol não escapa a ninguém envolvido na operação montada pela prefeitura carioca para receber os gringos: das tias do bar que serve lanches a eles aos PMs que garantem sua segurança, todos ficam sorrindo amarelo porque é a Argentina, e não o Brasil, que está na final de amanhã. Os hóspedes estão radiantes.

– Todos são muito legais conosco, não tivemos qualquer problema – elogia Nahuel Galarce, de Tapalqué, província de Buenos Aires.

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Ok, tirando o fato de ter levado um pouco de gás de pimenta da polícia pouco antes da semifinal.

– Estávamos gritando demais para o gosto deles – contou, rindo.

Caras como Galarce, que dirigiu por 42 horas os 3,8 mil quilômetros com outros três amigos até o Brasil sem nenhuma chance de conseguir ingresso, eram boa parte dos estacionados. Aliás, inicialmente o camping definido pela prefeitura era apenas no Terreiro do Samba, pertinho da Sapucaí. Mas com a passagem para a final, o espaço ficou pequeno. Antes disso, ainda no começo da Copa, era a Avenida Atlântica, no coração de Copacabana, onde eles se concentravam. Ali estavam ontem Nicolas Cardenas, os filhos Nelson e Victor e o amigo Diego Riera, que vieram de Rosario há uma semana. Dormem e cozinham em um Peugeot estacionado em frente ao mar na praia do Leme.

– Há muita segurança e nos tratam como se estivéssemos em casa – disse Nicolas.

Estão. Na tarde de ontem, a praia mais famosa do mundo estava entupida de hermanos cantando suas músicas de flauta sobre o Brasil. Em frente ao Copacabana Palace, centenas ocupavam as quadras de futebol de areia dançando e berrando para as câmeras de TV que surgiam. Ainda assim, não havia animosidade – era como se os cariocas tivessem dado um salvo-conduto de corneta por um final de semana aos argentinos. Podem zoar.

E os alemães? Sumiram no mar de torcedores de Messi, mas isso não significa que não estejam aqui. Até porque, dentro do Maracanã, devem estar em número igual – 13 mil para cada lado, segundo a Fifa. Somados aos brasileiros, devem garantir o apoio a Müller, Klose, Neuer. Mas nas ruas do Rio, estavam na deles, olhando a zoeira e achando tudo divertido. Caso de Torsten Burkart e Marlens Elsner, que desembarcaram e foram direto matar o jet lag com uma cerveja e uma caipirinha em frente ao mar.

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– Acho que nem graça vai ter. Se tocamos sete no Brasil, espero pelo menos 3 a 0 domingo – disse Burkart.

– Eles têm Messi e nós, um time – resumiu Elsner.

Em outra mesa, uma argentina entendeu parte da flauta dupla e começou a cantarolar “Brasil, dime lo que se siente…”. Parte do quiosque aderiu – mais pelo hábito de cantar o hit do momento, de brincar com os brasileiros em uma Cidade Maravilhosa ocupada por argentinos. Do Sambódromo ao Maracanã, que alguns já chamam de “o maior salão de festas da América do Sul”.

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