Nas fotos antigas, Carlos Antônio Soares, o Calinho da Glória, tem sempre uma pose de orgulho e um ônibus para repousar a mão. Ao lado de Ivo Reinecke, 73 anos, ele foi o primeiro motorista contratado pela família fundadora da empresa Nossa Senhora da Glória, mais longeva a operar o transporte coletivo em Blumenau. Jornada interrompida ontem, aos 75 anos, após um ano e quatro meses de luta contra um câncer.
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Calinho nasceu em São João Batista e chegou a Blumenau antes dos 14 anos. A vida atrás do volante começou em 1958 na Coletivo Ulrich e, quatro anos depois, guinou para a recém-fundada Glória. Foram quase 30 anos como motorista que permitiram promoções para funções na assessoria financeira e, mais tarde, na gestão de contratos e pagamentos. Como resultado surgiu também uma proximidade com a família Sackl, a quem também ajudava em tarefas como levar parentes ao médico ou buscar verduras em um sítio.
Conduziu a vida diante dos obstáculos como guiava os ônibus pelas estradas antigas do Garcia. Quando a filha mais velha, Tânia Regina Soares, então com 23 anos, morreu vítima de uma leucemia, a neta Graciela, hoje com 25, e filha caçula, Tamara, 33, viraram o esteio da família. Em 2010, Calinho teve que se render à aposentadoria. Parte da inquietude que o movia começou a se perder entre a agenda vazia e a lentidão do relógio.
No começo do ano passado, Calinho sentia parte da coordenação motora ir embora. O fim começou de um jeito simples, como começam todos os fins. Ao vestir um pijama no quarto, caiu e machucou o fêmur. Fez exames e diagnósticos que apontariam um câncer de pulmão, que se desdobrou em metástase no cérebro e nos ossos.
A lucidez partiu meses antes de Calinho. O suficiente para ele quase não ver os dias difíceis da empresa que ajudou a construir. Após duas semanas de luta e internação no Hospital Santo Antônio, teve a rota interrompida por uma pneumonia. Os familiares se despedem no velório na capela mortuária da Rua Emílio Tallmann e no sepultamento, que ocorre às 14h de hoje, no Cemitério do Progresso.
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Para o genro Adriano de Castilhos e André Luiz Moser Pereira, marido da neta, foi um homem que viveu para o trabalho e que esbanjou vitalidade enquanto esteve na ativa. Para o companheiro de primeiro emprego, Ivo, que trocou o transporte coletivo pelas viagens de caminhão pelo país em 1968, fica a imagem de um motorista calmo. Para quem trabalhou com ele, como o presidente do sindicato dos motoristas, Ari Germer, e o sócio da Glória, Humberto Sackl, o Betinho, Calinho deixa imagens de dedicação e responsabilidade.
– Ele dedicou a vida ao transporte, sempre gostou muito do que fez. Espero que Deus dê um ônibus para ele andar lá em cima – conta Betinho.