Esperta e linda, com cabelos ondulados e pele morena. A descrição, feita pela irmã, é de Naiara Gonçalves da Silva, nove anos. Aluna do Colégio Pedro Rizzi, no Bairro Cidade Nova, em Itajaí, ela dividia o tempo entre o estudo e as brincadeiras com o sobrinho Thiago Tavares, de nove meses, que começava a engatinhar. Gostava tanto do bebê, que dizia querer ser sua mãe. Na madrugada de quarta-feira, os dois morreriam juntos enquanto dormiam, vítimas de um incêndio.

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As chamas, que se alastraram rapidamente, deixaram para trás um rastro de destruição e de dor. No terreno tomado pelas cinzas, ontem de manhã, um solitário gato, sentado no que sobrou de um sofá, era o único sopro de vida na casa. A pequena moradia de madeira foi construída há quatro meses por um projeto social depois que a primeira casa também queimou, em setembro do ano passado.

Uma sombra também pairava sobre a Rua Palmir Francisco Dias, onde viviam as crianças. Encostados nos portões, falando em voz baixa, vizinhos tentavam entender o que aconteceu.

– Tudo queimou em uma questão de segundos. Também sou pai de um menino e uma menina, e é muito triste ver isso. Chorei a madrugada toda – diz Felipe de Oliveira, que vive em frente à casa onde ocorreu o incêndio e correu para tentar ajudar a família assim que percebeu as chamas.

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Na residência viviam cinco pessoas – três delas, crianças. Quando as chamas começaram, somente a mãe de Thiago, uma adolescente de 14 anos, não estava em casa.

Na parte de trás do terreno, em uma edícula, Vânia Gonçalves, 31 anos, foi a primeira a perceber o incêndio. Mãe de Naiara e avó de Thiago, ela correu para tentar salvar a família. Conseguiu tirar, ainda com vida, a filha mais nova, de três anos, e a mãe, de 67, que cuidava das crianças. Para Naiara e Thiago, já era tarde demais.

Socorro

– Quando chegamos não havia mais condições de fazer buscas, porque o imóvel estava completamente tomado pelas chamas – diz o sargento Francisco Ferreira, do Corpo de Bombeiros de Itajaí.

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O incêndio foi combatido e Naiara e Thiago encontrados em dois quartos, na parte da frente da casa. Os corpos foram recolhidos e enterrados na quarta-feira, no Cemitério da Fazenda – mas sem a presença de Vânia. Vítima de queimaduras de segundo e terceiro graus ao tentar salvar a família, ela está internada em estado grave no Hospital Marieta Konder, em Itajaí. Ela passou por uma cirurgia.

– Ela sempre foi uma boa mãe, carregava os filhos quando saía para trabalhar. Na rua todo mundo gostava deles, é inacreditável que isso tenha acontecido – disse Acácia do Nascimento, vizinha da família. (Colaborou Marjorie Basso)

Vela pode ter causado o incêndio

Fotos e amostras do material que sobrou da casa após o incêndio foram recolhidos pelo Instituto Geral de Perícias (IGP). Análises serão feitas, nos próximos dias, para identificar onde iniciaram as chamas e como elas se propagaram pela moradia. O resultado não tem data para ser divulgado.

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Um relatório também será feito pelos bombeiros, que foram os primeiros a chegar ao local do incêndio. De acordo com o primeiro levantamento, a hipótese mais provável é que o fogo tenha sido causado por uma vela, que era usada para iluminar a moradia, já que a casa onde a família vivia ainda não tinha instalação elétrica.

Não foi levantada, por enquanto, a possibilidade de o incêndio ter sido criminoso. Mas a Polícia Civil registrou o caso e vai instaurar um inquérito ainda nesta quinta-feira para apurar as circunstâncias em que iniciaram as chamas.

Diretor da Celesc em Itajaí, Omar Bernardino Rebello disse não saber o motivo pelo qual a casa não era coberta pela rede elétrica.

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Previna incêndios

– Não deixe crianças sozinhas ou na companhia de pessoas incapacitadas, que não possam ajudá-las em caso de emergência

– Evite deixar velas acesas. Somente o calor da parafina já pode provocar um incêndio

– Instalações elétricas devem ser feitas por pessoa capacitada

– Mantenha o recipiente do botijão a gás no lado de fora de casa. Verifique a validade da mangueira, e se é regularizada pelo Inmetro

– Quem mora em prédios deve conferir se a instalação de gás foi verificada pelos bombeiros

– Crianças não devem ficar próximas do fogão, ou fazer brincadeiras com fogo

– Em edifícios, verifique se há central de detectores de fumaça