Manter as famílias no campo com qualidade de vida e renda justa é uma estratégia fundamental para o desenvolvimento social. Esse é o objetivo de programas de incentivo como o SC Rural, que em parceria com o Banco Mundial (Bird) ofereceu R$ 570 milhões a 720 planos de negócios nos últimos seis anos, garantem o aumento da renda e evitam o êxodo rural.

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Segundo estudo do Centro de Socioeconômica e Planejamento Agrícola (Cepa/Epagri), os empreendimentos apoiados pelo programa tiveram incremento de 118% nas vendas, enquanto os demais cresceram menos, 44%, em média. O estudo de avaliação de impacto analisou os números de 172 empreendimentos, 87 financiados pelo programa e 85 que não participaram.

Lançado em 2011, o SC Rural subsidia parte do investimento em agroindústrias, planos de equipamentos turísticos ou unidades de referência, e a cada R$ 1 subsidiado, o beneficiado precisa investir outro R$ 1. O teto para os repasses do Banco Mundial é de R$ 30 mil ou R$ 40 mil, de acordo com o negócio. Os 720 empreendimentos foram originários dos 230 projetos estruturantes aprovados.

No Sul do Estado, os 47 municípios das regionais de Tubarão, Criciúma e Araranguá aprovaram 50 projetos estruturantes. A região recebeu cerca de R$ 12 milhões para desenvolver 220 planos de negócio, já que cada associação ou cooperativa encaminhou diversos pedidos, explica o Secretário Executivo Regional do SC Rural no Sul, Alberto Luiz Ávila. Para ele, o investimento no meio rural traz benefícios para toda a cadeia.

– Sistemas de produção melhorados foram seis mil no Estado, agroindústrias legalizadas, com o retorno de imposto. Em um cálculo básico, podemos dizer que esse valor investido retorna em três ou quatro anos, se tudo correr bem. Isso porque foi aplicado dinheiro em negócios com viabilidade, foi estudado antes. O aumento da produção em si já dá retorno na venda do produto, e as agroindústrias legalizadas e em funcionamento, olha o retorno que isso dá – explica Ávila.

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Segundo dados do Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 16,1% dos 6,2 milhões de habitantes de Santa Catarine vivem na zona rural. Essa porcentagem chegava a 77% na década de 1950, e por isso políticas para manter as famílias no campo têm se mostrado necessárias, defende o Gerente Regional da Epagri Araranguá, Reginaldo Ghellere. A proposta é que essas pessoas consigam trabalhar com dignidade e aumento na receita, defende.

– O Estado passa a ter aumento no movimento econômico do que é gerado nessas propriedades, arrecadam-se mais recursos. Também interfere na paisagem rural, a manutenção dessas famílias, oportuniza renda para continuarem na propriedade, melhora o uso dessa mão de obra, passa a ter mais riqueza na comunidade e para as próprias famílias que estão trabalhando – explica.

A primeira fase do SC Rural encerrou este ano, mas o objetivo é autorizar uma nova etapa do programa para 2019, segundo Ávila. O modelo será um pouco diferente, com foco na inovação tecnológica e equipamentos voltados para a agricultura familiar. Todos os contratos com o Banco Mundial precisam da aprovação do Governo Federal e do Congresso, e uma nova contratação o programa está em análise. Na primeira fase, os investimentos beneficiaram 11 mil famílias do meio rural, e outras 70 mil foram envolvidas nas atividades de extensão rural, organização e capacitação.

Valor agregado na produção do queijo

Das oito vacas leiteiras que a família Rocha mantém na propriedade em Sombrio, no Sul do Estado, são ordenhados, em média, 200 litros por dia. Antes de receber o apoio do SC Rural e investir em uma agroindústria, a matéria-prima era vendida por pouco menos de R$ 1 o litro. Odair da Rocha, 43 anos, quis realizar o sonho e produzir queijo dentro das normas de inspeção e foi atrás de uma maneira de executar o projeto. Hoje, ele vende o quilo do queijo a R$ 18, e os 8,2 litros usados para fabricar cada peça hoje rendem R$ 2,20 para o produtor rural.

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Junto com a esposa Sirlene Correa dos Santos Pereira, 33 anos, Odair produz uma média de 50 quilos de produto por semana, todo ele vendido na feira ou nos mercados locais. O queijo tem selo de inspeção municipal e por isso só pode ser vendido na cidade. O investimento inicial foi de R$ 80 mil, metade com recursos do programa e metade dele. A ideia é ampliar a produção com foco no público local, que não deixa sobrar uma peça nos pontos de venda.

– Começamos aqui há dois meses e já está dando certo. O investimento foi alto, mas a queijaria para mim era um sonho. Aumentou a renda, dobrou, agrega valor pois antes eu vendia o leita e agora é o queijo – diz o produtor.

A ideia para os próximos anos é aumentar a área de pastagem e comprar mais animais, ampliando ainda mais o negócio. Ao lado da agroindústria ele ainda tem 80 mil pés de fumo, mas assim que encerrar a colheita, não quer mais trabalhar com a lavoura.

Lavoura de fumo da lugar á indústria de carne

A antiga estufa de fumo, que passou por reforma e readequação, hoje dá lugar a uma unidade de beneficiamento de carne. Em Içara, a família Estevam chegou a produzir 120 mil pés de fumo por safra, mas com o foco no novo negócio, a lavoura já diminuiu 50%. De oito a nove suínos são beneficiados por semana e, no ano passado, 20 mil quilos de carne foram processadas.

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A agroindústria aumentou a renda da família e movimenta a cadeia na região, já que os Estevam precisam comprar a matéria-prima de um produtor associado à cooperativa. O programa de estímulo ao agronegócio tem também o objetivo de colocar os produtores em cadeia, diminuindo os custos e aumentando a produtividade. Ao comprar do vizinho, o gasto é menor com transporte e outros encargos. Além disso, o material é mais fresco e o dinheiro circula dentro do município. Com o crescimento da renda familiar em 40%, Édio Adelino Estevam, 55 anos, precisou de um reforço. A filha e o genro passaram a trabalhar com ele, e hoje são seis pessoas envolvidas na produção de salame, torresmo, banha e defumados.

– O pessoal até se admira, a gente investiu a está dando certo. O fumo tem uma boa renda, mas é uma vez ao ano. Com esse negócio, é todo mês. A lavoura é instável, um ano dá bem, outro não, e assim estamos trabalhando com algo que a gente gosta – comenta Estevam.

Bruna Estevam, 27 anos, formada em Educação Física e com pós-graduação na área, deixou a sala de aula para ficar mais perto de casa. Ela ainda tem uma área de produção de fumo com o namorado na redondeza, mas a agroindústria familiar é um projeto que pode ficar para ela e os irmãos no futuro. O investimento foi de R$ 60 mil, metade com subsídio do programa, e a unidade já funciona há três anos.

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