A saudade de quem se foi transborda de várias formas. Para alguns, uma foto é o suficiente para remontar lembranças e reviver momentos felizes. Para outros, o bálsamo para a ausência é o reencontro com a vida real. Encarar a dor de frente, até que o luto se transforme em uma nova lição de vida, foi a saída encontrada pela blumenauense Ruth Willecke, 59 anos, para tentar suportar a perda do filho Diego Tayguara Castro.

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Na madrugada de 4 de junho do ano passado, o garoto voltava de uma festa. Perto das 5h, o carro conduzido pelo amigo Guilherme Felipe Volpi Schramm, também de 19 anos, bateu em um poste entre o final da Avenida Beira-Rio e a Rua São Paulo, perto do Centro. A lateral do veículo, no lado onde estava Diego, no banco do passageiro, ficou totalmente destruída. Quando os socorristas chegaram ao local, o jovem já estava sem vida. O amigo sobreviveu.

Quem costuma passar pelo trecho do acidente já notou um detalhe curioso: flores coloridas, de plástico, enfeitam o poste. O adorno que dá mais cor ao lugar é trocado todo dia 4 de cada mês por dona Ruth. Compradas em uma lojinha de 1,99, as flores são um símbolo singelo da saudade. Lábios trêmulos, olhos marejados, ela lembra de Diego como um menino alegre e cheio de amigos. Prova disso foi o velório com mais de 500 pessoas. As flores também costumam ser deixadas no poste pela turma de Diego, um gesto de recordação e carinho.

– Ele morreu na quinta e no sábado trouxemos flores, velas e fizemos uma oração no local. Queremos mostrar que ele será lembrado, e também serve como um sinal de alerta para os motoristas que passam pela via – comenta a irmã Camila.

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No distrito do Garcia, a família Soares também vivencia a perda de um filho toda vez que precisa passar em frente ao número 167 da Rua Progresso. Foi ali que Willian José Soares perdeu a vida em um acidente de moto no dia 5 de dezembro de 2009. E é ali que os pais dele deixam uma nova coroa de flores em todo aniversário de morte. A irmã Sandra conta que o caçula de três filhos morreu aos 23 anos ao voltar de um encontro com amigos em uma pastelaria. Na traseira da moto que Willian pilotava estava a namorada, Débora. Bem em frente ao Ambulatório Geral do Garcia, um carro teria invadido a pista contrária atingido a moto. Débora sofreu ferimentos graves, mas resistiu. Willian foi arremessado no asfalto e morreu na hora.

– Meu irmão ia casar em janeiro, estava com a casa pronta, tinha muitos sonhos ainda pra realizar. Eu tive a iniciativa de fazer a coroa porque quis fazer uma conscientização, pra que todos que passassem soubessem que ali ficou um pedaço da nossa família – lamenta Sandra.

Família ainda leva flores até a Rua Progresso, onde Willian José Soares morreu (Foto: Patrick Rodrigues)

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“Talvez agora as pessoas tomem mais cuidado”

A história se repete na casa de Amália Reiter, 46 anos. Mãe de seis, ela precisou se despedir da filha Maria Isabel Mandel, 18 anos, em setembro de 2013. Porém, a memória da jovem permanece viva e chama a atenção dos motoristas que transitam pela Via Expressa de Blumenau. Uma cruz cercada de flores marca o local exato onde Maria Isabel morreu em um acidente. Um carro passou sobre o canteiro e colidiu frontalmente com a moto conduzida pelo namorado dela e outro veículo. O rapaz de 26 anos foi encaminhado em estado grave para o Hospital Santo Antônio e morreu dias depois. A adolescente morreu no local.

– Eu levo as flores todo mês, sempre no dia 29. Às vezes tiro a cruz e levo pra casa para retocar a pintura, depois recoloco lá. Sinaliza que ali houve um acidente, e assim talvez agora as pessoas tomem mais cuidado – diz a mãe.