Os dias sem rotina, quando acordavam e decidiam na hora o que fariam, ficaram para trás. Há dois meses, Lisiane e Enio Oechsler, 55 e 57 anos, respectivamente, têm programação certa. É preciso fazer a mamadeira, trocar a fralda e brincar com o pequeno Bernardo*. Eles são um dos casais habilitados pela prefeitura de Blumenau para o serviço chamado de Família Acolhedora.
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A iniciativa prevista em lei e lançada na cidade no fim de março do ano passado permite, depois de meses de seleção e preparação dos candidatos, o acolhimento de criança ou adolescente que aguarda uma definição sobre o futuro. Agora, em Blumenau, três famílias estão aptas e podem começar a receber crianças e adolescentes que ficariam em abrigos.
Lisiane sempre foi uma entusiasta do projeto, que conheceu em uma palestra na cidade de Gaspar. Na época, cerca de quatro anos atrás, chegou a procurar vereadores de Blumenau para tentar trazer o projeto ao município. Quando viu que se tornaria realidade, em 2018, não pensou duas vezes para se inscrever. O marido, parceiro da ideia, não esconde a felicidade de pode fazer a diferença na vida dos pequenos depois de criar dois filhos que já ganharam o mundo.
– A gente ia lá (nos abrigos) e víamos essas crianças. Elas têm tudo, mas não é como uma casa. Sentíamos a necessidade de fazer algo por elas. Não adianta reclamar que a sociedade está ruim e se omitir, e para nós está sendo um presente – afirma o industrial aposentado, enquanto brinca no chão com o pequeno.
Bernardo pode ficar com a família Oechsler por até um ano e meio. Nesse tempo, tanto a família acolhedora quanto a biológica passam por acompanhamento. O objetivo é sempre que haja o retorno aos pais, mas se não for possível a criança é encaminhada para a adoção. Lisiane sabe que terá de entregar o menino assim que houver essa definição por parte da Justiça, mas não vê a ruptura como algo negativo:
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– A gente vai poder diminuir o trauma dele e depois de outros que virão – defende, tranquila de que dará amor, carinho e atenção às crianças que receber.
Atualmente, 38 crianças e adolescentes estão em abrigos de Blumenau. Este ano a expectativa é formar ao menos mais três famílias acolhedoras. A coordenadora do Serviço de Acolhimento para Crianças e Adolescentes, Márcia Kayser, explica que esse é um trabalho de formiguinha, devido à grande responsabilidade de resguardar a segurança e integridade dos pequenos.
Em 2018, depois do lançamento do serviço, nove famílias manifestaram interesse em participar. Destas, três receberam parecer positivo para acolher crianças e adolescentes. Quem tiver interesse em integrar o serviço pode buscar informações na Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, pelo telefone 3381-6641 ou pessoalmente, na Rua Luís Sachleben, 115, bairro Itoupava Seca.
*O nome da criança foi alterado, conforme prevê o Manual NSC de Jornalismo
COMO FUNCIONA O SERVIÇO
– Quem pode se candidatar a ser família acolhedora?
Qualquer pessoa maior de 21 anos e que resida em Blumenau há mais de um ano. Não há restrição de gênero e de estado civil.
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– Existe alguma restrição aos candidatos?
As pessoas não podem ter interesse em adotar, nem possuir antecedentes criminais.
– Quando o candidato começa a acolher?
Somente após a avaliação da equipe técnica. Durante o período de acolhimento haverá acompanhamento tanto das famílias que abriram as portas para receber um novo integrante quanto dos pais ou responsáveis das crianças/adolescentes que foram retiradas do lar para verificar a possibilidade de reintegração à família.
– Existe algum tipo de auxílio à família que está acolhendo?
O serviço prevê ainda um auxílio financeiro no valor de um salário mínimo aos acolhedores por criança/adolescente acolhida(o).
– Por quanto tempo a criança/adolescente pode ficar com a família acolhedora?
No máximo um ano e meio, conforme prevê a lei, salvo necessidade que atenda o interesse da criança/adolescente.
– O que acontece com a criança/adolescente se após um ano e meio ela não retornar à família biológica e não ser colocada em família adotiva?
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É feita constante avaliação da equipe técnica e, caso seja do melhor interesse para a criança/adolescente, ela permanecerá na família acolhedora, aguardando decisão judicial definitiva.
– Como é o processo de desligamento da criança/adolescente da família acolhedora?
É monitorado pela equipe técnica. A criança/adolescente retorna de forma gradativamente à nova família, com visitas periódicas até ficar de forma definitiva.
– A mesma família pode acolher outras crianças?
Sim. Pode receber mais de uma criança ao mesmo tempo, inclusive, desde que sejam irmãos, haja disponibilidade da família e ainda conforme parecer da equipe técnica. A família fica apta a receber crianças e adolescentes por tempo indeterminado, de acordo com avaliação da equipe responsável pelo serviço.
Fonte: Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social de Blumenau