A segunda-feira deveria ser de novidade boa para Thiago Vinicius, 19 anos. O jovem começaria um novo emprego como auxiliar de depósito em uma distribuidora de Barra Velha, no Litoral Norte de Santa Catarina. Era uma vaga que garantiria mais rendimentos para ele e a namorada, Suelen, com quem mora há um ano. O quintal da casa alugada em Itajuba era constantemente alagado pelas chuvas, mas nunca havia acontecido de ela invadir o imóvel, até a tarde de domingo.

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Thiago e Suelen perceberam que seria um dia atípico por volta das 13 horas, quando o nível de água começou a ficar muito alto. Ergueram os móveis, mas não foi suficiente: por volta das 16 horas, o muro que fazia a contenção da água da rua estourou.

— Todo o alagamento da rua veio em forma de ondas pra nossa casa. Tentamos fechar a porta, mas a força da água era maior — conta.

Na mesma hora em que deveria estar se apresentando para o novo emprego, Thiago estava iniciando a limpeza da casa. Ele e Suelen perderam praticamente todos os móveis, eletrodomésticos e colchões. Agora, vão procurar uma nova casa para alugar.

O eletricista Jaime da Silva, 57 anos, não tem a mesma opção. Há cerca de uma década ele adquiriu vários terrenos na mesma via em que Thiago morava, a rua Evaristo Lopes Dutra. Agora, ele e os filhos convivem com o problema dos alagamentos todos os anos:

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— Já conversamos com a Prefeitura para fazer um projeto de macrodrenagem, mas fica só na promessa. O córrego aqui atrás não é assoreado há um ano e, quando começaram, a sujeira veio toda para cá e trancou tudo. Por isso, não há drenagem nenhuma aqui — afirma Jaime.

Volume de água chegou a quase dois metros

Por volta do meio-dia, o trecho da rua onde ele mora ainda estava alagado. Segundo o vizinho dele, o comerciante Cezar Quadros, 68 anos, o nível de água chegou a mais de 1,70 metro na rua.

— Eu precisei mergulhar para desligar o registro da água da minha casa antes de ir embora, porque não era possível ficar em casa. Esperamos a Defesa Civil, mas ninguém veio, e precisei tirar minha mulher, minha filha e meus cachorros em um bote improvisado com uma placa de isopor — lamenta Cezar.

A família de Lucas Oliveira, 26 anos, precisou ir para o abrigo montado pela prefeitura. Ele trabalhava como servente de pedreiro no domingo quando ficou sabendo que a casa onde estavam a mulher, Adriana, e os filhos de quatro e dois anos, havia sido atingida pela inundação.

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— Eu tinha colocado as crianças para dormir e também cochilei depois do almoço. Acordei com o dono da casa batendo na porta. Se não fosse ele, eu teria acordado com a água bem alta dentro de casa, porque nessa hora ela já estava com um palmo de altura — recorda Adriana.

Eles dependeram da ajuda dos bombeiros, que levaram as crianças no barco até um lugar seguro. Assim como outras três famílias, passaram a noite no abrigo e esperavam a situação amenizar para procurar outro lugar para morar.

Pior enchente em dez anos

A rua João Machado, no centro de Barra do Sul, foi interditada para obras na manhã de segunda: o objetivo era instalar uma nova tubulação para escoar a água acumulada depois das fortes chuvas. Na avenida São Francisco, uma das principais da cidade, alguns trechos ainda estavam alagados por volta das 10 horas.

Segundo o designer Cristiano Pelik, 42 anos, foi a pior situação de alagamento que ele presenciou no local nos últimos dez anos, período em que ele tem escritório na avenida.

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— Todo ano alaga aqui, dependendo do nível de chuvas e da maré, mas nunca foi tão alto. Tenho uns cinco protocolos abertos na Prefeitura falando da falta de drenagem aqui — reclama ele.

Segundo o prefeito Ademar Borges, o problema principal da cidade é mesmo a drenagem. Ele se reuniu com os profissionais da Secretaria de Obras para definir planos de ação emergenciais. A cidade também já tem planos de ação a médio e longo prazo desde que ocorreram inundações em 2015, mas não há recursos para executá-los.

— Se tivesse dinheiro para abrir a cidade inteira e trocar a tubulação, nós faríamos isso. Já conversei com três deputados para tentar, através de emendas, fazer galerias no Centro, independente do que a Defesa Civil vai dizer. Mas tudo depende de recursos — informou ele.

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