Forçados a deixar seus lares para acompanhar pacientes que foram transferidos de Santa Maria para Porto Alegre, familiares de vítimas do incêndio na boate Kiss buscam a solidariedade de parentes e amigos que oferecem residências para hospedagem. O acolhimento alivia o sofrimento em meio à rotina de espera por notícias nos saguões dos hospitais.
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O Hospital de Clínicas, instituição da Capital onde está a maioria dos jovens que se recuperam da tragédia, montou uma estrutura exclusiva para os familiares. Eles ganham um adesivo verde que dá acesso ao anfiteatro, local que foi transformado em uma sala de convivência. Lá, parentes das vítimas têm à disposição água, café e lanche. Psicólogos e assistentes sociais do hospital se revezam no atendimento. O salão tem horário de funcionamento flexível para atender à demanda.
Mateus Peiter acompanha a irmã Cristina Peiter, 23 anos, internada na CTI do Clínicas. O jovem veio de Santa Maria com a namorada e com o irmão Guilherme Peiter. Em Porto Alegre, conta com o apoio de uma amiga da família que oferece locomoção, dicas de onde realizar as refeições e, acima de tudo, companhia.
– Estamos na casa de uma madrinha minha. O pai e a mãe estão na casa de amigos do meu pai. A partir de amanhã (hoje), acho que vamos estar todos juntos em um apartamento de outro amigo do meu pai que está de férias – conta Mateus.
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O dia a dia, no entanto, é no hospital, onde chegam de manhã e vão embora apenas à noite, para dormir. Assim também é a rotina do advogado Imar Santos Cabeleira, de São Borja, cuja filha Maria Eduarda Parcianello Cabeleira, 21 anos, se recupera no hospital. Recebeu a notícia da tragédia em Santa Maria quando estava em viagem em Punta del Este. Voltou imediatamente para Santa Maria. Na segunda-feira, quando a filha foi transferida para Porto Alegre, Cabeleira veio com a esposa, com dois filhos, uma prima e outros parentes. O sócio no escritório de advocacia também estava ontem em Porto Alegre e voltaria para cuidar dos negócios.
– Houve muita solidariedade de colegas em São Borja, que se colocaram à disposição para substituir a mim e a meu sócio, para fazer audiências, o que for preciso para o escritório não parar. E não está parado.
Instalado na residência de parentes do namorado da filha Renata Pase Ravanello, 25 anos, o marceneiro José Carlos Ravenello deixou a oficina em Ivorá aos cuidados dos dois funcionários. Outro filho e a esposa cuidam dos assuntos domésticos.
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– A situação é um pouco angustiante, mas estamos com pessoas que nos dão muito conforto. A única angústia é que temos que aguardar a melhora (no estado de saúde dela).
Apoio às famílias
Para atender os familiares de vítimas, a Secretaria Municipal da Saúde criou o Centro de Hospitalidade, que funciona na sede da Fundação São João, na rua Lima e Silva, 925. O suporte é realizado por meio de psicólogos e assistentes sociais da secretaria e por voluntários. Foram estabelecidas parcerias com hotéis da Capital, que oferecem hospedagem sem custo. O Plaza São Rafael disponibiliza cinco apartamentos para duas pessoas cada um. Também participam do projeto Hotel de Trânsito do Sindicato dos Escrivães, Inspetores e Investigadores do Rio Grande do Sul (Ugeirm), City Hotel, Hotel Continental, Grêmio Sargento Expedicionário Geraldo Santana, Hotel do Sesc e Coral Tower. Outras informações sobre o Centro de Hospitalidade podem ser obtidas por meio do telefone (51) 3224-2020, ramal 21.