Enquanto aguardavam a chegada do caixão no cemitério, apoiados entre as lápides e com olhares distantes, amigos e familiares relembravam as boas histórias do menino. Era possível ouvir de uma das rodas formada em torno do túmulo que receberia Leandro Augusto do Livramento:
Continua depois da publicidade
— Com ele não tinha tempo ruim — comentavam.
Leandro não selecionava pessoas para fazer amizades. Era amigo dos mais novos aos mais velhos; das crianças aos mais idosos. Todos os fins de semana, o menino ia até o estabelecimento de embarcações de turismo, que fica quase em frente à sua casa, para ajudar Eduardo Neumann, proprietário do local.
Por vontade própria, ao ouvir o ronco do motor, Leandro esperava os barcos apontarem na ponta do Ipiranga, a uns 800 metros do píer, e corria para o extremo do trapiche. Ele pegava a bateira para encontrar a embarcação, amarrava as cordas em torno da estaca de madeira e os auxiliava a apoitar.
Leandro era o menino do trapiche que abria passagem aos navegadores no Espinheiros, assim como O Menino da Porteira – da canção escrita por Teddy Vieira e Luís Raimundo em 1995 – abria o caminho para o boiadeiro em Ouro Fino. Dessa forma compara Sílvio Neumann, pai de Eduardo. A diferença entre eles é que o menino de Ouro Fino o fazia em troca de algumas moedas. Já Leandro o fazia em troca do sonho de ser navegador.
Continua depois da publicidade
— Meu parceiro. Perdi meu parceiro. Fim de semana agora eu tenho pescaria e não vai ser fácil chegar ao fim da navegação sem ter meu amigo ali vindo de encontro com a gente — diz Eduardo.
— Eu tenho 43 anos e aprendi muito com ele.
Ele era o mais novo dos cinco irmãos. Para os familiares, além da saudade, mesmo tão jovem Leandro deixa o legado da simplicidade e da solidariedade.
— Nós éramos primos distantes, mas ele me trava como tio. Ele sempre prestava atenção nas histórias antigas que eu contava — destaca Aroldo Augusto do Livramento.
