Família viaja de Alagoas a Joinville para menina de dois anos corrigir fissura labial

A pequena Rayane da Silva Melo, dois anos, está a pouco mais de 48 horas de ter o seu sorriso, que já é constante, iluminado. A garotinha nascida em Maceió-AL, chegou a Joinville na manhã de segunda-feira para se preparar para a cirurgia que irá corrigir a sua fissura labial. O procedimento está marcado para a próxima sexta-feira, às 11 horas, no Hospital Regional Hans Dieter Schmidt.

-É a melhor coisa que pode acontecer na vida de todo mundo, porque ela é a alegria da casa. Todos da família são apaixonados por ela-, conta a avó paterna Genilda Maria Santana de Melo, que acompanha Rayane e a mãe dela, Fernanda Rafaela da Silva Santos, na viagem.

A garotinha veio até a cidade, que é referência na realização do procedimento, por intermédio da pediatra joinvilense Tatiane Selbach, que faz parte da ONG Operation Smile.

No Brasil, a ONG recebe o nome de Operação Sorriso – a organização opera pessoas com lábio leporino em diferentes países e, no Brasil, atua em Maceió, Santarém (Pará) e no Rio de Janeiro. Como em 2012 e no ano passado, no período em que os médicos estiveram em Maceió, Rayane teve crises de bronquite, não foi possível operá-la.

Para não prolongar a espera pelo procedimento até a próxima visita da ONG na cidade, uma jornalista da organização sugeriu a Genilda que ela fizesse uma campanha para conseguir o dinheiro da passagem dela, enquanto Tatiane lutava por recursos junto à Operação Sorriso Brasil para bancar a vinda de Rayane e de Fernanda a Joinville.

-Coloquei uma foto dela no meu salão e as clientes começaram a ajudar. Uma doou R$ 50, outra R$ 100 e assim foi, até dar o valor da passagem-, conta a avó, entusiasmada.

Uma das razões para a pressa em operá-la é o receio da família que a carismática garotinha sofra preconceito. Fernanda conta que a pequena ainda não se deu conta da fissura e não se sente diferente da irmã gêmea Rayara, que nasceu sem o lábio leporino. Já a irmã gêmea questionou a mãe sobre a fissura de Rayane.

-Tem vezes que ela (Rayara) puxa o lábio com os dedinhos para tentar ficar igual a Rayane-, relata Fernanda.

A dona de casa não se cansa de agradecer a Tatiane pela cirurgia da filha.

-A gente nem sabe mais o que fazer para agradecer a ela. É uma emoção muito grande para mim. Hoje eu não posso colocar ela em uma escola por medo que as outras crianças a reneguem-, desabafa a mãe.

A fissura labial de Rayane é considerada simples pela equipe médica, já que atingiu apenas o lábio e a gengiva. Por isso, Tatiane acredita que a cirurgia deve durar em torno de 40 minutos.

Ela explica que, depois do procedimento, a garotinha vai ficar internada por 24 horas e, após uma avaliação, deve receber alta, podendo voltar para Maceió já na próxima segunda-feira.

Ela será operada pelo cirurgião plástico de Curitiba Marco Aurélio Gamborgi, que costuma vir a Joinville uma vez por mês para realizar o procedimento de forma voluntária.

-É muito mais emocional, porque é uma cirurgia que esteticamente você resolve rápido. Só que quanto mais tempo demora para fazer, mais compromete a autoestima da pessoa-, observa Jacirema Bentes, coordenadora do Centrinho Prefeito Luiz Gomes, referência para esse tipo de atendimento em Joinville.

Referência em atendimento

O Núcleo de Pesquisa e Reabilitação de Lesões Labiopalatinas (lábio leporino) do Centrinho Prefeito Luiz Gomes, em Joinville, é referência no atendimento de pacientes em todo o Estado.

A coordenadora da unidade, Jacirema Bentes, conta que, em 23 anos de atuação, o Centrinho, que compõe o SUS, já atendeu a 3.659 pacientes com fissuras, vindos de 262 municípios catarinenses.

Os procedimentos cirúrgicos dos pacientes atendidos pela unidade são realizados no Hospital Regional Hans Dieter Schmidt, que cede o centro cirúrgico. A unidade é mantida pela Prefeitura e recebe apoio financeiro da Sociedade de Promoção Social do Fissurado Labiopalatal e de Deficientes Auditivos de Joinville (Profis).

Tire suas dúvidas

O que é a lesão labiopalatina (fissura labial)?

É uma má-formação congênita – nasce com a criança – que pode afetar, como no caso de Rayane, somente o lábio e a gengiva. Também pode atingir o céu da boca, sendo imperceptível no rosto, ou pode afetar o lábio, a gengiva e o céu da boca e, em casos mais graves, até o nariz.

Como funciona a cirurgia?

Reconstrói a ligação da musculatura labial, de forma que ela volte a se comportar como uma espécie de cinta em volta da boca. Para fazer essa correção, é necessário descolar toda a musculatura e, assim, reacomodar o músculo do lábio. Por fim, é dado um ponto no nariz, para que ele seja levemente levantado. Para a realização da cirurgia, é aplicada anestesia geral.

Estatística mundial

– Um caso para cada 600 crianças nascidas.

Incidência

– Raças como a amarela (coreanos) e algumas tribos indígenas têm maior chance de desenvolver a má formação.

Ultrassom

É possível verificar se o feto irá nascer com a deformação por meio do exame de ultrassom.

O que é o Profis?

A Sociedade de Promoção Social do Fissurado Labiopalatal e de Deficientes Auditivos de Joinville (Profis) é uma organização filantrópica que tem por objetivo humanizar o atendimento prestado pelo Centrinho Prefeito Luiz Gomes, em Joinville, aos pacientes com lábio leporino tratados na unidade.

O coordenador da Profis, o cirurgião- dentista Rodrigo Brosco, explica que esse apoio se dá por meio da sede da organização filantrópica, uma casa situada ao lado do Centrinho, local em que os pacientes podem descansar, se alimentar e ter acesso a roupas e a objetos necessários ao tratamento, como chupetas especiais, que são doadas pela comunidade, enquanto aguardam as consultas e os exames.

O telefone para doações é o 3433-3145.