O pesadelo que o casal Samuel Padilha Soares e Cristiane Cabral Monteiro vive pela segunda vez em dois meses reflete o desespero de moradores da vila Asa Branca, na zona norte de Porto Alegre.

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Após mais uma enxurrada levar os móveis recém renovados e a esperança de alguma mudança no horizonte, o jovem casal não sabe o que prometer aos filhos Pablo, seis anos, e Pierre, cinco meses.

Isso porque dessa vez foi Pablo quem deu o alerta de que a água ameaçava novamente a casa de cozinha, banheiro, sala e dois quartos em que vivem, na Rua Farroupilha. O menino levantou às 7h para assistir televisão, mas, pela janela, avistou o pátio já alagado. Só deu tempo de os quatro deixaram a residência com a água já na altura dos joelhos.

– Ele correu para nos acordar: “Mãe, tô apavorado. Tá tudo cheio d’água”. Corremos para levantar os móveis. Não imaginávamos que ia acontecer de novo – conta Samuel, 25 anos.

O rompimento do dique que represa o Rio Gravataí, no final de agosto, tinha causado a perda de boa parte dos móveis da família. A enxurrada de segunda-feira veio quando eles haviam acabado de se reerguer do primeiro baque.

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– O Pablo já se apavorou porque estava traumatizado da primeira vez. Vê o nosso sofrimento, entende que a gente trabalha para dar as coisas para ele. E viu os brinquedos e a cama indo embora, de novo – lamenta o pai.

O que os Soares não receberam de doação da primeira enchente foi possível comprar graças a uma rescisão de trabalho que Cristiane ganhou. Dois armários recém comprados ainda estão sendo pagos, e provavelmente ficarão inutilizáveis.

Conforme o casal, uma equipe da prefeitura apareceu após a chuvarada de agosto, fez o levantamento do local, prometeu empréstimos com juros menores, mas pouco ou quase nada foi feito. O valão que passa ali não foi limpo e o acesso é difícil, a ponto de as famílias acreditarem que foram abandonadas pelo poder público.

– É um verdadeiro desespero. Ainda estou em estado de choque. Tentamos dar o máximo de conforto para os filhos, mas agora não sei o que fazer. Demoramos um mês para deitar na cama e pensar que estava tudo resolvido. E acontece tudo de novo – conta a agora dona de casa de 27 anos.

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Agora o desafio é tocar a vida apenas com o salário de vigilante que Samuel recebe. Abrigados na casa da irmã dele – porque a água não baixou totalmente -, o casal já admite abandonar a vila. Segundo Samuel, o Departamento Municipal de Habitação (Demhab) deveria entregar casas novas a algumas famílias ali perto. A rua está pronta, pavimentada, mas nenhuma parede foi erguida até agora.

– Tenho um bebê de cinco meses para criar. O que ele (Samuel) ganha é para sobreviver. Como recuperar tudo de novo? – questiona Cristiane.

Segundo a assessoria de imprensa do Demhab, uma empresa já está selecionada para construir 109 casas na vila Asa Branca. No entanto, o projeto aguarda homologação da Caixa para dar início às obras. A expectativa é de que em 2014 as novas residências estejam entregues.

Veja fotos dos transtornos em Porto Alegre: