Ouvir a história do casal João Rosário e Maria de Lurdes é ter vontade de dar um abraço para confortá-los. É muita pancada em tão pouco tempo. É coincidência triste demais. João e Maria perderam dois filhos em acidentes na mesma rodovia, a SC-301, em uma distância de 30 quilômetros um do outro.

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O primeiro, Joilson, no dia sete de junho. O segundo, Joãozinho, quinta-feira. Na casa simples onde moram em Campo Alegre, funciona também a mercearia da família. Fechada, tinha uma fita preta pendurada na porta.

Dentro, João e Maria perguntavam se era possível recomeçar pela segunda vez. Por mais aconchegantes que sejam os abraços de todos que estavam lá, todo mundo sabe que não vai ser nada fácil.

– Quando eu pedia para andar devagar… Tinha que andar devagar -, dizia o pai, de 59 anos.

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– Qualquer um queria tê-los em casa -, repetia a mãe, de 53.

Berninho foi o primeiro

Pouca gente chamava Joilson Rosário Rocha pelo nome. Apaixonado por cavalos, era o Berninho da turma. Casou com Patrícia há menos de quatro anos, e no final do ano passado comprou um caminhão novinho para trabalhar.

No feriado de Corpus Christi, foi com amigos até uma festa de tradições gaúchas em São Bento do Sul. Na volta para casa, o carro que dirigia capotou. Berninho morreu aos 26 anos. O dia sete de junho mal tinha amanhecido quando Joãozinho acordou os pais. Pediu calma e força aos dois antes de dar a notícia.

Perder um filho machuca. É dor que não vai embora. Ou se acostuma com ela ou não se vive. E João e Maria têm outros filhos. Por eles, tinham de seguir em frente. Joãozinho também era caminhoneiro. Viajava o Brasil inteiro, ligava todos os dias, ajudava na mercearia quando estava em casa e sempre deixava um dinheirinho para as contas. É Maria quem lembra disso tudo.

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A saudade do irmão

Três dias depois do acidente com o irmão, João Odracir Rosário Rocha, 36 anos, chamou a mãe para uma conversa. Falou sobre um sonho com Berninho e Silvana, uma outra filha do casal que morreu há mais de 20 anos ainda criança.

– Ele me chamou e disse que os dois apareceram em um sonho. O Joãozinho falou: ?Meus irmãos pediram para eu cuidar de vocês porque logo eles vêm me buscar.

Joãozinho e Berninho eram caminhoneiros conhecidos em Campo Alegre. Costumavam desejar sorte um ao outro antes de encarar a estrada, conta o pai.

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– Eles se amavam, viviam juntos, faziam tudo juntos -, diz a mãe.

E Joãozinho estava com saudade do irmão. Sempre que ligava para casa, falava em largar tudo. Viajar estava difícil demais. Há poucos dias, fez um seguro de vida. Chegou em casa e entregou os papéis para Maria de Lurdes.

– Ele deixou tudo na mesa e disse: ?Guarda, se acontecer algo, vocês têm tudo?.

Era mesmo o Joãozinho

Joãozinho voltou de Brasília na madrugada de terça-feira. Passou o dia brincando com o irmão menor, Manuel Francisco, de 12 anos. “Eles estavam fazendo briguinhas com a coberta no sofá”, lembra a mãe. Em outubro, ele estaria de férias e queria levar os pais para conhecer a cidade de Aparecida, em São Paulo.

Ontem, Joãozinho acordou bem cedo, perto das 5 horas. Pegou o carro que comprou há 30 dias. Iria até Joinville fazer um curso que a empresa exigia.

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João Rosário e Maria de Lurdes não escutaram o rádio pela manhã porque assistiram à missa pela TV. Logo depois, o pai foi até um posto de gasolina perto de onde moram. Lá, soube de um acidente. O motorista havia morrido. As pessoas falavam que ouviram no rádio. “Perguntaram se eu conhecia algum João Odracir. Fiquei confuso. Pedi que olhassem o nome direito. Aí falaram: ?João Odracir Rosário Rocha?. Ai meu Deus, é o meu piá.”

É difícil, mas pelos filhos Joacir, Manuel, Geovana e Gislaine, João e Maria vão recomeçar.

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