O relógio marcava quase 5h quando a faxineira Ivonete Mendes, 30 anos, acordou com um forte estrondo. Ainda no escuro, sacudiu o marido que dormia ao lado na cama e pegou pela mão o filho de cinco anos. Na rua, bastou olhar para cima para entender o que havia acontecido: na casa de cima, separada apenas por um barranco, a chuva fizera estragos novamente. É ali, no número 1.895 da Rua Lauro Zommer, bairro Ponta Aguda, que Ivanilda Rangel, 35 anos, e Nelcir Francisco Cavalheiro, 27, moram com os quatro filhos. Em uma Blumenau mais uma vez afetada pelas chuvas que caíram nos últimos dias, eles fazem parte do grupo mais castigado.

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Na madrugada de quarta-feira, Ivanilda preparava o café para o marido quando o morro que fica na parte de trás da casa cedeu e derrubou a parede do quarto das crianças. Por sorte, o casal já estava atento à possibilidade e havia tirado os filhos do local. Ninguém se feriu. A caixa d?água, que ficava apoiada na parede, caiu no chão e explodiu.

– Mal deu tempo da gente gritar para os meninos saírem e veio tudo abaixo. Quando a gente viu, já tinha acontecido. Agora é batalhar pra limpar tudo de novo – diz a dona de casa.

Ontem à tarde, com materiais de construção doados por um vizinho, Nelcir e o cunhado terminavam de reconstruir a parede. Bem em frente à porta de entrada se acumulam vários montes de terra molhada. A perda foi grande. O barro que invadiu a modesta casa de três cômodos, sem reboco, destruiu dois beliches, uma cama de casal, uma estante, a televisão e várias roupas de cama e banho da família. A geladeira, já antiga, também foi atingida e não liga direito. Sem cama, três filhos foram dormir na casa da avó e a caçula de um ano e quatro meses ficou na casa com os pais.

Moradores do local há sete anos, Ivanilda, Nelcir e os filhos estão familiarizados com o sentimento de frustração e impotência em relação às chuvas. Dizem não ter o que fazer a não ser respirar fundo e aceitar a situação. Mesmo já interditada pela Defesa Civil, a casa – atingida pelo mesmo barranco em 2011 – é tudo o que eles têm.

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– É complicado porque você passa a vida toda construindo algo e depois perde assim, muito rápido. Nem dormi direito na noite passada – comenta a vizinha de baixo, Ivonete.

Lonas são dadas só em casos de emergência, alega a Defesa Civil

Também em 2011, Ivonete sofreu com a chuva que encheu a casa de lama e apodreceu os móveis recém-comprados pelo filho. Ela conta que levou mais de um mês para tirar toda a lama de dentro de casa. Desta vez, após o susto, tratou de ligar para a Defesa Civil e pedir para que fossem até o local.

– Liguei pelo menos três vezes à tarde para pedir lona, mas me disseram que só iriam dar se já fosse noite e não tivesse loja de materiais aberta pra gente comprar. Mas com que dinheiro? A gente ganha um salário pequeno, tem contas pra pagar. Até agora ninguém me deu retorno – explica.

Segundo Rômulo Moritz, gerente da Defesa Civil, a recomendação é de que o agente que faz a avaliação de risco do local deixe as lonas com o morador conforme a necessidade. Ele argumenta ainda que o material é cedido apenas em casos de emergência, quando a pessoa não tem condições de ir até o local para comprar ou o estoque das lojas está esgotado:

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– Tivemos mais de 65 ocorrências nos últimos dias e distribuímos diversas lonas. Se nesse caso o agente não deu a lona deve ter tido algum motivo, já que sempre analisamos se realmente é necessário – argumenta.

Como ajudar

A família de Ivanilda e Nelcir precisa de camas, colchões, toalhas de banho e roupas de cama. Quer ajudar? Basta entrar em contato com o casal pelos telefones 9215-2469 e 9751-8545 ou com o Santa no 3221-1502.