O suposto golpe milionário aplicado pelo empresário Marcos Antônio de Queiroz completa três anos nesta semana em Joinville, ainda sem uma definição na Justiça. Em agosto de 2013, duas lojas de material de construção foram invadidas por clientes, que suspeitavam que o dono tivesse deixado a cidade e abandonado os negócios, sem entregar os empreendimentos e itens vendidos à população.

Continua depois da publicidade

Queiroz foi encontrado pela polícia no mesmo mês e permaneceu preso até junho de 2014, quando foi liberado para responder ao processo e se mudou para o Paraná.

Três anos depois, o caso ainda é lembrado pelos joinvilenses e continua vivo na memória das vítimas que teriam sido lesadas pelo empresário.

O professor Leonardo Samuel de Oliveira Vaz, 34 anos, comprou um apartamento no bairro Floresta cerca de 45 dias antes de as suspeitas virem à tona. O empreendimento, que teria quatro torres e cerca de 90 unidades, seria concluído no ano passado, mas hoje é possível ver apenas um terreno tomado pela vegetação e sem nenhuma construção.

Continua depois da publicidade

Leonardo conta que deu a caminhonete Blazer para o Grupo Marcos Queiroz para pagar os R$ 30 mil de entrada. O restante seria pago até a data de entrega da nova moradia.

– Quando aconteceu, foi um susto, porque a gente estava fazendo planos. Eu saí da zona Sul e passei por todas as lojas de carro que existem na cidade para ver se encontrava minha caminhonete – recorda.

O professor fez contato com outras pessoas que haviam sido lesadas e criou um grupo nas redes sociais para trocar informações. Foi apenas mais tarde que descobriu que seu carro estava no Rio Grande do Sul. Até hoje, o veículo está embargado e os documentos não podem ser transferidos para outra pessoa.

Continua depois da publicidade

Apesar do prejuízo com a perda do veículo e dos R$ 30 mil, Leonardo diz que a pior frustração foi de um sonho não realizado.

– Eu já tenho minha casa e minha intenção com o apartamento não era morar lá. Era um plano familiar de vender após estar pronto e pago para que nós fôssemos morar fora do País por dois anos. Minha família ficou abalada porque nosso caso foi de um sonho perdido – conta.

>> Leia mais sobre Joinville e região

Medo na hora de fazer novos negócios

Passar por todo o incômodo de ver um sonho acabar e um investimento desaparecer mexeu com a família de Leonardo. O professor explica que deixou de confiar nas pessoas quando se trata de negócios e dinheiro. Ele admite que agora sente medo de ser enganado em qualquer transação que realiza, como a troca de um carro.

Continua depois da publicidade

O cuidado aumentou e o caso tem servido de exemplo e ensinamento para os mais novos. Como professor de matemática, ele deu aulas de educação financeira no ano passado e usou a própria experiência para dar dicas aos jovens.

– Eu sempre uso isso para que as pessoas tomem cuidado com o que estão fazendo. É um exemplo também em termos de poupar dinheiro para depois ter o benefício, como era nossa ideia com o apartamento e a viagem. Ao mesmo tempo, você tem que tomar cuidado para não perder tudo aquilo que tem – explica.

Leonardo acredita que o dinheiro não será recuperado e, quanto mais tempo passar sem um julgamento, maior a chance de tudo acabar em pizza. Para ele, o empresário deveria ter ficado preso até sair a sentença.

Continua depois da publicidade

– Não foi apenas um material de construção que ele vendeu. Eu conheci gente que vendeu a casa onde morava para dar entrada em dois ou três apartamentos. Um amigo meu não tem casa e fez um empréstimo consignado para dar R$ 25 mil de entrada. Ele está pagando isso até hoje.

De acordo com a assessoria da 4ª Vara Criminal de Joinville, as defesas do casal Queiroz e de outros cinco ex-funcionários, que também são réus, não apresentaram as alegações finais dentro do prazo, o que terá de ser feito pela Defensoria Pública. Agora, o juiz César Otávio Scirea Tesseroli decidirá a sentença, que ainda não tem data para ser definida. Segundo a assessoria, o resultado não deve demorar.

RELEMBRE O CASO

O esquema denunciado

Marcos Queiroz é acusado pelo MP de ser o mentor de um golpe milionário em Joinville. Segundo a denúncia, ele vendeu centenas de apartamentos na planta, sem ter condições de entregá-los, além de não entregar uma série de mercadorias aos clientes das duas lojas de materiais de construção que mantinha.

Continua depois da publicidade

As acusações

O Ministério Público afirma que, além do casal Marcos e Ana Cláudia Queiroz, cinco ex-funcionários do grupo “tinham pleno conhecimento das operações ilícitas que praticavam em prejuízo dos clientes”. O promotor Francisco de Paula Fernandes Neto pediu a condenação de todos os sete réus, embora em proporções diferentes. Contra Marcos e a esposa são atribuídos os crimes de formação de quadrilha, estelionato (349 vezes), apropriação indébita (duas vezes) e crime contra a economia popular. Parte dos demais réus também responde por apropriação indébita e por crime contra a economia popular, mas a todos eles são atribuídas as práticas de estelionato (em números variados) e formação de quadrilha.

As defesas

“AN” acompanhou todas as audiências do processo. Tanto Queiroz quanto a mulher negam o golpe e alegam que a empresa passava por problemas financeiros. Todos os ex-funcionários também negam participação no esquema.