Em uma hora, as vidas de famílias em diferentes pontos de Joinville sofreram transformações que levarão um período de tempo ainda incalculável para serem resolvidas. Naqueles 60 minutos de chuva forte na noite de domingo, 27 de dezembro, elas foram surpreendidas por desastres inesperados, em locais onde, normalmente, não costumam ocorrer problemas como alagamentos ou enchentes.
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Foram os bairros da zona Sul, principalmente Itinga, Boehmerwald, Itaum, Fátima e parte do Floresta, os que mais sofreram com a tempestade, que começou por volta das 19 horas e acumulou 90 milímetros de chuva em apenas uma hora.
Para o vigilante Lázaro Angioletti, 59 anos, parecia impossível imaginar o que estava acontecendo em casa naquele horário. Ele trabalhava no bairro Atiradores, onde ainda não chovia, quando recebeu uma ligação da mulher, Lúcia Scheffert, 58 anos. Da janela da sala, na rua Max Pruner, no bairro Adhemar Garcia, Lúcia observava a chuva forte e surpreendia-se pela queda de uma árvore no quintal e pelo barulho no telhado.
Ela não sabia, mas naquele momento o muro da casa vizinha, de cerca de dois metros de altura, começava a desabar em cima da residência dela.
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– Foi muito rápido, menos de cinco minutos. Eu fiquei presa, quase prensada, gritando por socorro da janela – lembra Lúcia, ainda abalada.
Tendo apenas uma porta, que ficava do outro lado da casa, como local de fuga, foi por sorte que ela conseguiu passar por uma pequena fresta e sair do imóvel. O desabamento do muro em cima da casa de madeira causou o deslocamento da estrutura, que chegou ficar repartida e, na manhã de segunda-feira, havia uma grossa camada de lama cobrindo os cômodos.
– A casinha do meu cachorro ficou soterrada, só consegui salvá-lo com a ajuda dos vizinhos – conta ela, que também contou com os moradores da rua, na qual ela reside há 28 anos, para ter um lugar para passar a noite.
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Chuva forte de domingo provocou queda de muro, deslizamentos e muitos estragos em Joinville
O local foi interditado pela Defesa Civil, e Lúcia e Lázaro foram orientados pelo órgão a demolir a residência para construir uma nova casa. Até a cobertura ser removida, não poderão entrar para buscar nenhum pertence – nem os documentos, nem a roupa recém-lavada do neto, nem os presentes recebidos dois dias antes, no Natal.
Casas alagadas e trabalhos perdidos
A situação na casa da família de Idelir de Oliveira Branco Fhybeen também foi uma surpresa ruim. Ela só havia vivido uma experiência de alagamento naquele endereço, na Servidão João Gomes, no Itinga, com pequeno impacto – nada comparado ao que ocorreu no domingo, quando Idelir estava em casa com as filhas de 22 e 14 anos, e as netas, de cinco e três anos.
O quintal se transformou em uma espécie de rio, com correnteza tão forte que conseguiu puxar um automóvel e uma motocicleta, estacionados nos fundos, para perto do portão. A porta da cozinha estourou, permitindo que a enxurrada entrasse na casa e chegasse a quase um metro de altura dentro dos cômodos.
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– Tentamos fugir mas não tinha como passar, a água cobria tudo. Um anjo que foi o vizinho de trás pulou o muro e nos resgatou, nos ajudou a pular também o muro, que tem uns dois metros, para passarmos para a casa dele – conta Idelir.
A força da água arrastou móveis e eletrodomésticos para fora da residência e ainda arrebentou o muro, carregando parte dos utensílios e das roupas da família para o quintal da casa ao lado. Lá, Silvia Andreia Lucktemberg Roberto os recolhia na manhã de segunda-feira, enquanto limpava a própria casa.
Ela conseguiu salvar alguns móveis, mas a enchente veio rápido demais para quem, em sete anos morando no mesmo lugar, nunca havia vivido um desastre como este. Os outros moradores, em conversa com a Defesa Civil e a Secretaria da Infraestrutura – que visitaram os lugares afetados pela chuva na segunda-feira – informaram que o problema é causado pela drenagem que passa nos fundos da rua, levando a água de outras ruas para aquele terreno.
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– Foi a primeira experiência, e espero que não se repita. Parte do meu trabalho como artesã foi perdido – lamentou Silvia.
Na casa de Silvana do Nascimento, 42 anos, o desastre que encheu a casa também causou a dor de ver seu trabalho ser estragado. Ela e a irmã, Cristiane, começaram há pouco tempo um negócio de costura, e tiveram os produtos encharcados pela água e pela lama.
No caso delas, que dividem o mesmo terreno, a enchente não foi vista com espanto, mas com frustração: a casa foi construída em 1999, elas moram no local desde 2000, mas entre 2008 e 2014, cinco alagamentos destruíram móveis, eletrodomésticos e chegaram a colocar a vida da filha mais nova de Silvana em risco, quando o nível da água dentro do imóvel ultrapassou um metro de altura, puxando com força tudo o que havia entre as paredes.
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– Já entramos em contato com todos os órgãos públicos para onde fomos encaminhados, mas ninguém resolve o problema. O encanamento aqui é muito pequeno, não tem capacidade para todos os moradores que chegaram nos últimos anos, mas dizem que depende de licitação para mudar. E isso nunca acontece – reclama Silvana, que mora na rua Angelo Pedro de Morais, no Jarivatuba.
Previsão é de chuvas e descargas elétricas até o fim do ano
Segundo a Defesa Civil de Santa Catarina, nesta semana (de 28 de dezembro a 1º de janeiro), as pancadas de chuva associadas ao calor da tarde, típicas de verão, serão frequentes no Estado. A chuva com volume diário entre 10 e 30 milímetros estará acompanhada por descargas elétricas (raios), e especialmente na última tarde de 2015, em 31 de dezembro, a passagem de uma frente fria traz risco de temporais isolados, com rajadas de vento forte e chance de queda de granizo principalmente do Meio Oeste ao Litoral do Estado.
Nesta terça-feira, 29 de dezembro, a previsão é de nuvens e chuva no Litoral Norte devido ao sistema de baixa pressão que atua na região. Durante a tarde e noite, devem ocorrer pancadas isoladas de chuva com descarga elétrica em todo o Estado.
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Durante esta semana, a Defesa Civil, a Seinfra, a Secretaria do Meio Ambiente e a Subprefeitura de cada região estarão atuando para atender as ocorrências dos locais afetados pela chuva em Joinville, com orientações aos moradores; análise dos problemas que causam alagamentos, enchentes e deslizamentos; e encaminhamento de caçambas e veículos para recolher os entulhos e os bens que foram estragados.