Quando o veleiro Kat contornou o píer da Marina Itajaí, às 15h25min deste sábado, as bandeiras do Brasil foram agitadas com gritos e empolgação de um gol. Na verdade, as 2,3 mil pessoas que compareceram ao local foram dar as boas-vindas à Família Schurmann com o carinho de quem recebe os próprios familiares em uma volta para casa.
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A chegada a bordo do veleiro de 24 metros de comprimento marcou o fim da Expedição Oriente. A terceira volta ao mundo dos desbravadores catarinenses teve início em 21 de setembro de 2014 em Itajaí, mesmo cenário do regresso após 812 dias de navegação. Foram 25 países e mais de 30 mil milhas náuticas ? ou 55,6 mil quilômetros ? percorridas ao longo dos dois anos e dois meses vividos longe do lar em terra firme, mas na segunda casa dos Schurmann, o mar.
Na chegada a Itajaí, a tripulação acenou para o público, abraçou familiares e contou algumas das experiências vividas na jornada. O uniforme impecável da tripulação com camisetas azuis com os nomes dos patrocinadores mostram a organização que é necessária para quem é capaz de percorrer o mundo em um veleiro. Um contraste com a simplicidade dos pés descalços, que voltam a tocar o chão após navegar por um sonho.
Na Expedição Oriente, familiares e tripulantes liderados pelo casal Vilfredo e Heloisa Schurmann percorreram o trajeto que teria sido feito por chineses no início do século XV, antes das principais navegações europeias eternizadas nos livros de história. E foi da China que vieram algumas das lembranças que ficarão igualmente marcadas na memória até mesmo de quem já correu o mundo três vezes.
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? Quando chegamos a Xangai (o barco Kat foi o primeiro veleiro brasileiro a atracar no porto local, o maior do mundo), parecia uma autoestrada, mais de mil navios um do lado do outro. Saímos para descobrir a China e fiquei encantada por ver uma China moderna, mas com tradições, mantendo sua cultura ? contou Heloisa na chegada a Itajaí.
Da força das ondas ao calor do vulcão
A viagem reforçou em Vilfredo a convicção de que os chineses de fato têm uma história de pioneirismo nas navegações ? embora ele ressalte que o objetivo da missão não fosse científico. Mas muitas histórias também vieram pelo caminho até o Oriente. Uma delas foi a aventura no Cabo Horn, no Chile, um clássico desafio para navegadores, onde ondas de até sete metros desafiaram a força da tripulação e do veleiro.
Entre as outras experiências que mais marcaram o capitão estão um mergulho a poucos metros de um filhote de baleia na ilha de Moorea, na Polinésia Francesa, e uma caminhada ao lado de pesquisadores sobre um vulcão em plena erupção na Ilha Reunião, no Oceano Índico.
? As pedrinhas batiam no capacete. Chegamos a cinco metros das lavas, que tinham temperatura de 1.100 graus. As botas cheiravam a pneu queimado. Isso que é uma viagem! ? entusiasma-se Vilfredo, com o vigor de quem poderia embarcar para uma nova missão amanhã – mas que ainda não revela os planos da próxima jornada.
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Nos agradecimentos, a família lembrou de autoridades, patrocinadores, mas de uma pessoa especial, que ficou mais conhecida no último mês com o lançamento do filme Pequeno Segredo: a filha Kat Schurmann, que morreu em 2006, aos 14 anos, por complicações do vírus HIV. Ela dá nome à embarcação estreada na Experdição Oriente, mas segundo a mãe Heloisa teve uma participação muito mais intensa em todo o percurso.
? Tivemos uma estrela-guia, a mais brilhante, que era a Kat. Com ela fomos guiados para essa viagem ? contou, antes de ser interrompida pelas palmas.
Chegada atraiu entusiastas da navegação
A chegada da Família Schurmann atraiu um grande público à Marina Itajaí. Muitos dos espectadores eram entusiastas da navegação que queriam participar do momento marcante. O analista de sistemas Marcos Carrard, 48 anos, saiu de Itapema com a esposa e os dois filhos para testemunhar a volta para casa dos desbravadores.
? Acompanhei pela internet os relatos de toda a expedição e hoje fiz questão de ver a chegada, foi muito bonito ? conta, citando os mergulhos na Indonésia e a chegada à China como capítulos favoritos entre os que acompanhou no diário de bordo dos Schurmann.
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O gestor de Logística Fabrício Izidoro, 32 anos, percorreu os cerca de 100 quilômetros entre São Francisco do Sul e Itajaí para dar as boas-vindas aos viajantes. Ao lado da esposa Camila e da mãe Maria Cristina, ele estendeu uma bandeira do Brasil para demonstrar o carinho na recepção aos tripulantes.
? Gosto muito de navegação e sempre acompanho as expedições deles. Os lugares por onde eles passaram desta vez, como a Antártida, onde há muita dificuldade de navegação, e a Ilha de Páscoa, foram demais ? relembra.